Larissa Machado utiliza Gestalt Terapia no exercício da psicologia clínica

A psicóloga Larissa Machado trabalha com psicologia clínica baseada na Gestalt Terapia. Possui Especialização em Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Oferta serviços de Psicoterapia individual, Orientação de Carreira, trabalha com Grupos e realiza workshops. Atualmente possui quase 8000 seguidores no Instagram, com o perfil @allegorica.psicologia, no qual regularmente posta conteúdo que tem por objetivo aproximar o público do fazer da psicologia. Nesta entrevista, ela responde perguntas a respeito da sua atuação como Psicóloga Clínica.

Talita Lima: Quais as suas áreas de atuação profissional?

Larissa Machado: Atuo com psicologia clínica e ofereço serviços de psicoterapia, orientação de carreira para adolescentes e adultos e avaliação psicológica. Além disso, atuo com a oferta de workshops, roda de conversas, grupos de apoio e de estudo. Também possuo especialização em saúde mental e atenção psicossocial.

Talita Lima: Com qual público você trabalha e qual sua maior demanda?

Larissa Machado: Adolescente, jovem e adulto. A maior demanda é para psicoterapia individual. São diversos os motivos de procura: relação familiar, ajustamento social, desenvolvimento de assertividade, ansiedade, medos… é difícil dizer demandas específicas porque perpassamos por tantos caminhos junto com os clientes!

Talita Lima: Como profissional, você sente que os pacientes/clientes chegam com um conceito diferente da profissão?

Larissa Machado: Então, eu percebo duas coisas. Aqueles que já vêm de um processo terapêutico, que já tiveram experiências, eles muitas vezes já compreendem o que é terapia, o que é esse acompanhamento, enfim, muitas vezes o ajustamento é só por conta da abordagem, né? Gestalt terapia é uma abordagem que talvez, é nova ainda, vamos dizer assim… Pelo menos na nossa cidade não tem tantos profissionais que atuam com a Gestalt, então acho que o contato com o processo acaba sendo diferente, mesmo que a pessoa já tenha tido experiência com a terapia antes. Agora, para aqueles que vêm pela primeira vez, é o primeiro contato com o psicólogo, com o consultório, com a terapia e tudo o mais, eles vem cheios dos mitos mesmo né? O que é muito comum… Esperam muitos resultados de uma forma rápida, e isso é até muito interessante para ser colocado no nosso encontro, essa busca pela cura, pelo conserto daquilo que incomoda e causa sofrimento. E tudo isso é transformado em intervenção, em olhar, em diálogo nesses nossos encontros. Os conceitos são a partir dos mitos que são carregados com relação ao psicólogo e à psicoterapia.

Talita Lima: Quais os principais fundamentos teóricos que embasam sua maneira de atuar? Costuma usar técnicas estrangeiras? Qual sua visão acerca da construção de técnicas científicas nacionais?

