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O corpo social doente: mentes pressionadas pelo trabalho

“No pain, no gain…”, essa frase, cuja tradução é algo como “sem sofrimento não há vitória”, tem sido levada muito ao pé da letra por alguns. Desde os primórdios da humanidade houve a necessidade de trabalhar para comer, depois veio a estratificação social, onde aqueles que compõem a base da pirâmide econômica trabalham muito para ganhar pouco. O capitalismo arraigado no consciente coletivo da sociedade contemporânea é o maior ditador dessa necessidade de trabalhar excessivamente, para que haja um consumo proporcional aos interesses dos poderosos que se beneficiam com esse sistema. Para Marx, o valor de uma mercadoria é correspondente ao trabalho nela empregado. Sobre o valor do trabalho em dinheiro ele diz:

“O valor da mercadoria, traduzido em dinheiro, é o seu preço, que provisoriamente aparece sob uma forma que só se diferencia do valor dessa maneira puramente formal.  De acordo com a lei geral do valor, uma quantidade determinada de dinheiro exprime uma certa quantidade de trabalho materializado.”

Mas isso não ocorre de fato, e muitos gastam as últimas energias tentando alcançar para si esse valor.

Os casos de trabalho excessivo abrangem diversas causas: a profissão que exige muito do profissional; o patrão “carrasco”; a necessidade de mais de um emprego para sustentar a família ou até mesmo a autocobrança em busca da perfeição. O fato é que cresce cada vez mais o número de pessoas afetadas psicologicamente pelo trabalho. Nesse sentido já existe muitos estudos sobre o psicológico afetando o fisiológico. O estresse advindo do trabalho desgastante pode ocasionar em somatização ou alguma doença psicossomática. A respeito desses casos, Ballone (2006) afirma que na “somatização, a representação da realidade vivenciada penosa, desagradável ou traumática é reprimida para o inconsciente e sua energia psíquica é deslocada para alguma zona do corpo, convertendo-se em sintoma”. Já na “doença psicossomática, diferentemente, de fato existe alteração orgânica confirmada por exames clínicos, embora tais alterações tenham sido desencadeadas, determinadas ou agravadas por razões emocionais”.

É nesse contexto que o médico deve ter a sensibilidade e o preparo teórico-prático para saber lidar com esses casos. Quem se enquadra nesses transtornos psicorreativos, geralmente, é interpretado como uma pessoa mentirosa e com necessidade de chamar atenção, mas o que ocorre é um verdadeiro sofrimento não intencional originado de uma mente cansada e sofrida. Voltando ao tema trabalho-valor, a raíz desses problemas de cunho psicológico é o sistema opressor que força o trabalhador a dar tudo de si, o que acaba tornando toda a sociedade doente. Muitos países, principalmente os  desenvolvidos, adotam em suas empresas, técnicas para relaxamento e bom-funcionamento do psicológico e fisiológico dos indivíduos, para uma melhor resposta laboral, pois sabem que um organismo doente não produz eficazmente. Além disso, é comprovada a importância do lazer como válvula de escape do estresse ocasionado pelas muitas horas de trabalho fastidioso.

A necessidade de uma visão interdisciplinar sobre a questão do trabalho vale ser revisada como forma de evitar uma total difusão dessa problemática, visto que isso pode sair do controle, e todas as relações construídas com base em serviços podem ser destruídas pelo descontrole psicológico de uma sociedade fragilizada. Merecemos viver em sociedade sã.