A arte de perdoar

O perdão como fonte de sabedoria, humildade e grandeza, é o resultado do tema trabalhado pelo autor Maurício Zágari: Perdão Total – Um livro para quem não se perdoa e para quem não consegue perdoar – Editora Mundo Cristão, 192 páginas.

O livro trata que, além do desgaste espiritual, a falta de perdão pode acarretar até mesmo prejuízos à saúde física. Segundo uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia, em San Diego, pessoas que deixam a raiva de lado são menos propensas a sofrer mudanças na pressão arterial. A pesquisa publicada no Journal of Biobehavioural Medicines sugeriu que o perdão poderia ter menor reatividade a eventos estressantes e menos impacto físico.

O tema perdão é tão debatido, mesmo assim, até hoje é alvo de negação por grande parte da humanidade. Ao longo do livro, o autor fala sobre a dificuldade do ser humano, não apenas de perdoar ao próximo, mas de perdoar a si mesmo. Zágari analisa ainda, casos de pessoas que se arrependeram do erro, mas ainda se sentem perseguidas pelas falhas do passado. E ainda anima quem acha que cometeu algum erro que não pode ser perdoado por alguém.

Maurício Zágari. Foto: Acervo Pessoal

O (En)Cena, entrevistou o autor Maurício Zágari, jornalista e teólogo. Ele recebeu os Prêmios Areté de “Autor Revelação do Ano” e de “Melhor Livro de Ficção/Romance” pelo livro O Enigma da Bíblia de Gutemberg. É autor também dos livros A Verdadeira Vitória do Cristão, 7 Enigmas e um Tesouro e O Mistério de Cruz das Almas, pela Editora Mundo Cristão. Escreve regularmente no blog Apenas (http://apenas1.wordpress.com). Membro da Igreja Cristã Nova Vida em Copacabana-Rio de Janeiro, RJ.

En(Cena) – Por que o senhor resolveu escrever sobre o perdão?

Maurício Zágari – O livro surgiu da percepção de que as pessoas têm vivido muito pouco o perdão. E isso ocorre justamente pela carência de conhecimento sobre o que a falta de perdão pode gerar de mal e do que o perdão pode gerar de bom. A falta de perdão é um câncer, que corrói a alma, as emoções e influencia até a saúde física. Porém, as pessoas não estão se dando conta disso. Diante desse quadro, “Perdão Total” nasceu com o objetivo de tentar conduzir o leitor a entender a dinâmica bíblica de erro-perdão-restauração, mostrando os males da falta de perdão e expondo que perdoar é um caminho para viver uma vida feliz, pacífica, alegre e graciosa.

En(Cena) – Os fundamentos do perdão encontram-se somente na Bíblia ou outros escritos de civilizações mais antigas pregam o perdão?

Maurício Zágari – O perdão como é concebido pelo cristianismo não encontra paralelo em nenhuma outra civilização, que é o conceito de “perdoar setenta vezes sete”, ou seja,  infinitamente, segundo a cultura da época. Mesmo entre o povo hebreu, de onde veio o fundador do cristianismo, Jesus, o conceito de perdão era diferente, com base na lei mosaica registrada na Torá. No judaísmo de 1.500 antes de Cristo exigia-se sacrifícios e atitudes propiciatórias. O cristianismo é a única visão filosófico-religiosa da história que considera um perdão concedido não por mérito próprio, mas como fruto da ação graciosa do ente divino, isto é, entregue como um presente imerecido, uma dádiva.

En(Cena) – A falta do perdão sendo até prejudicial a saúde, de que forma isso pode afetar, e que área da saúde o ser humano pode sofrer prejuízos?

Maurício Zágari – Não perdoar quem nos fez mal gera ressentimento. Não perdoar a si mesmo gera culpa. Ressentimento e culpa promovem um estado emocional sobrecarregado, propício para o desenvolvimento de doenças psicossomáticas. É fácil imaginar que uma pessoa sobrecarregada, por exemplo, pela culpa possa ter crises de ansiedade e até picos de pressão alta gerados por seu estado emocional.

En(Cena) – Precisa-se perdoar diversas vezes com a intenção de aprender a perdoar ou o perdão não é considerado treinamento?

Maurício Zágari – Embora o conceito de perdão possa ser ensinado a uma criança (como quando ensinamos nossos filhos a desculpar o coleguinha que o mordeu na creche), a prática certamente torna mais fácil. Ou seja: a decisão de perdoar nos ensina de modo pragmático o caminho das pedras para perdoar novamente em um evento futuro.

En(Cena) – Quando uma pessoa perdoa o próximo e não consegue se aproximar do perdoado como antes, isso é um perdão consumado?

Maurício Zágari – Sim. Há um duplo aspecto do perdão: o interior e o exterior. Se um assassino mata um parente meu, posso perdoá-lo em meu coração, isto é, cancelando uma dívida pessoal dele comigo, mas isso não eximirá o homicida de cumprir pena como consequência pragmática e externa de seus atos. Outro exemplo: se um vizinho molesta sexualmente uma criança da minha família, posso perdoá-lo, mas não quer dizer que vou voltar a deixá-lo trancado em um quarto novamente com a criança.

En(Cena) – O perdão deve ser dirigido pessoalmente ou pode ser somente em oração espiritual?

Maurício Zágari – Pode ser a partir de uma mera disposição interior, sem que seja necessário um contato pessoal. Há casos em que, por exemplo, é preciso perdoar uma pessoa que já morreu. O ofendido pode perdoar em seu coração a ofensa sofrida, mas não tem como fazê-lo pessoalmente, por motivos óbvios. É válido, pois perdoar faz muito bem a quem perdoa.

En(Cena) – O que é primordial para uma sociedade viver em harmonia, amar ou perdoar ao próximo?

Maurício Zágari – Amor verdadeiro pressupõe a capacidade de perdoar. Assim, esses dois conceitos são indissociáveis. A sociedade harmônica pressupõe um amor que se exprime, entre outras maneiras, no perdão.

Maurício Zágari. Foto: Acervo Pessoal

En(Cena) – A pessoa que não aceita perdoar, pode prejudicar o arrependido?

Maurício Zágari – Faz bem ouvir de alguém que ofendemos que ele nos perdoa. Mas, se pedimos perdão e não o recebemos, fizemos nossa parte. Nesse caso, não há prejuízo, se existe esse entendimento.

En(Cena) – Essa dificuldade de perdoar, é uma característica secular do ser humano, existe uma explicação espiritual?

Maurício Zágari – Se você considera o conceito da religião judaico-cristã, entende-se que a falta de disposição de perdoar vem da maldade que entrou na humanidade desde sua origem. Em termos teológicos, é culpa do pecado inerente a todos nós.

En(Cena) – Qual a história de perdão que o senhor mais se emocionou?

Maurício Zágari – Quando eu fui perdoado por uma pessoa muito querida por ter errado com ela. Ofendi essa pessoa e ela me perdoou. Então sei pessoalmente o que isso significa.

En(Cena) – Que mensagem o senhor passaria para o leitor que encontra-se em dificuldade para o perdão?

Maurício Zágari – Pense em quanto você é imperfeito e erra. Traga à memória quantas pessoas você mesmo já ofendeu. Se fizer esse exercício, perceberá que ninguém é melhor do que ninguém e que você não perdoar é assumir uma postura de soberba que não vai levá-lo a lugar algum. Já se perdoar estará sendo magnânimo e, portanto, um ser humano melhor.

 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

PERDÃO TOTAL

Editora Mundo Cristão
Autor:
 Maurício Zagari
ISBN: 978-85-433-0036-8
Páginas: 192

Preço: R$ 19,90?