Conexão de saúde mental e afeto: uma visão da psicologia positiva

“Quem não senti o amor é infeliz”. “Você necessita de um companheiro, aí sim vai se sentir na plenitude total”. “Como está seu namoro?”. Estas e muitas outras expressões são um fragmento do dia a dia da comunidade, que, em seus diálogos do cotidiano, focalizam o amor como essencial origem da felicidade. Novelas, filmes, obras de arte, programas de TV e rádio, livros e músicas interligam o amor a componentes como: felicidade, qualidade de vida, bem-estar, paixão, e assim por diante que integram o painel de quesitos positivos da vida.

Pesquisas sobre relacionamentos são concebidas por distintas áreas do saber, como antropologia, etologia, sociologia e comunicação. Na psicologia, tais eventos são investigados com maior afinco nos campos da psicologia social, psicologia do desenvolvimento, psicologia da personalidade e psicologia clínica (Duck & Perlman, 1985). Conforme Matos, Féres-Carneiro e Jablonski (2005), os namoros envolvem sentimentos considerados importantes em um relacionamento sério, especificamente o amor, o companheirismo, a igualdade, o sexo e a procriação.

Um quesito indispensável a ser assinalado, ao figurar o fenômeno amoroso como primordial objeto na presente pesquisa científica, é a sua inerente ligação com o bem-estar subjetivo, visto que os relacionamentos interpessoais integram o painel dos essenciais motivos da felicidade, em conjunto com o trabalho e ao lazer (Argyle, 2001). Assim sendo, sua conexão com a saúde mental demonstra altíssimo destaque cientifico e social, uma vez que proporcional tanto contribuições atuais as pesquisas relacionadas ao namoro, mudando ao relacioná-lo à saúde mental, como enriquece a aproximação da comunidade a um conteúdo que mexe com sua existência de maneira muito diferente.

A psicologia positiva pode ser conceituada como um recente braço da psicologia que focaliza o estudo científico de emoções positivas, forças e virtudes humanas (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000; Sheldon & King, 2001). Martin E. P. Seligman, psicólogo norte-americano e professor da Universidade da Pensilvânia, é o criador desse movimento. Ao mesmo tempo em que professor da disciplina de psicopatologia, analisou que a psicologia como ciência vinha ignorando as partes positivas da natureza humana focalizando somente as patologias e comportamentos disfuncionais do sujeito, em agravo de suas potencialidades e quesitos positivos (Scorsolini-Comin, 2012).

Legitimada em 1997/1998, quando Seligman exerce a presidência da American Psychological Association (APA), a mobilidade da psicologia positiva deu abertura a pesquisas quantitativas tendo em vista à promoção de uma modificação na essência da psicologia, pretendo mudar o paradigma de perspectivas dos aspectos negativos da vida para aspectos positivos (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000). No ano 2000, Seligman e Csikszentmihalyi lançam uma edição especial na American Psychologist, dando ênfase que a psicologia não vem gerando conhecimento satisfatório sobre os aspectos positivos e bons da condição humana, salientando a necessidade de mais trabalhos sobre aspectos como: felicidade, esperança, criatividade, coragem, espiritualidade, sabedoria, etc.

Ativamente, a psicologia positiva estuda a compreensão dos processos e fatores que propiciam e ajudam o desenvolvimento psicológico salutar. Também se importa com os elementos que propiciam a edificação e consolidação de potenciais nos indivíduos, grupos e instituições (Poletto, 2006). Vale salientar que a psicologia positiva vem agregar as teorias psicológicas já vigentes, encaixando suas visões dos fenômenos psicológicos. O novo modelo traz uma modificação de paradigma, que sai de um modelo voltado a doenças e aspectos considerados anormais, e vai para um modelo que o interesse se centra nas emoções positivas. Segundo Myers (2000) e Seligman (2004), trabalhos sobre sujeitos infelizes são em grande maioria na literatura, deixando à mercê pesquisas com foco no potencial humano.

Referências:

Adeodato, V. G., Carvalho, R. dos C., Siqueira, V. R. de, & Souza, F. G. de M. (2005). Qualidade de vida e depressão em mulheres vítimas de seus parceiros. Revista de Saúde Pública, 29(1), 108-113.

Alferes, V. R. (2004). Atração interpessoal, sexualidade e relações íntimas. In J. Vala, & M. B. Monteiro, Psicologia Social (6ª ed.), Fundação CalouseGulbenkian: Lisboa.

Almeida, T. De, Rodrigues, K. R. B., & Silva, A. A. da. (2008). O ciúme romântico e os relacionamentos amorosos heterossexuais contemporâneos. Estudos de Psicologia (Natal), 13(1), s/n.

Almeida-Filho, N, Lessa, I., Magalhães, L., Araújo, M. J., Aquino, E., James, S. A., & Kawachi, I. (2004). Social inequality and depressive disorders in Bahia, Brazil. Interactions of gender, ethnicity and social class. Social Science Medicine, 59, 1339-1353.

Andrade, A. L. De, Garcia, A., & Cano, D. S. (2009). Preditores da satisfação global em relacionamentos românticos. Psicologia: Teoria e Prática,11(3), 143-156.

Angelo, C. (1995). A escolha do parceiro. In M. Andolfi, C. Angelo, & C. Saccu (Orgs.), O casal em crise (3ª ed.). São Paulo: Summus.

Argyle, M. (2001). The psychology of happiness (2ª ed.) Hove/New York: Routledge/Taylor & Francis.

Arriaga, X. B. (2001). The ups and downs of dating: fluctuations in satisfaction in newly formed romantic relationships. Journal of Personality & Social Psychology,80(5), 754-765.

Beck. T. A. (1995). Para além do amor. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos.

Berscheid, E. (2006). Searching for the meaning of “love”. In R. J. Sternberg & K. Weis (Eds.), The new psychology of love (pp. 171-183). London: Yale University Press.

Berscheid, E., & Hatfield, E. (1969). Interpersonal attraction. New York: Addison-Wesley.

Berscheid, E., & Walster, E. (1969). Interpersonal attraction. Reading, MA: Addison Wesley.

Bowlby, J. (2009). Apego. A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes.