As máscaras de uma sombra reprimida

Jung, da Psicologia Analítica, explica que nosso ego muitas vezes reprime nosso lado considerado negativo, e por isso jogamos para a nossa sombra tudo aquilo que rejeitamos

Segundo a análise da sociedade através dos estudos da psicologia social, nós usamos máscaras sociais para cada situação e ambiente, relacionado ao que mais convém. Por exemplo: alguém que está trabalhando como recepcionista está em um ambiente que exige uma postura aceita pela sociedade, como ser educado, sorridente e gentil, porém essa pessoa só aplica essas regras nessa situação, quando está em casa é irritadiço e também agressivo.

Esse exemplo simplista mostra a importância das máscaras na sociedade, pois logo aquele funcionário seria despedido se não usasse a máscara da educação pelo menos no ambiente de trabalho, por isso, nossas condições de relações sociais funcionam como um jogo de aceitação por máscaras. Mas será que as máscaras somente representam a forma como a sociedade espera que sejamos?

Carl Gustav Jung, da Psicologia Analítica, explica que nosso ego muitas vezes reprime nosso lado considerado negativo, e por isso jogamos para a nossa sombra tudo aquilo que rejeitamos. A sombra, então, é definida por Jung como o nosso ambiente de negação, onde fica tudo que não queremos aceitar sobre nós mesmos; ela por sua vez vai nos acessar criando símbolos e projeções do que precisamos enfrentar, nos lembrando de tudo que um dia foi negado. E o que a sombra tem a ver com as máscaras explicada pela psicologia social?

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Nesse caminho de negação e projeção, cria-se uma máscara de uma sombra reprimida. Freud explicaria isso falando que quanto mais reprimimos algo, mais repetimos, pois desconhecendo o que se passa no nosso inconsciente não podemos controlar nossos comportamentos influenciados por ele. Portanto, se jogamos para a sombra tudo que reprimimos criamos máscaras baseadas neles, como uma fuga da realidade. É possível que Jung, Freud e a psicologia social estejam falando de uma personalidade baseada em sombra, repressão, e aceitação social. Mas como elas funcionam juntas?

Nós como sociedade, criamos padrões e modelos de vida, portanto, quando algo foge dessa aceitação pela massa, logo é segregado. Somos indivíduos com “sede” por comunidade, pelo social, pela aceitação, por sermos vistos e aprovados, então se aparece uma vontade politicamente errada, não seremos aceitos naquela sociedade, e para não sofrer com isso, criamos a nossa máscara, vamos viver então segundo os padrões, mas em outra situação com padrões diferentes podemos usar outra máscara que vai nos favorecer também, mas aquela vontade inicialmente negada e reprimida vai para a nossa sombra.

Segundo Jung, nosso ego fica desequilibrado, querendo comandar todos os nossos desejos, sempre reprimindo. Nossa sombra, por sua vez, manda projeções, sonhos, pensamentos confusos, e até mesmo distorções da realidade, tudo para nos alertar de um assunto mal resolvido, e enquanto aquela máscara não for entendida como um refúgio e não como nossa ‘’essência’’, nossas projeções irão nos lembrar do lado negligenciado. Outrora quando se entende os motivos, nossas influências, nossas repressões, então entendemos que a sombra não era uma inimiga, mas uma amiga tentando nos lembrar de que somos imperfeitos, mostrando como somos refém do outro. Seu objetivo é nos fazer consciente desses fatos.

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Já Freud vai nos alertar sobre nossos comportamentos repetitivos, se na nossa sombra reprimimos o que não convém naquela sociedade, nosso inconsciente para Freud vai influenciar nossas atitudes, por isso, temos comportamentos não entendidos por nós mesmos, que se repetem várias vezes. De uma forma simplista usaremos o exemplo inicial, uma pessoa que passou por complexos momentos, se tornou irritada e agressiva, mas esse comportamento não foi aceito no trabalho, então usou sua máscara, mas percebe que quanto mais usa aquela máscara, mais tem comportamentos agressivos onde pode ter liberdade, então sempre age com agressividade em casa mesmo sem entender por que.

Para Freud isso se dá pela falta de consciência do trauma vivido, pela negação daquele trauma, desconhece as causas daquele comportamento. Utiliza uma máscara para fugir da realidade e ser alguém que a sociedade aceitaria, porém enquanto não conhecer essas repressões, seu comportamento continuará repetindo sem seu direito de compreender, cuidar e controlar. Portanto, estamos usando máscaras aceitas pela sociedade que representam nossas sombras reprimidas.

O psiquiatra e escritor Augusto Cury, autor da teoria da inteligência multifocal, diz que o pior das nossas prisões é a nossa mente sem autogestão, não ter consciência dos fatores que nos cercam, das influências que nos oprimem, das sombras que nos alertam e das ações sem controle consciente. Ele nos alerta que o consciente não tem total autoridade sobre nossa mente, mas podemos pelo menos conhecer e controlar muitos sintomas que nos perseguem e ferem o nosso bem-estar.

Referência

ABRAMS, Jeremiah. ZWEI, Connie. Ao Encontro da Sombra. São Paulo: Cultrix, 1994.