Imagem corporal e saúde mental

Como se define a imagem corporal? Como isso afeta a saúde mental atualmente? Segundo o neurologista Paul Schilder, e sua obra intitulada A Imagem do Corpo: as energias construtivas da psique, “a imagem corporal é a figuração do nosso corpo formando em nossa mente, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós”. Essa imagem é tridimensional e tem aspectos psicológicos, sociológicos e fisiológicos.

Uma das partes mais difíceis de viver em sociedade é estar sobre o olhar do outro a todo o momento e graças à tecnologia, estar sob o olhar de milhares de pessoas que têm seus próprios conceitos do que é bonito e o que é saudável, esse modelo a ser seguido é composto de sutis mudanças nas pessoas mais influentes da nossa era, sendo elas pessoas públicas e famosas.

Para Schilder, a imagem corporal não é rígida e é passível de transformação, assim como essa mudança psicológica acontece, a sociedade tende a mudar constantemente o que seria um corpo padronizado e “certo” de se ter. Uma visão além do que é saudável é posta mundo afora para que as pessoas não envolvidas no padrão de vida apresentado se sintam responsáveis sobre seu corpo e façam parte desse movimento.

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Essa dinâmica pode ser vista atualmente a partir da moda e a volta do estilo dos anos 2000. Isso é percebido na construção de estética, de roupas, de músicas e de corpo que mudaram após a pandemia de COVID-19. Os anos 2000 foram marcados pelo fim de profecias catastróficas e o começo de uma mídia “repaginada” em comparação aos anos anteriores, segundo Laís Campos, redatora da revista Versatille, a sensação de nostalgia de momentos mais felizes é revisitada atualmente quando tendências de moda e de consumo se voltam para símbolos marcantes da época.

Junto com esses símbolos, talvez o mais forte seja o corporal e da extrema magreza, o que afeta intensamente questões psicológicas e a distorção de imagem trazida pelo sentimento de inadequação ao se ver em um mundo que é mais magro que o seu. O risco trazido com esses aspectos é o de distúrbios alimentares e com eles o sofrimento psíquico, comportamentos prejudiciais podem surgir, como o uso de laxantes, jejum e a prática exagerada de exercícios físicos. os distúrbios mais comuns são a Anorexia, que é uma preocupação excessiva com o peso seguida de restrição alimentar, a bulimia é descrita como um episódio de compulsão alimentar seguida de algum tipo de purgação e o Transtorno Dismórfico que se caracteriza pela percepção alterada de si (CUBRELATI, 2014). Para Schilder, “a imagem corporal pode encolher ou se expandir, pode dar partes suas para o mundo externo ou se apoderar de partes dele” e essa tentativa de mudança corporal muitas vezes leva aos distúrbios alimentares.

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Como não cair nessa armadilha? O filósofo Michel de Montaigne descreveu em sua obra algo que outros filósofos não tinham pensado até então, muitos acreditavam que a felicidade vinha da racionalidade, já Montaigne pensava o contrário, o motivo dos nossos problemas e infelicidade é justamente a racionalidade e o pensamento. E o primeiro problema vindo do pensamento é que isso atrapalha a relação com o nosso corpo, diferente de outros animais nós podemos sentir tristeza e repulsa pelo próprio corpo.

Montaigne afirma que nesse aspecto os animais são mais evoluídos que os humanos, porque não sentem inadequação corporal ou vergonha dos seus corpos e ações, se relacionando de forma mais natural. A partir disso, ele explica que a comparação com um animal é para nos ajudar a aceitar nossos corpos de forma mais leve e humorada, ele também separa os tipos de inadequação em inadequação física, que é não aceitar sua aparência, seu corpo; Inadequação pelo julgamento, que é se preocupar com o que outras pessoas pensam sobre você e Inadequação intelectual, que seria se sentir menos inteligente ou instruído do que os outros.

 

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A forma que Montaigne pensou para “resolver” esses problemas ou ajudar a autoestima seria não se sentir humilhado por si mesmo, pelo nosso corpo ou pela falta de instrução formal. Uma forma simples de diminuir esse sofrimento seria viajar, física ou mentalmente para aprender e ver as diferenças culturais apresentadas em diferentes lugares. Aquilo que se julga estranho em uma cultura pode ser sagrado em outra, segundo Montaigne, a forma que uma sociedade julga algo como bom ou ruim é baseada no hábito e não na razão, conseguir uma visão mais ampla de comportamento nos torna mais tolerantes.

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Trazendo essa lógica para a distorção de imagem, quando se está acostumado a ver corpos magros na mídia a sociedade julga como errado os corpos que se apresentam de forma diferente. Um exemplo prático seria aumentar o espectro de pessoas vistas suas redes sociais para que ao se olhar no espelho não se sinta tão inadequado, visto que uma parcela pequena e privilegiada da sociedade consegue se manter a par de estéticas corporais e segui-las à risca.

Referências

SCATOLIN, Henrique Guilherme. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. Psicologia Revista, v. 21, n. 1, p. 115-120, 2012.

CUBRELATI, Bianca Sisti et al. Relação entre distorção de imagem corporal e risco de desenvolvimento de transtornos alimentares em adolescentes. Conexões, v. 12, n. 1, p. 1- 15, 2014.

Alain de Botton, Philosophy – a Guide to Happiness (Channel Four, 2000). Na versão brasileira, o DVD se chama Filosofia para o Dia-a-dia. ep, “Montaigne e a autoestima”

CAMPOS, Laís. O reboot do milênio: entenda a volta dos anos 2000. Versatille,14 de julho de 2021