Espetacularização da cultura: fenômeno contemporâneo

O Livro “A Civilização do Espetáculo”, de Mário Vargas Llosa, nos convida a fazer uma análise sobre a nossa atual cultura, levantando o suposto problema cultural da chamada “cultura de massa” ter dominado todo o âmbito social, percorrendo desde as classes mais ricas até as mais pobres.

A partir da discussão se levanta o seguinte questionamento: será preferível manter a “alta cultura” (cultura denominada culta e presente somente nas classes mais ricas) voltada para si em detrimento do desenvolvimento do conhecimento e dar manutenção às desigualdades sempre existentes? (corroboradas por essa própria separação) ou valorizar a cultura de massa buscando o seu desenvolvimento, carregando consigo toda uma sociedade que pode se beneficiar com isso?

O livro apresentado passa um conhecimento muito importante: o efeito que o desenvolvimento da cultura de massa teve dentro da nossa sociedade, que não foi muito positivo. Porém, o autor apresenta uma visão de que a cultura de massa nada trouxe para a sociedade, e apresenta certo saudosismo aos tempos em que a alta cultura, que era culta, porém excludente, era mais valorizada e estava no centro da política, da mídia, religião e de outros pilares da sociedade.

Fonte: goo.gl/Wb8X1o

Com este pensamento, Mario Vargas demonstra certa supervalorização da alta sociedade por defender o retorno da valorização da alta cultura, podendo trazer uma perigosa justificativa para o retrocesso da sociedade, por colocar os pilares sociais ainda mais nas mãos da alta sociedade, que perdeu com o desenvolvimento da “tão odiosa” cultura de massa.

A partir desse perigoso pensamento, é importante que várias ressalvas não colocadas pelo autor sejam frisadas, evitando que esse discurso seja justificativa para a minimização dos adeptos a cultura de massa – que representa a maioria da sociedade – em detrimento da alta e culta sociedade podendo aumentar mais ainda o abismo social que há entre a classe rica e o restante da sociedade

Durante todo o desenvolvimento da sociedade pela historia, as classes mais altas estiveram sempre, como a própria palavra diz, num patamar mais alto, tiveram sempre o hábito de diminuir as classes “abaixo” dela. Isso se deve por inúmeros fatores, entre eles, está o fato dela sempre ter consigo mais conhecimentos teóricos.

Esse foi sempre um dos tantos fatores que aumentaram o abismo social entre classes. A partir disso, a possibilidade de uma aproximação cultural entre as classes, pode ser um susto para os adeptos a estratificação social, levando alguns destes, a procurarem motivos para justificar a manutenção das desigualdades sociais. Qual a melhor justificativa para isso do que dizer de forma culta e embasada que “estamos ficando mais burros”?

Fonte: goo.gl/dUFPfN

Levando em consideração que a alta cultura estava na mão de poucos, e as outras culturas estavam na mão de todo o resto da sociedade – que conta com muito mais de 80% da população – podemos partir para a reflexão básica sobre a mistura das culturas para a homogeneização em busca da cultura de massa. Ora, se colocarmos todos os poucos cultos entre o mar de “ignorantes culturais” (toda uma sociedade) e misturarmos, obviamente o que irá se mostrar é o que representa maioria em numero.

Com o desenvolvimento das democracias pelo nosso extenso globo, as classes mais baixas puderam ter mais acesso ao poder de escolha, como o voto. Com isso, os comandantes dos países tiveram que voltar seus olhos um pouco para a parte desbastada da sociedade. Ao longo dos anos, o povo começou a ter cada vez mais condições para consumir as artes e mídias, que antes eram voltadas apenas a quem tinha poder de compra (a classe alta). Obviamente sabemos qual o efeito disso: as mídias voltaram seus olhos para uma parte da sociedade que antes não era contemplada com informação e entretenimento.

As consequências disso são obvias, com o numero de consumidores maior entre as classes mais baixas, os repórteres, autores e artistas voltaram seu foco para pessoas com menos conhecimento, o resultado disso foi logicamente um reajuste nas formas de cultura em geral, já que agora focavam não só nas pessoas com alto nível de estudo e conhecimentos gerais.

As mídias agora se tornaram acessíveis a toda a sociedade, tendo consumidores desde semianalfabetos, ate grandes filósofos e intelectuais. As consequências disso foram rápidas, os cultos e nobres voltaram para si, em busca de continuarem consumindo obras, entretenimento e informações ainda equivalentes ao seu nível de conhecimento. Não demorou muito para que quase toda a arte e mídia em si fosse voltada para as massas, já que agora, seu publico alvo, se tornou apenas a massa, visto que a alta sociedade voltaram as costas para o mainstream.

Fonte: goo.gl/pCvwGL

A revolta da classe culta é válida, já que alguém que conhece e costuma apreciar a Oitava Sinfonia de Bethoven, obviamente não vai passar a apreciar uma música pobre em complexidade musical. Porém essa classe, deveria ver a beleza da diminuição das diferenças sociais, e que a expansão da cultura de massa, é apenas um reflexo disso. O papel dos grandes apreciadores de uma cultura complexa e cheia conhecimento, deveria ser de mostrar a toda a massa, a beleza de apreciar uma boa arte, mídia e informação.

