A Casa de Marta, fundada em 2002, é uma Instituição Filantrópica, de iniciativa da Igreja Católica, pertencente à Arquidiocese de Palmas. Ainda, é um Centro de Apoio a gestantes menores de idade, de 12 a 17 anos, expostas à insegurança, fragilidade e em situação de risco.
Além disso, a Casa oferece oficinas (alguns trabalhos manuais e confecção do seu próprio enxoval); treinamento de cuidados com os bebês; atendimento psicológico; momento de reflexão e espiritualidade, além de visitas domiciliares. Vale ressaltar que a Casa não funciona sob regime de internato, porém suas atividades são realizadas três vezes por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira das 8h30 às 16h30). No que tange à manutenção, a Casa conta com o voluntariado, além de doações externas (COMPROMISSO, 2014, p.1).
Julia Alves (nome fictício) tem 17 anos, está grávida de 6 meses e hoje (25 de abril de 2018) foi seu segundo dia na Casa.
(En)Cena – Como você ficou sabendo da existência da Casa?
Julia Alves – Pela minha amiga, Cássia (nome fictício). Ela me disse que aqui ajuda a gente a fazer as coisas do neném, nas coisas de casa, se tiver faltando alguma coisa… No dia que eu vim, eu gostei muito. Falei com a minha mãe e ela disse pra eu continuar.
(En)Cena – Você mora com quem?
Julia Alves – Com o pai do meu filho, lá no Taquari. Numa chácara, junto com a mãe e os irmãos dele, só que em casas separadas. Não é muito fácil morar lá.
(En)Cena – Quantos anos tem o seu parceiro?
Julia Alves – 20.
(En)Cena – Há quanto tempo vocês estão juntos?
Julia Alves – Vai fazer dois anos.
(En)Cena – Foi planejada (a gravidez)?
Julia Alves – Não.
(En)Cena – Quando você descobriu que estava grávida, como foi?
Julia Alves – Fiquei assustada, mas não podia fazer mais nada. Antes dessa gravidez, quando começamos a namorar, eu engravidei e perdi com 3 meses. Nesse tempo, quando eu comecei a sangrar, estava na casa da minha irmã. Aí eu comecei a perder sangue, saiu umas massas pretas com sangue. Aí eu fui pro hospital e o médico não falou porque eu abortei, mas não tomei remédio, não. O médico pediu pra eu fazer exame, pra saber se eu tinha tomado alguma coisa, se foi alguma coisa que eu comi, mas ele disse que não foi isso e nem porque foi.
(En)Cena – Essa perda foi muito difícil?
Julia Alves – Foi. Quase entrei em depressão.
(En)Cena – Você sentiu o apoio de alguém naquele momento?
Julia Alves – Sim, da minha mãe, da minha irmã, da família do meu pai.
(En)Cena – E quando você descobriu a notícia de que estava grávida agora, o que passou pela sua cabeça?
Julia Alves – Eu fiquei feliz, só que quando descobri que estava grávida, o meu padrasto estava conseguindo arrumar um serviço pra mim. Aí eu fiquei triste por causa disso. Porque eu ia começar a trabalhar de carteira assinada e não tinha mais como trabalhar porque engravidei. Aí, me desanimei um pouco.
(En)Cena – Quais são os sentimentos e pensamentos envolvidos desde que você ficou grávida?
Julia Alves – Muita coisa. Não ter condições de dar ao meu filho o que ele merece, não ter dinheiro para comprar as coisas dele.
(En)Cena – Você acha que a sua rotina foi alterada depois que descobriu que estava grávida? Mudou?
Julia Alves – Mudou, na questão de sair. Eu gostava muito de sair e depois que eu engravidei a vontade de sair acabou. Acho que é vergonha.
(En)Cena – Vergonha, por quê?
Julia Alves – Porque eu sou muito nova e o povo me vê… Eu já sou nova e com cara de mais nova ainda, me vê com o “bucho” desse tamanho. A gente fica sem graça de sair na rua.
(En)Cena – Você já sofreu algum tipo de preconceito por estar grávida nessa idade?
Julia Alves – Não.
(En)Cena – Qual a ideia que você tem sobre ser mãe?
Julia Alves – Eu não sei. É uma experiência que eu não sei dizer. Muita responsabilidade e eu não sei de nada, ainda. Acho que eu vou precisar de muita ajuda da minha mãe, das minhas irmãs que já passaram por isso.
(En)Cena – Depois que você descobriu que estava grávida, a relação com o seu parceiro mudou?
Julia Alves – Não. Assim, ficou melhor, mas quase não mudou.
(En)Cena – Você se sentiu apoiada pela sua família?
Julia Alves – Sim. A família dele não tem ajudado tanto porque não tem muita condição. Quase não dá pra ajudarem a eles mesmo. Minha mãe tem mais condição e ela me ajuda. Minha irmã, meu pai…
(En)Cena – Que tipo de apoio ou suporte você acha que precisa mais, nesse momento?
Julia Alves – O que eu preciso mais nesse momento é outro lugar para ficar porque eu não quero mais morar lá na chácara. O povo briga demais. Irmão batendo em irmão e eu não me sinto confortável com isso. É porque a minha convivência com meus irmãos já foi muito diferente e vendo aquilo eu não me sinto confortável.
(En)Cena – Que tipo de profissional você acha que poderia te auxiliar?
Julia Alves – Não sei. Qualquer um que possa me ajudar, seria bom.
(En)Cena – Como é para você passar esse período aqui na Casa?
Julia Alves – Bom, estou gostando muito.
(En)Cena – Como você se vê daqui a cinco anos ou o que você planeja para o seu futuro?
Julia Alves – O que eu planejo é ser uma mãe boa para o meu filho, continuar estudando, fazer faculdade. Tenho mais interesse em veterinária porque eu gosto muito de animal. Meu padrasto está querendo montar um negócio, um pet shop na chácara da minha mãe e ele disse que vai pagar um curso pra eu fazer de veterinária.
Referências:
COMPROMISSO com a vida. Palmas, TO: Casa de Marta, 2014.
Nota: A entrevista foi realizada com autorização dos dirigentes da Casa de Marta no período do desenvolvimento do Estágio Específico em Saúde Mental, do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, com a supervisão da Profa. Dra Irenides Teixeira.