Larissa Machado: A Gestalt terapia é muito conhecida como uma teoria de técnicas criativas e de vivências criativas. Mas a verdade é que a Gestalt não tem tantas técnicas assim. Tipo, a cadeira vazia, que é uma técnica super conhecida, clássica da gestalt, você vê que não tem tantas técnicas com todo um fundamento e um nome para aquilo, a Gestalt é uma teoria que provoca a criação de intervenção e técnicas no aqui-agora, na verdade. Ela se cria no contato com o outro, no encontro com o outro, no aqui-agora com o outro. Tem um livro muito bom, cujo título é “Técnicas em Gestalt: aconselhamento e psicoterapia” da Phill Joyce e Charlotte Sills, e é um livro muito legal e muito bacana que traz todo um aconselhamento com relação desde o primeiro encontro que você tem com o cliente, o consulente, no caso, elas trazem esse termo, até todo o processo de experimentação, de fortalecer apoio, da relação terapêutica, o processo de avaliar e diagnosticar, como se trabalha o diagnóstico em gestalt terapia… Eu percebo que a gestalt terapia é uma… não sei mensurar, por que é muito incrível o quanto ela te dá embasamento e permissão, sabe? É importante que o profissional seja muito bem embasado teoricamente para ele se sentir seguro em arriscar, porque na gestalt terapia, muitas vezes, não tem muita lógica o que tu trabalha em consultório. A lógica que eu digo é uma busca de compreensão, então é incrível o que surge no momento. Por isso que o profissional precisa estar em aware, estar consciente dele nesse encontro, porque nessa escuta ativa é como se eu tivesse silenciando os ruídos internos, mas assim, eles vão existir de todo modo, mas é silenciar esse ruído interno e dedicar uma atenção para o que o outro está dizendo, para que o outro está fazendo na tua frente, gesticulando, demonstrando, experimentando ali na tua frente as questões que ele traz para você. Aí nesta questão de atenção, os insights surgem, tanto da parte do terapeuta quanto da parte do cliente também. E aí, propostas de experimentações surgem nesse processo de tomadas de consciência e de ajustamento criativo. Aqui no Brasil acompanho alguns teóricos. Tem o Ponciano, muito conhecido, o Elídio, Hugo Elídio Rodrigues… a Carina, que é gestalt terapeuta e trabalha com prevenção e ‘posvenção’ do suicídio, inclusive estou lendo um livro organizado por outra pessoa, mas que tem um capítulo feito por ela. Eu vou te enviar fotos de alguns livros de alguns teóricos que eu tenho acompanhado, e que eu gosto muito da visão deles e acabo me embasando muito no que eles trazem. E claro, o Perls, que sempre é uma grande fonte de inspiração, eu diria. A gestalt terapeuta é uma abordagem muito artística, o profissional que se encontra com a gestalt… porque eu nem sei se eu que escolhi essa abordagem ou se ela me escolheu, na verdade eu me dei conta no final da minha graduação, de que durante tantos anos da minha vida, até durante a minha faculdade, durante a minha formação, eu pensava e sentia e interpretava o mundo e quando eu fui entrando em contato com a gestalt eu falei: “Cara! Mas eu já acredito nisso há muito tempo, eu já penso dessa forma”. A gestalt terapia foi um encontro mesmo.

Talita Lima: Qual é a sua filosofia de trabalho?

Larissa Machado: Nossa, mas essa pergunta é muito gostosa de responder! Filosofia de trabalho… eu sou formada desde 2014, então tem quatro anos que eu sou psicóloga de fato e de direito, quando eu me formei e assim que peguei minha CIP, minha carteira profissional, eu já comecei a atender em consultório, e também fui contratada como psicóloga na empresa que eu estagiava, então assim que saí da faculdade eu já estava inserida no mercado de trabalho, em duas áreas. Então, já trabalho com a psicologia clínica desde 2014 e também em 2014 eu trabalhava como psicóloga em uma empresa. E aí a minha filosofia de trabalho foi mudando muito nesses quatro anos, principalmente nos três primeiros anos. No ano passado eu saí da empresa, em julho. Desde julho do ano passado eu atendo somente em psicologia clínica, e deu muito certo, porque eu tive condições de montar o meu consultório, de fazer do jeito que eu queria fazer. Você me perguntando isso agora, eu estou aqui parada, após um cliente acabar de sair, olhando pela janela do prédio e pensando assim que a minha filosofia de trabalho é essa, eu gosto de trabalhar sozinha, acho que a psicologia clínica é um trabalho solitário, porque eu fico por dia, geralmente seis, sete, oito horas, sozinha, sem uma equipe. O máximo que eu tenho de contato é com o cliente, e com a família quando vem em algum encontro, ou quando eu faço grupos. Mas são raros esses momentos, o maior contato que eu tenho é com outra pessoa. Hoje a minha filosofia de trabalho é muito voltada para a qualidade de vida, eu escolhi atuar com a psicologia clínica, desde quando eu fiz meu estágio em clínica na graduação, eu já entendia que era isso, que eu queria um dia ter meu espaço, trabalhar com psicologia clínica, atender pessoas e possivelmente organizações, que eu tenho essa vontade, esse interesse. A orientação profissional, inclusive, é um serviço que eu sou apaixonada de trabalhar com ele. Hoje eu trabalho com ele de modo individual, mas o objetivo é criar uma cultura de grupo, que é o que a gente tem tentado aqui na Allegorica. A minha filosofia de trabalho é voltada para a qualidade de vida, eu trabalho à tarde e à noite, alguns dias pela manhã, mas a prioridade é trabalhar tarde e noite, algumas vezes pela manhã, mas eu escolhi trabalhar nestes dois períodos, porque tem muito mais a ver com meu estilo de vida, com minha disponibilidade e disposição, e também a disposição dos clientes. Muitos procuram por horários noturnos, pois trabalham durante o dia. Então, acredito que a minha filosofia de trabalho que tem muito a ver com a gestalt que promove muito essa consciência do aqui-agora, do que faz sentido para mim, para minha família, mas muito mais para mim. Não sei se respondi sua pergunta, mas é isso… Eu trabalho descalça, eu trabalho num ambiente extremamente confortável, tenho projetos de cunho social para a clínica, já trabalho um pouco com a questão da clínica social, para universitários, aqui eu decidi trabalhar com um valor diferenciado para universitários, mas ainda não é a clínica social que eu quero promover aqui como serviço ainda. Mas eu tenho isso como um objetivo. Eu estou aqui na Allegorica e montei o consultório em maio deste ano. Desde julho do ano passado eu estava sublocando outro consultório, mas em abril desse ano eu decidi abrir a Allegorica que tem dado super certo. É claro que é preciso se preparar porque tem alguns meses que dá uma baixa, meses de férias, na questão de procura pelo serviço. E aqui na clínica eu só atendo particular, não me credenciei nem me vinculei a nenhum plano de saúde, também por escolha…

