rotina

Essa mania besta de ser normal

Quem nos fez normais? Quem disse que acordar cedo, tomar café, banho e escovar os dentes para ir ao trabalho, oito horas de jornada, final de semana em família nos dá o direito de nos considerarmos mentalmente sãos? Nossa rotina nos redime. Nossos costumes nos servem de cartilha, nos protegem contra a loucura. Somos todos hermeticamente fechados, a loucura está lá fora.

Acontece que a dicotomia em que pensamos a loucura já nos provoca essa externalização. É seguro, é fácil e imperceptivelmente cruel nos colocar no lado “normal”. Começando por aí, discutir loucura é uma ação sobre uma outra coisa que nós: o estranho, exótico, diferente, enfim, o louco.

Preocupamos-nos em definir bem o limite entre um e outro na tentativa de saber direitinho até onde podemos ir sem que nos encontremos no outro campo. E isso preocupa muita gente.

Nos acostumamos a ser normais, impomos a nós mesmos a obrigação de obedecer a certos comportamentos, e em uma tentativa de dar unidade lógica a nossa existência, os julgamos bons, sadios e normais.

E claro, como em qualquer oposição de idéias, a coisa só faz sentido mesmo se o lado contrário ao que estamos for aquele aonde as coisas não devem, por definição, funcionar muito bem. Nós só somos normais porque acreditamos que ser louco traz por si só, algum tipo de prejuízo.

Parecer louco já é algo que evitamos, nos policiamos para que ninguém ao menos suspeite que temos algo que foge ao normal. O território da normalidade é uma prisão da qual nem queremos escapar. Sem contar as infinitas vezes em que ser normal é simplesmente chato, aborrecidamente chato.

Continuamos dia após dia repetindo para nós mesmos que somos normais numa tentativa, fraca temos de admitir, que nossa normalidade é na verdade a loucura que escolhemos viver.


Nota: o texto é resultado de uma atividade da disciplina de Produção Jornalística II – Revista do curso de Jornalismo do CEULP/ULBRA