Arterapia como ferramenta de expressão das emoções e experiências

Por Andréa Nobre de Carvalho Koelln – psiandreanobre@gmail.com

(En)Cena entrevista a Professora de Artes, Renata Carvalho, 60 anos, bacharel em Direito, professora de artes, de duas escolas em São Luís, Maranhão. No contexto profissional, Renata atua como professora de alunos do Ensino Médio, com ênfase em expressões artísticas para manifestar sentimentos e emoções.

Todos nós precisamos nos expressar, e a arte é um meio de expressão. Na psicoterapia usamos a conversa, o diálogo. Na arterapia temos a possibilidade de abordar o problema através da argila, da pintura, do tecido… Cuidar de alguém usando a arte tem efeitos terapêuticos, pois envolve prazer, concentração e relaxamento, e a pessoa é estimulada a pensar através de materiais. Mosaicos, argila, pintura, colagens, tintas, gessos, tecidos, música, escrita. É um horizonte de grande possibilidade de expressão das suas atitudes, emoções, crenças, valores e sofrimento.

A Arteterapia propicia escutar a dor do outro e encontrar formas de lidar com ela. Em 1920, Jung

“[…] foi o primeiro a fazer uso da expressão artística em consultório. Para ele, a simbolização do inconsciente individual e do coletivo se manifestava na arte. Nesse sentido, ele recorreu a linguagem expressiva como forma de tratamento, pedindo aos clientes que desenhassem livremente seus sonhos, sentimentos, conflitos, etc.” (Cunha et al., 2017, p. 447).

No Brasil, a psiquiatra Nise da Silveira inovou no tratamento em um Hospital Psiquiátrico com o uso da Arteterapia com os pacientes esquizofrênicos. Há três abordagens principais para este tipo de terapia: a analítica, junguiana, gestáltica. Do ponto de vista junguiano o ser é visto como criativo e capaz de criar e ser autor da própria história. Ao mesmo tempo em que a pessoa está criando, colorindo, transformando, isso também está sendo trabalhado na sua psiquê e consequentemente no seu comportamento.

Furth (2004) acredita  que,  tanto  na  arte  quanto  na Arteterapia, os  conteúdos  do  inconsciente  são  registrados  pela  produção simbólica  (imagens),  pelas formas, diversidade de  cor,  formas,  movimentos,  ocupação  no  suporte  e padrões   expressivos   gerais,   elementos  que   compõem   o   processo   de transformação  e  obtêm  consistência  a  partir  da  criação  plástica. Sendo assim,  as imagens  produzidas  pelos  indivíduos  ajudam na  compreensão  da  atividade psíquica deles.

Em 1969, fundou-se a AATA – Associação de Arteterapia Americana, que ARTE e TERAPIA se fundem numa única palavra, trazendo no seu escopo o conceito de tratamento psicológico pela arte. É válido lembrar que a arteterapia sozinha não substitui o acompanhamento profissional com um psicólogo ou psiquiatra, mas é uma terapia complementar de grande importância para muitas pessoas.

(En) Cena: Renata, quem é o arterapeuta e o que ele precisa dominar?

Todo profissional graduado em qualquer área, pois a arteterapia é um método onde se utiliza atividades artísticas que irão favorecer a concentração, estimular respostas emotivas, essenciais para o bem estar físico e mental do aluno – no meu caso, como educadora de arte. Para tanto é necessário que o profissional tenha habilidades artísticas ou técnicas nas diversas linguagens da arte para atuar na melhora da qualidade de vida do aluno e deixar fluir os sentimentos por meio da arte.

(En) Cena: Quem pode se beneficiar da arteterapia?

Qualquer pessoa, de qualquer idade, que esteja vivenciando situações de estresse, angústia, dificuldades de atenção, depressão, traumas, problemas de sexualidade, dentre outros.

(En) Cena: Quais são os campos de atuação da Arteterapia?

