Evasão escolar e os desafios enfrentados pelos coordenadores de IES

A evasão tem se tornado cada vez mais comum nas universidades e sua real causa ainda é pouco conhecida.

O contexto acadêmico apresenta-se como um ambiente de desenvolvimento significativo dos jovens e adultos de vários países. Em nosso país, para grande parte dos estudantes, a graduação ainda é a forma privilegiada de promoção social e realização profissional, sendo um seguimento entre a vida colegial e a inserção laboral. Mas o ensino superior no Brasil, após promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394 de 1996), vem passando por crescentes mudanças. De modo que, as instituições educacionais vêm tendo que se adaptar a novas orientações normativas para o desenvolvimento de uma instituição eficiente, empreendedora e sustentável, como também de caráter transnacional (MOROSINE, 2005).

As instituições enfrentam vários problemas, dentre eles, a evasão, indubitavelmente, é um dos mais relevantes. Ela tem se tornado cada vez mais comum nas universidades e sua real causa ainda é pouco conhecida. Alguns estudos apontam elevados índices de insatisfação de universitários brasileiros em relação a escolha profissional (BARDAGI et al. 2007), bem como a procura de profissionais recém-formados por processos de aconselhamento de carreira (BENTON apud BARDAGI et al. 2007), de maneira que, o trancamento de matrículas e a evasão dos acadêmicos são um grave reflexo dessa insatisfação. Todavia, a evasão de estudantes universitários não acomete esta ou aquela instituição; é, portanto, um problema tanto da esfera pública quanto da privada.

Em seu artigo, Bardagi e Hutz (2007) apontam que, um reflexo importante dessa insatisfação com o ensino superior é a evasão, uma vez que o abandono ou trancamento de matrículas nas universidades são também fenômenos em expansão. No levantamento feito por Silva Filho, Motejunas, Hipólito e Lobo (2007 p. 647), sobre a evasão escolar no ensino superior brasileiro envolvendo o período de 2000 a 2005, de acordo com cálculos feitos com base em dados do INEP, a taxa anual média de evasão foi de 22%, com pouca oscilação.

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Para estes autores, embora não se possa indicar relações diretas de causalidade entre o abandono de curso e a carência de atividades acadêmicas ou frequência de problemas de relacionamentos com colegas e professores, estes aspectos podem intensificar a insatisfação com a experiência acadêmica e propiciar a evasão.

Assim, as razões específicas para a provável causa da evasão ainda encontram-se em discussão, visto que há uma série de fatores influenciadores nos quais implicam a saída dos acadêmicos, como aspectos sociais, econômicos, culturais, logísticos, e outros ainda mais complexos, nos quais envolvem a personalidade e identificação da vocação – o que leva ao aumento da procura de estudantes universitários e recém-formados por processo de aconselhamento de carreira.

Segundo Andriola et al. (2006) os índices de evasão elevados têm como consequência um ônus social e financeiro visto que, além da oferta de vagas para a sociedade já ser escassa, há um desperdício do recurso envolvido nesta oferta. E mais, “atesta certa incapacidade da gestão no trato do problema” (AMARAL, 1999 apud RIBEIRO; MOURA; ANDRIOLA, 2003; ANDRIOLA, 2006).

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Veloso e Almeida (2002) incluem, ainda, o docente como peça significativa para a permanência dos alunos. Segundo os autores a relação “professor-aluno, no primeiro semestre, é fundamental” para sua permanência, sendo necessária uma “maior dedicação ao atendimento do aluno”. Os autores seguem afirmando que o professor/educador exerce sua tarefa sem o devido comprometimento e clareza de que, suas funções não se restringem ao aspecto aprendizagem intelectual, mas como tarefa essencialmente ética e política, sem dúvida alguma, abrange as crenças, valores e forma de agir de seus alunos e, por isso, extrapolam a sala de aula (p. 31) PLACO, 1994 (apud VELOSO; ALMEIDA, 2002).

Marquesin et al. (2008) também colocam o coordenador como uma figura crítica e reflexiva. Desta forma, é possível perceber a importância estratégica do coordenador de incentivar o corpo técnico ao exercício adequado de sua função, que abarca uma visão holística envolvendo tanto os aspectos cognitivos quanto sociopolítico e, ainda, psicossocial.

Para enfrentar o problema da evasão, Andriola (2016) propõe: “trabalhar os seguintes aspectos: criação de um clima amistoso e cooperativo; integração de estudantes dos mais variados cursos; aumento da reflexão crítica e da consciência coletiva; incremento de informações sobre a Universidade, por exemplo: atividades acadêmicas oferecidas no âmbito do curso ou da IES (investigação, extensão, monitorias, congressos científicos, etc); trabalho individualizado com os calouros que tenham problemas acadêmicos resultantes da escolha equivocada do curso” (ANDRIOLA, 2006 p.379).

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Entretanto, para possibilitar esse trabalho faz-se necessário o envolvimento da equipe, e é função do coordenador tal articulação e mobilização. Daí a importância de haver uma coordenação suficientemente segura de seu papel e atuante tanto no planejamento como no acompanhamento das ações propostas estando, para isso, envolvida e acreditando na importância de seu papel e em seu próprio valor enquanto pessoa e profissional fundamental para que o processo educacional aconteça de forma satisfatória. 

REFERÊNCIAS:

ANDRIOLA, W. B.; ANDRIOLA, C. G.; MOURA, C. P. Opiniões de docentes e de coordenadores acerca do fenômeno da evasão discente dos cursos de graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC).Ensaio: aval.pol.públ. Educ.,Rio de Janeiro, v. 14, n. 52, p. 365-382, Sept.  2006 Availablefrom<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362006000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25 Maio2019.

BARDAGI, M. P.; HUTZ, C. S. Rotina Acadêmica e Relaçãocom Colegas e Professores: Impacto na Evasão Universitária. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS. Psico, v 43, n. 2, p. 174-184, 2012. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/7870>. Acesso em: 25 maio 2019.

MARQUESIN, D. F. B.; PENTEADO, A. F.; BAPTISTA, D. C. O Coordenador de Curso da Instituição de Ensino Superior: Atribuições e Expectativas. Revista de Educação, v 11, n. 12, p. 7-21, 2008. Disponível em: <http://revista.pgsskroton.com.br/index.php/educ/article/view/1917/1821>. Acesso em: 25 maio 2019.

MERCURI, E.; MORAN, R. C.; AZZI, R. G. Estudo da Evasão de Curso no Primeiro Ano de Graduação de uma Universidade Pública Estadual. NUPES, 1995.

MOROSINE, M. C. Ensino Superior no Brasil. In M. Stephanou, M. H. C. Bastos, (Orgs). Histórias e memórias da educação no Brasil. (p. 296-326). Petrópolis: Vozes, 2005.

VELOSO, T. C. M. A.; ALMEIDA, E. P. de. Evasão nos cursos de graduação da Universidade Federal de Mato Grosso, campus universitário de Cuiabá – um processo de exclusão. Série-Estudos – Periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB, [S.l.], nov. 2013. ISSN 2318-1982. Disponível em: <http://www.serie-estudos.ucdb.br/index.php/serie-estudos/article/view/564>. Acesso em: 25 mai. 2019.