Talita Lima: Ao sair da faculdade, você se deparou com uma realidade diferente da que esperava?

Larissa Machado: Com relação ao mercado de trabalho, como eu saí do estágio e já fui contratada, e como já comecei a atuar na clínica, então não foi um choque para mim, porque eu já estava empregada e já exercia um pouco da profissão com supervisão, então eu só passei a me responsabilizar enquanto profissional e só ampliei o repertório de espaço de atuação. Então não foi um baque quando eu saí da faculdade me formei e peguei minha carteirinha e agora? o que eu vou fazer? Eu não tive que enfrentar isso, mas muito por conta das oportunidades que eu já tinha antes. Eu me sinto muito privilegiada por ter saído da faculdade já empregada, eu acabei me desenvolvendo durante a graduação em relação a iniciativa. E isso é muito meu, eu não tive essa dificuldade de entender que eu queria começar a atender no consultório, então tá, já comecei no consultório. E aí, tive duas demandas de atendimento clínico individual e foi feito, e até hoje tem dado certo. Não tive esse choque todo, para mim foi ok. Talvez uma coisa que eu tenha me deparado foi que eu tinha muito a expectativa de me formar e começar uma formação clínica em gestalt terapia, porque eu já tinha definido isso como abordagem e visão de mundo que faz muito sentido para mim. Mas até hoje eu ainda não fiz, por conta dos entraves econômicos, por não ter aqui em Palmas uma formação em gestalt terapia e eu não me abri à possibilidade de fazer formação em outras abordagens. Fiz a formação em saúde mental, me somou e acrescentou muito, mas não quis me arriscar a fazer outra formação em uma abordagem que não fazia muito sentido para mim. Então tem quatros ano que eu estou formada e nunca veio para Palmas uma formação em gestalt, acredito que muito pela falta de demanda, pois o processo de abrir uma especialização é muito complexo. No meio do caminho todo a gente vai se deparando com o trabalho, com a vida adulta… Logo que me formei, um ano após, eu me casei, então acabei não podendo usufruir um pouco de algumas mordomias que eu poderia ter agora, por conta das minhas escolhas. Então a formação em gestalt é uma baita gestalt aberta para mim, quero poder fazer uma formação, mas por conta de questões econômicas, porque tenho interesse em fazer uma formação que tem no Rio de Janeiro, e os custos todos que envolvem isso são dispendiosos. Hoje o que eu faço são contatos virtuais, cursos, workshops… que são online, que é mais acessível para mim. Acredito que a nossa cidade não beneficia algumas expectativas com relação à profissão.

Talita Lima: Como Palmas ainda é uma cidade nova, a importância do papel do psicólogo está começando a ser compreendida agora. Você encontra alguma dificuldade diante desse desafio?