A sociedade em seu engatinhar viu a necessidade de uma entidade liderante no qual teria acesso aos acontecimentos com uma amplitude de visão maior que os demais, para elaborar estratégias de acordo com as necessidades. Sendo assim a alta sociedade historicamente sempre teve mais acesso à informação,pois conhecimento é poder, e poder controla, controle esse que é almejado em qualquer tipo de governo, não só obtendo melhor acesso ao conhecimento, como limitando o acesso das classes inferiores. O problema disso é imbecilizar toda uma massa para que continue se contentando com tudo o que ative agradavelmente os seus sentidos.

Ao invés de limitar o acesso à informação, poderíamos através da educação, incentivar o pensamento crítico das massas, pois não é regra o mainstream ser fraco, e o cult rico. Isso acaba formando uma cultura de rejeição à própria cultura.

Não é de hoje que os governos usam a técnica da desinformação para manter o público inocente e desestimulado para questionar. Temos a ilusão de que o poder está em nossas mãos (democracia) porém somos influenciados pela própria mídia que através da publicidade, dita nossos comportamentos. Quem não se encaixa no padrão, é sutilmente excluído dos “privilégios” trazidos pela cultura implantada.

Particularmente acreditamos que o conhecimento deve sim estar disponível para todos, sem exceção, pois se há algum tipo de restrição, não só as classes baixas se prejudicam, mas as classes altas também, já que (querendo ou não) fazem parte da massa. Restringir cultura é contra a ideia de diversificação, negar a diversificação é negar a evolução do pensamento.

Fonte: goo.gl/k9WrnV

Devemos nos desconstruir e nessa desconstrução cabe a obtenção de valores culturais diferentes dos nossos.
Tudo bem que hoje a mídia está banalizando a cultura, tornando-a simples e atraente, criando uma fórmula para produzir arte, nos entregando mercadorias. Não há como quebrar esse ciclo de oferta e demanda se as massas não tem o conhecimento necessário para se localizar nesse jogo fetichista da mercadoria. Se não há o conhecimento de como vivem, como irão se rebelar?

Considerações finais

Não faz sentido esperar que classes evoluam culturalmente sem acesso à conhecimentos específicos de política e controle. As massas continuam sendo alimentadas como cães famintos, que esperam ansiosamente o dono colocar qualquer coisa para enfim ter sua temporária satisfação. É interessante ao governo que permaneçam assim, pois assim não questionam e são facilmente controlados. Mas existem outras reflexões.

A alta sociedade cria novas tendências que são seguidas fielmente pelo mercado, isso acaba introduzindo as massas ao costume elitista, numa homogeneização cultural , supervalorizando os costumes da alta sociedade. Mas dando oportunidades das demais classes atingirem uma cultura padrão, padrão esse almejado pelo mercado, para facilitar sua produção.

É necessário que a informação chegue à todos , por uma questão de sobrevivência. Não é sempre que teremos heróis dotados de conhecimentos nunca acessados, para nos acudir. O que a mídia faz é pegar o que há de mais pobre em nossa cultura e devolver em uma embalagem atraente, criando assim um ciclo difícil de ser quebrado, pois ela nos vicia com o que apresenta. Um exemplo na música, é a organização de certos acordes que fazem com que tal música (mesmo não sendo do nosso agrado) fique se repetindo em nossas mentes. Isso não é servir à população, isso é servir à alta sociedade que se alimenta do ciclo vicioso em que as massas vivem.

Fonte: goo.gl/4jnhLA

Direta ou indiretamente todos contribuímos para o progresso técnico e científico. Com o passar dos tempos a tecnologia vem ocupando trabalhos em que nós somos capazes de executar (como aspirar ao chão) , com essa substituição de tarefas, podemos nos preocupar em outras coisas. O problema é que a tecnologia não tem limites e há o risco de não sobrar mais funções exclusivamente humanas, tornando desnecessárias as massas. É um risco num mundo onde se quer tudo muito rápido.

Tendências aparecem e tornam-se obsoletas numa velocidade enorme, isso acontece também com os meio de informação que se desesperam tanto em entregar logo o produto, que nem revisam para saber se de fato a informação está correta, assim como leitores, não se questionam se aquilo que leram é de fato verdade, correndo o risco de estarem replicando algo falso.

REFERÊNCIAS:

VARGAS LLOSA, Mário. A Civilização do Espetáculo. São Paulo: Objetiva, 2015.

Pequeno Ensaio da Civilização do Espetáculo. Disponível em < https://jus.com.br/artigos/26314/pequeno-ensaio-em-resenha-critica-da-civilizacao-do-espetaculo-de-vargas-llosa > . Acesso em 02 de mar. 2018.

Comentários sobre a Civilização do Espetáculo. Disponível em < https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/121938031/comentarios-sobre-a-civilizacao-do-espetaculo-de-vargas-llosa > . Acesso em 02 de mar. 2018.