A arteterapia possui várias modalidades como a pintura (coloração ou cromoterapia), escultura, desenho, dança, música, colagem, expressão teatral, história oral, dentre outras.

(En) Cena: Quais são as vantagens da arteterapia?

Como uma intervenção ajuda as pessoas a melhorar o foco das atividades, melhora o conhecimento sobre si mesmo, ajuda na expressão dos sentimentos e emoções, alivia o estresse e melhora a expressão verbal dos indivíduos.

(En) Cena: Nesses mais de 20 anos de experiência, você chegou a ver o impacto da arteterapia na vida de algum aluno ou pessoa? Se sim, como foi?

Sim, em uma atividade de desenho sobre a família, a aluna evidenciou que estava sofrendo assédio sexual do próprio pai, levei o caso ao juizado de menor e os pais perderam a guarda da filha e tudo ficou bem para a aluna.

(En) Cena: De que forma esta terapia alternativa pode ser utilizada no controle da ansiedade e estresse?

Nas aulas de arte, utilizo a coloração de flores, paisagens e florestas, no desenvolver da pintura percebe-se o estresse do aluno quando eles não conseguem pintar nem uma folha e a ansiedade quando os alunos não atentam para os detalhes do desenho e pintam tudo com uma cor só. Somente com a repetição das mesmas atividades é que eles vão se acalmando e entendendo o benefício que a atividade traz para o auxílio na regulação das emoções.

(En) Cena: Para a nossa sociedade atual que vive uma epidemia de ansiedade, em que andamos sempre apressados, qual técnica expressiva de arteterapia você indicaria?

Todas as técnicas são bem vindas, mas por experiência própria indica a coloração ou produção de mandalas. Elas produzem momentos de relaxamento, reflexão, além de muita serenidade e criatividade. Seus benefícios são espetaculares porque desenvolve e eleva a dimensão da espiritualidade dos indivíduos.

A configuração de mandala harmoniosa, dentro de um molde rigoroso, denota intensa mobilização de forças auto curativas para compensar a desordem interna. Nise da Silveira, em Museu de Imagens do Inconsciente (1981).

Foto: Acervo Pessoal – Produção Autoral

A mandala tem uma dupla finalidade, o de conservar a ordem psíquica, se ela já existe; ou de restabelecê-la, se desapareceu. Nesse último caso, incentiva a criação do ser humano (JUNG,2005).

(En) Cena: Após concluir o trabalho, ele é guardado, ou a pessoa é convidada a falar sobre o que fez? Como se dá a análise do que foi feito?

O aluno é convidado a falar sobre o que significou para ele produzir aquela atividade. Depois da análise os trabalhos são guardados em uma pasta e devolvidos no final do ano letivo. Em relação à análise, eles, geralmente começam a expressar seus sentimentos ainda de forma bem tímida. Quando os problemas são mais complexos, eles preferem falar individualmente. Dependendo da gravidade do caso, encaminho para a coordenação da Escola que auxilia na intervenção dos problemas que, muitas vezes é o que está interferindo na aprendizagem do aluno.

Lamentavelmente o uso e ensino da arte nas escolas tem sido tolhido por vários fatores. Dentre eles o pouco interesse em estimular o pensamento criativo do aluno, que estabelece limites muito aquém das possibilidades do aluno, que enfatiza de forma exagerada a reprodução e memorização do conhecimento e que desconsidera a imaginação e a fantasia como dimensões importantes a serem melhor exploradas.

No entanto, é válido afirmar que as terapias alternativas apresentam inúmeras possibilidades para exercitar e fazer fluir a criatividade e também importante para promoção da saúde mental e prevenção de desordens mentais que atormentam os alunos de hoje.

Foto: Acervo Pessoal – Produção Autoral

Referências

 

FURTH, G. M. O mundo secreto dos desenhos: uma abordagem junguiana da cura pela arte. São Paulo: Paulus, 2004.

O QUE É ARTETERAPIA? | QUEM PODE SER ARTETERAPEUTA? | TRANSIÇÃO DE CARREIRA?