Matheus de Castro – matheusmdecastro@gmail.com
O movimento da luta antimanicomial, sintetizado na reforma psiquiátrica, é uma iniciativa que se iniciou há aproximadamente trinta e cinco anos, e produz debates e reflexões até hoje. A questão da saúde mental, enquanto assunto de interesse público, tem ganhado relevância crescente ao longo dos últimos anos, ao passo em que há uma tomada de consciência acerca da importância do assunto, acompanhada de uma crescente incidência de transtornos psicológicos na população de maneira geral.
Nesse sentido, o Brasil aponta como um dos países com maior prevalência de transtornos psicológicos no mundo, e apesar de ser esta uma questão multifatorial, torna-se imperiosa a análise das iniciativas de tratamento neste âmbito, sobretudo no que tange às políticas públicas. Não obstante os avanços inquestionáveis conquistados pela reforma psiquiátrica no sentido de estabelecer diretrizes mais humanas e condizentes com os direitos civis de cada cidadão, o sistema público de saúde no Brasil, em termos de saúde mental, ainda se mostra muito carente e defasado.
Para além do debate envolvendo as políticas públicas de saúde nesse contexto, pode-se ponderar acerca da influência da cultura nesse sentido, e de como uma lógica medicalizante/biologizante, ainda que importante em alguns casos, por vezes suprime a possibilidade de se levar em conta aspectos subjetivos que se fazem por ouvir. E de como esta lógica está, de alguma forma, inserida em uma dinâmica de mercado na qual incidem interesses de múltiplos setores da economia.
Sob esse prisma, a luta antimanicomial adquire novas nuances, uma vez que se mostra um movimento que se coloca para além dos infaustos manicômios de outrora, mas se apresenta como um espaço onde se pode discutir práticas e paradigmas atuais que reproduzem uma lógica asilar, ainda que sob uma roupagem mais palatável.
A própria prática clínica – que ocorre na maioria das vezes de forma individualizada – é passível de uma reflexão nesse sentido, uma vez que por vezes desconsidera sintomas que possuem uma etiologia proveniente de um contexto social e econômico. Nesse sentido, a subjetividade emerge como possibilidade não somente de compreender o sintoma que se manifesta no indivíduo, mas também oportunidade de analisar o contexto em que o mesmo está inserido, dando ensejo para discussões acerca dos aspectos que nos envolvem coletivamente.
O campo da saúde mental é relativamente recente em nossa cultura, embora tenha ganhado cada vez mais visibilidade. Justamente por isso, a promoção de espaços de debate neste âmbito é tão necessária quanto salutar.