Larissa Machado: Eu acredito que a psicologia é mal compreendida em todo lugar. Eu penso que desmistificar e tentar trabalhar essa educação social sobre o papel do psicólogo, sobre os diversos contextos, sobre a ética, sobre a psicologia enquanto ciência e profissão, em todo lugar vai ser preciso a gente militar essa causa. Isso acontece tanto em cidades pequenas quanto em cidades grandes também. Eu não sei se encontro alguma dificuldade especificamente relacionada a isso aqui, mas penso que em todo lugar tem um pouco disso. Inclusive sobre essa questão do papel do psicólogo e da educação social para desmistificar os serviços, na segunda feira (27/08) a gente vai promover um movimento de educação social no parque Cesamar, justamente para tentar combater, tentar falar com a sociedade e com as pessoas, tentar se tornar um pouco acessível e isso é muito interessante, porque me faz pensar muito na minha formação. Por que pelo menos a minha formação e a de muita gente, foi pautada na compreensão do distanciamento do psicólogo em relação ao cliente/paciente. Eu não se esse distanciamento, que ocorre até com os diálogos com a sociedade, é de fato importante. Suspeito que não. Acho que precisamos nos aproximar mais tanto da sociedade quanto dos outros profissionais também. Que o que cabe a nós, o diálogo, acredito que é importante que façamos algo.

Talita Lima: Dentre todos os estigmas e preconceitos sociais que o trabalho do psicólogo clínico passa, qual o conselho que você daria para as pessoas que precisam buscar psicoterapia mas se sente resistentes?

Larissa Machado: Não sei se existe um conselho, mas penso que todos têm seu tempo e modo. Antes mesmo de iniciar uma sessão de psicoterapia o processo terapêutico já está acontece… Acredito na experimentação como possibilidade de viver a psicoterapia e penso que as pessoas poderiam encarar dessa maneira : um experimento que pode ser levado adiante ou não… as pessoas são autônomas e deveriam por elas mesmas decidirem se querem ou não.

Talita Lima: Você desenvolve algum projeto ou faz intervenções em grupos em prol de alguma minoria? Tem algum posicionamento militante em relação a isso? Faz alguma parceria com grupos estaduais ou nacionais em defesa desses?

Larissa Machado: Na verdade estamos com um projeto chamado CERRADEIRAS. É um grupo de apoio à mulheres! Ele tem o objetivo de promover escuta ativa, diálogos entre mulheres e atenção à questões que envolvam a vida da mulher em seus diversos contextos! Daí a ideia é que seja quinzenal e também fazer parcerias com coletivos voltados pra mesma demanda.

Talita Lima: Para você, qual a importância do engajamento político da classe, principalmente dos psicólogos clínicos?

Larissa Machado: TODA A IMPORTÂNCIA DO UNIVERSO! Nossa profissão é política! Temos muito que conquistar, não somente no âmbito clínico, mas da saúde, educação, assistência social e afins… é importantíssimo que os profissionais se engajem com o que se identifica e de forma coletiva. Os interesses nem devem ser de um, deve ser de todxs e para todxs!

Talita Lima: Qual seu posicionamento a respeito do sindicato dos psicólogos que foi recém criado?

Larissa Machado: Relevante e importante! Mas ainda não tive a oportunidade de estar presente em algum encontro! Pretendo me filiar em breve!

Talita Lima: Você já atuou especificamente em alguma comunidade que é negligenciada socioculturalmente? (Por exemplo: indígenas, quilombolas).

Larissa Machado: Já tive oportunidade de participar de um projeto na época da graduação, com povos indígenas ! Foi pontual e rápido.

Talita Lima: Além do seu diploma, o que te torna psicóloga?

Larissa Machado: Bem… na verdade o que me torna psicóloga é o diploma mesmo… mas eu sou muito mais do que ele. Antes dele eu já me importava e interessava por questões que, por exemplo, a psicologia milita. Mas me percebo com habilidades significativas para desempenhar o papel de psicóloga: interesse pelo que é complexo, obscuro, subjetivo e não dito.  Suas perguntas estão me fazendo refletir!

Talita Lima: Quais as suas expectativas em relação ao futuro da profissão de psicologia?

Larissa Machado: Não sei… vai depender de como nosso país estará politicamente! Mas independente disso, penso que a luta da classe pela ciência e profissão tem que ser fortalecida.