Dicotomia linguística dos povos indígenas

Este documento é um resumo do texto ‘A criança indígena: do falar materno ao falar emprestado’ de Terezinha Maher (2005). Para a autora, o que o branco brasileiro pensa sobre o índio é composto por imaginários equivocados. A Idéia da autora é mostrar a dificuldade da criança indígena com a língua não materna. O texto aborda o extermínio indígena desde a chegada do homem branco por volta do ano 1500, a população indígena foi dizimada em aproximadamente 90% do seu número original estimado.

Um dos equívocos do imaginário mencionado, começa com a transmissão da idéia do Brasil ter sido descoberto, essa informação ainda consta nos livros didáticos, e aos poucos temos que desfazer essa idéia do descobrimento e orientar os pequenos alunos que já haviam habitantes no nosso território, os indígenas. Atualmente no Brasil existem cerca de 220 etnias com uma população estimada em 370 mil pessoas. Dentro dessa divisão das etnias, existe também a divisão pela língua, os conhecidos troncos lingüísticos.

A grande maioria das etnias tem como tronco lingüístico o Tupi Guarani, entre as etnias que usam esse tronco temos os Tamoios, os Guaranis, os Zo´e, Os Kaxinawa pertencem ao tronco lingüístico Pano, Já os Xavante, os Kaigangue e os Xikrin utilizam o tronco lingüístico Jê.

O homem branco não tem noção do número de etnias existentes no território brasileiro, pensamos assim pois na nossa educação escolar, o sistema educacional que é construído a partir de um posicionamento ideológico tem como objetivo desconstruir a diversidade de etnias, fazendo de maneira que passamos a entender que o indígena é único, genérico, tornando-os todos iguais perante o imaginário do homem branco.

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Então o que temos na realidade são 220 maneiras de viver nas etnias indígenas, temos 220 culturas, línguas, crenças, diferentes. Logo não podemos utilizar o conceito de indígena genérico.

A educação entre os indígenas é dividida em duas fases, a educação indígena, que consiste na educação tradicional de cada etnia, no processo de socialização das suas crianças. E a educação escolar indígena, que consiste em conhecer a língua e costumes do homem branco para sobreviver na sociedade branca.

O Processo de aprendizagem da criança indígena é totalmente diferente da criança branca, na cultura indígena a criança aprende com a rotina cotidiana da aldeia, não tem horários definidos nem tarefas definidas como por exemplo, hora de acordar, hora de estudar, hora do balet. Na aldeia a criança aprende de acordo com as atividades realizadas, a caça, o plantio, a pesca, a brincadeira.

O processo de aprendizagem indígena é totalmente diferente do praticado pelo homem branco. No processo indígena é basicamente baseado no empirismo, na observação, na tentativa e erro.

O indígena é descrito de forma dual, as vezes como um inocente silvícola e outras como um ser demonizado, que age somente pelo instinto animal. Essa visão encontramos nos livros didáticos, na literatura e na imprensa.

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A educação escolar indígena está dividida em duas fases, uma da década de 70, onde o indígena era educado através do processo de assimilação, onde o objetivo era educar o índio para que ele deixe de ser índio, onde ele abriria mão de sua língua, sua crença e seus costumes para se adaptar a vida do homem branco, tecnicamente torná-lo civilizado na visão do homem branco. As crianças eram retiradas das aldeias, internadas em escolas religiosas para serem catequizadas, para aprender a ser gente. A outra fase é a interação com a língua materna, alfabetizar a criança indígena com a língua materna e depois ensinar a língua portuguesa. Logo a língua mãe é utilizada como uma escada para o acesso ao conhecimento acadêmico.

Nos últimos anos a educação escolar indígena apresentou grandes mudanças, formando o jovem indígena com fluência na língua portuguesa e especialista na sua língua materna, sendo a língua mãe ensinada em todo processo educacional. Sendo usado um modelo educacional de enriquecimento cultural e lingüístico. A partir da década de 80 o indígena ganha uma visão, depois de muita pressão dos próprios indígenas, com conquistas na constituição de 1989.

Para o sucesso da escola indígena é necessário que o professor seja um professor indígena, pois a interculturalidade pode tornar-se prejudicial ao desenvolvimento educacional. Outra característica da escola indígena é a multisseriação pois as escolas tem poucos professores e poucos alunos. Segundo a autora o nível de stress na sala de aula indígena é muito menor do que em uma sala de aula convencional. O stress vai ocorrer quando o agente externo cobra junto ao professor indígena os resultados do cumprimento do programa.  O desafio da escola indígena é preparar seu aluno para o contato com o mundo exterior sem perder sua característica origam, sem perder sua cultura e sua crença, e sim se adaptar ao mundo exterior.

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No mundo existem cerca de 4mil a 6 mil línguas, no Brasil existem pelo menos 180 línguas indígenas, além do português, línguas dos imigrantes e outras específicas como a linguagem de sinais. Mas existe um tipo de massificação da língua existente como uma só, para a maioria das pessoas só existe a língua portuguesa no Brasil. Então qual o motivo de se imaginar existir apenas uma língua no Brasil? Isso acontece porque a fixação da língua falada está diretamente relacionada com a posição social da sua população. Logo os indígenas e imigrantes por estarem em menor número e ter menos expressão social, suas línguas não ganham o destaque merecido. Temos uma influência religiosa para que o monolingüismo se sobressaia, pregando que o homem deve falar uma única língua para se entender. Então vemos que não é de hoje que acontece esse tipo de dominação. Voltando ao assunto indígena, a língua materna deve ser utilizada e não discriminada como vem ocorrendo atualmente.

A língua portuguesa foi apropriada pelos indígenas, tornando-se também uma língua indígena com suas adaptações e corruptelas verbais. Com o respeito aos direitos lingüísticos não apenas a garantia do direito ao uso da língua indígena, mas também o direito de não discriminação do português indígena.  E por final temos uma frase para pensarmos em todo o processo de educação, tanto na escola do homem branco quanto na escola indígena ¨… Por que não me deixam falar do jeito que eu quero?…¨

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REFERÊNCIA:

MAHER, Terezinha. A criança indígena: do falar materno ao falar emprestado. IN: FARIA, A.L.G. e MELLO, S. (orgs). O mundo da escrita no universo da pequena infância. Campinas: Autores Associados, 2005.p.75-108.