O (En)Cena entrevista a acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Glaucilene Santana, 53 anos, casada, mãe de três filhos, moradora de Palmas, aposentada, formada em Serviço Social pela PUC-GO. Trabalhou como Assistente Social por 22 anos em diversos espaços sócio ocupacionais. Tem especialização em Política Social e Serviço Social; Administração e Planejamento de Projetos Sociais; Prevenção e Tratamento ao Uso de Substâncias Psicoativas e Saúde Mental. Está na Reserva pela PM-TO desde 2015 e atualmente é estudante de psicologia.
Confira este e outros detalhes na entrevista abaixo.
EnCena – O que te motiva a fazer psicologia já em uma fase mais amadurecida da vida?
Sempre gostei de estar em contato com o conhecimento e em espaços de aprendizagem. Agora nessa fase da vida com maior tranquilidade, os filhos já crescidos e eu aposentada, veio àquela famosa crise da meia idade e as interrogações sobre o que eu desejava fazer com a minha vida. Foi aí que recebi o convite de umas amigas (também 50+) para cursarmos Psicologia. Voltar agora para o meio acadêmico? na hora bateu aquele frio na barriga, mas ao mesmo tempo um grande entusiasmo foi gerado diante da possibilidade de um recomeço. Fui motivada pela possibilidade do recomeço. Afinal, nunca é tarde para recomeçar. Isso faz parte da nossa caminhada pessoal. Começar algo novo é desafiador e assusta, porque não sabemos o que vamos encontrar e isso exige de nós motivação e comprometimento.
Qual a área de atuação você pretende focar depois da formação?
Não tenho grandes pretensões, mas gostaria de poder colocar meus novos conhecimentos a serviço do coletivo, principalmente em algum projeto social.
Qual dica você deixa para quem pretende cursar psicologia?
O curso é bastante teórico, uma vez que precisamos entender as diversas abordagens da atuação na clínica, bem como os variados espaços de atuação de um psicólogo, que vai desde empresas privadas, instituições sociais, órgãos governamentais, com políticas públicas e diversos segmentos e demandas entre outros. Ainda há as oportunidades de vivências práticas que o curso oferece, exigindo o desafio da atuação profissional, ainda como estudantes. Isso requer bastante leitura e compromisso.
Que aspectos internos foram mobilizados em sua vida a partir do curso?
A psicologia é uma ciência que dispõe de um conjunto de técnicas e de conhecimentos que nos possibilita compreender sobre o comportamento humano, entendendo o sujeito a partir de seu mundo interno, sua subjetividade, inquietações, vivências, angústias, alegrias, etc. Ao estudar sobre essas questões, não tem como não ser atravessado pela possibilidade de conhecer a si mesmo e entender algumas questões pessoais, ou de ser despertado para ir em busca do seu processo de autoconhecimento como algo que pode lhe transformar completamente. Não tem como não ser tocado diante de tantos conhecimentos profundos que temos acesso. Estudar Psicologia motiva a deixar de lado as ansiedades e as expectativas e abrir-se para as possibilidades. Ajuda a entender que é preciso sair das aparências para viver a essência e aceitar o que si é, abraçar sua vulnerabilidade, sua humanidade: ser humano dotado de luz e sombra.
Como é a experiência de conviver no curso com pessoas de diferentes idades e perspectivas?
Na verdade tive uma grata surpresa com relação a essa questão da diferença de idade. Encontrei muitos jovens, mas me surpreendi com o grande número de pessoas mais maduras fazendo a segunda ou terceira graduação. É muito interessante essa interação com os mais jovens e também a diversidade de perspectivas. Não podia ser diferente, não é?
Quais os maiores desafios enfrentados na pandemia relacionada à formação acadêmica?
Sabemos que nada substitui a interação que ocorre numa sala de aula presencial. No entanto, passei um ano estudando com o ensino de forma remota no inicio do curso e com disciplinas mais teóricas, confesso que não tive nenhum problema com relação ao processo de ensino aprendizagem. Havia um interesse nos conteúdos ofertados pelas disciplinas e pouca diferença fez serem aulas remotas.
Qual mensagem você deixa para os nossos leitores?
James Hollis nos lembra que no meio da vida todos nós precisamos fazer alguns questionamentos, tipo: O que eu quero? O que preciso fazer para sentir-me bem comigo mesmo? Quem sou eu? O que estou sendo chamado a fazer? A nossa alma tem suas necessidades e precisamos ouvi-la. Se não estamos fazendo essas perguntas e deixando de ouvir humildemente nossos corações, provavelmente temos grande chance de ser uma má companhia para nós mesmo e para os outros. Precisamos estar abertos ao vir a ser, entendendo, no entanto, que esse processo não é obra do acaso, devemos estar implicados e dispostos a entender qual a nossa responsabilidade na desordem da qual nos queixamos, conforme questionou Freud. E ele acrescenta, é preciso olhar para dentro, para as suas profundezas, aprenda primeiro a se conhecer.
Enfim, precisamos cuidar primeiro de nós para poder ter condições de cuidar dos outros.