Atualmente, podemos contar com diversas maneiras de expressão e de consumir arte, como por exemplo: cinema, teatro, músicas, desenhos, pinturas, literatura, entre outros. Mas de que maneira a arte pode influenciar na saúde mental tanto de quem consome quanto de quem atua?
De acordo com Biesdorf e Wandscheer (2011), “O ser humano se expressa por meio da arte desde os tempos mais remotos; a expressão artística é a forma que o homem encontra para representar o seu meio social.” A arte pode mudar de acordo com o período e a sociedade em que o ser humano vive, representando cada fase da humanidade, bem como a individualidade do ser humano e o que ele está passando no momento.
A arte e a clínica do cuidado (dispositivo clínico de atenção ao sofrimento psíquico, baseado no cuidado à população em estado de grave vulnerabilidade social) já se misturavam desde o século XII em hospitais no mundo árabe, onde a música, contos e danças eram utilizados como estratégia de intervenção (Lima e Pelbart, 2007 apud Andrade e Silva, 2023). Além dos exemplos citados acima, também podemos falar sobre Nise da Silveira (1905–1999) (Renomada psiquiatra brasileira que nasceu em Maceió (AL) em 1905 e faleceu no Rio de Janeiro em 1999. É reconhecida por suas contribuições revolucionárias no campo da psiquiatria e da saúde mental, especialmente no contexto do tratamento de transtornos mentais graves), que foi pioneira no tratamento psiquiátrico com artes.
As ideias de Nise da Silveira combatiam as técnicas agressivas em tratamentos psiquiátricos utilizados na época, como eletroconvulsoterapia, camisas de força, lobotomia, entre outros, e apresentava a arte como meio de tratamento. Com a arte, os pacientes poderiam se expressar e ressignificar sua visão da realidade.
Podemos usar os dois exemplos citados acima para mostrar que a arte tem relação direta com a saúde mental, seja como tratamento ou como maneira de expressão no dia a dia. Podemos falar de exemplos práticos, como quando um compositor utiliza a escrita da música para falar sobre algo importante que aconteceu em sua vida, ou um autor/produtor/diretor de filme ou teatro utiliza pedaços da própria história para formar a história que está sendo passada para o público.
“Chão de Giz”, de Zé Ramalho; “O Homem na Estrada”, Racionais MCs; “Piece of Me”, Britney Spears; “Marjorie”, Taylor Swift; “Apesar de Você”, Chico Buarque; “É Proibido Proibir”, Caetano Veloso – todas as músicas citadas anteriormente são exemplos de artistas que usaram momentos da sua vida ou da época em que estavam vivendo para fazer arte.
Não só os artistas, mas os consumidores também utilizam a arte em momentos de sua vida. Por exemplo, quando estamos tristes e procuramos músicas tristes; ou após um término de relacionamento, quando o que mais se escuta é sertanejo; ou em corridas, em que muitos corredores utilizam músicas animadas para manter o ritmo.
Por fim, podemos concluir que as influências da arte na saúde mental se dão tanto como tratamento, em uma perspectiva clínica, como uma maneira de “rede de apoio” para expressar ou entender os sentimentos em determinados momentos. Seja como consumidor ou artista, a arte está presente em diversos momentos da vida do ser humano.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Elisabete Agrela de; SILVA, Mônica de Fátima Freires da. Arte como estratégia de cuidado para a saúde mental. Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade, v. 2, ed. 30, p. 108–125, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.23925/2176-4174/v2.2023e64443. Acesso em: 7 set. 2024.
VEIGA, Edison. Nise da Silveira: quem foi a psiquiatra brasileira que foi pioneira no tratamento com artes. BBC News Brasil, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61603637. Acesso em: 7 set. 2024.
BIESDORF, Rosane Kloh. Arte, uma necessidade humana: função social e educativa. Itinerarius Reflectionis, Goiânia, v. 7, n. 1, 2012. Disponível em: https://revistas.ufj.edu.br/rir/article/view/20333. Acesso em: 22 set. 2024.
KATZ, Ilana. A clínica do cuidado: intervenção com a população ribeirinha do Xingu atingida por Belo Monte. Latesfip, s.d. Disponível em: https://www.latesfip.com.br/copia-capitulo-1-a-psicanalise-nos. Acesso em: 8 set. 2024.
Quem foi Nise da Silveira e qual a importância para a arteterapia? Pós-Graduação USCS, 2024. Disponível em: https://www.posuscs.com.br/quem-foi-nise-da-silveira-e-qual-a-importancia-para-a-arteterapia/noticia/2954. Acesso em: 8 set. 2024.
AUTORES
Susane Costa Bringel
Luiz Gustavo Santana:
Orientador. Mestre. Psicólogo Clínico e Licenciado em Psicologia. Docente do curso de Psicologia – Ulbra Palmas. E-mail: luiz.santana@ulbra.br