Uma análise do livro: A condição pós moderna de David Harvey

A pós-modernidade se apresenta como uma ruptura com as certezas da modernidade, trazendo à tona a fragmentação das identidades, a fluidez das relações sociais e a efemeridade das interações humanas.  Quando digo que a pós -modernidade rompe com as certezas, quero dizer que é uma reação à modernidade, questionando suas certezas e trazendo a ideia de que não há uma verdade absoluta ou um caminho único para o progresso. Ela celebra a diversidade, a pluralidade de experiências e a liberdade de viver em um mundo mais “liberal”. Esses aspectos  são discutidos e apresentados por David Harvey em sua obra O Mundo Pós-Moderno (2007), na qual o autor analisa o impacto das transformações econômicas e culturais no cotidiano contemporâneo. Meu intuito com este artigo é  ter como objetivo realizar uma análise crítica das ideias de Harvey, correlacionando-as com as relações contemporâneas, marcadas pela pluralidade, pela transitoriedade e pela influência da tecnologia digital.

David Harvey (2007) caracteriza a pós-modernidade como um período de “compressão espaço-tempo”, onde o avanço tecnológico e a globalização encurtam distâncias e aceleram o ritmo de vida. Para o autor, a modernidade baseava-se em grandes narrativas que buscavam dar sentido ao mundo e garantir certa estabilidade às interações sociais. Contudo, com o advento da pós-modernidade, essas narrativas perderam força, dando lugar a uma pluralidade de perspectivas, o que, de acordo com Harvey (2007), gera uma fragmentação nas identidades e nas relações sociais.

A fragmentação pode ser observada em diversas áreas da vida contemporânea. Nas interações interpessoais, por exemplo, a identidade não é mais vista como um elemento estável e imutável, mas como algo fluido e constantemente renegociado. Essa pluralidade de identidades reflete a complexidade do contexto globalizado, onde culturas e valores se misturam de maneira contínua (HARVEY, 2007). O impacto dessa fragmentação nas relações contemporâneas é evidente, uma vez que as pessoas transitam entre diferentes papéis sociais e apresentam múltiplas versões de si mesmas, conforme o contexto e a plataforma social em que estão inseridas.

Essa fragmentação que caracteriza a pós-modernidade também afeta diretamente as relações sociais. Enquanto, na modernidade, as interações eram mais estáveis e ancoradas em instituições sólidas, como a família, o trabalho e a religião, na pós-modernidade essas instituições perdem parte de sua centralidade. As relações contemporâneas se tornam mais transitórias e menos dependentes de compromissos a longo prazo, um fenômeno que pode ser observado nas dinâmicas familiares e laborais.(HARVEY, 2007).

No contexto das relações familiares, a estrutura tradicional da família nuclear, defendida por muitos como o pilar da sociedade moderna, é desafiada por novas configurações familiares, como famílias monoparentais e casais homoafetivos. Harvey (2007) afirma que essa pluralidade é uma consequência direta da fragmentação pós-moderna, que permite o florescimento de novas formas de convivência social. Além disso, no ambiente de trabalho, a flexibilidade e a informalidade predominam, refletindo o modelo da “gig economy”, no qual as relações de emprego se tornam mais instáveis e fluídas (HARVEY, 2007).

Outro aspecto importante destacado por Harvey (2007) é a aceleração do tempo, impulsionada pelo avanço das tecnologias digitais e pelas demandas do capitalismo tardio. Na pós-modernidade, as interações sociais são marcadas pela efemeridade, onde os laços entre as pessoas se formam e se dissolvem rapidamente. Esse fenômeno pode ser observado nas relações interpessoais mediadas pela tecnologia, onde plataformas digitais, como redes sociais e aplicativos de namoro, facilitam o estabelecimento de conexões rápidas, porém muitas vezes superficiais.

Harvey (2007) aponta que essa aceleração contribui para a superficialidade das relações contemporâneas, pois as interações humanas se tornam breves e desprovidas de profundidade emocional. Nas redes sociais, por exemplo, os indivíduos são incentivados a manter múltiplas conexões, mas essas conexões carecem de compromisso e continuidade, refletindo a natureza fragmentada e fugaz da pós-modernidade.

A mediação tecnológica nas interações sociais é um dos principais fatores que contribuem para a fragmentação e efemeridade das relações humanas, de acordo com Harvey (2007). A tecnologia digital, embora facilite a comunicação entre indivíduos em diferentes partes do mundo, também cria novas formas de alienação e distanciamento. As interações virtuais, apesar de rápidas e eficientes, muitas vezes não substituem a profundidade das relações face a face, resultando em um tipo de conexão desprovida de empatia e intimidade (HARVEY, 2007).

Harvey (2007) também destaca que a tecnologia reflete as lógicas do capitalismo tardio, onde o consumo rápido de informações e a busca por validação social se tornam centrais para as interações humanas. As plataformas digitais moldam as interações de acordo com essas lógicas, resultando em uma cultura de superficialidade e imediatismo nas conexões interpessoais. Assim, as relações contemporâneas são profundamente influenciadas pela tecnologia, mas também sofrem com a falta de profundidade e compromisso a longo prazo.

REFERÊNCIA

HARVEY, David. O Mundo Pós-Moderno: Condições Sociais, Culturais e Econômicas no Capitalismo Avançado. São Paulo: Loyola, 2007.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.