O Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM) para o tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Um novo modelo para a utilização na intervenção precoce para crianças com o Transtorno do Espectro Autista.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado pelo indivíduo apresentar atrasos em várias áreas e habilidades do seu desenvolvimento. É provável que apresente frequentemente padrões repetitivos de comportamento, interesses restritos e atividades. A causa exata do TEA ainda não é totalmente compreendida, apesar de haver pesquisas que indicam que os fatores genéticos e ambientais influenciam este transtorno (Sella e Ribeiro, 2018).

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) categoriza o TEA em três níveis de necessidade de suporte, com base nos déficits observados na comunicação social e nos comportamentos restritos e repetitivos. Esses níveis são designados como: nível 3 (requerendo suporte muito substancial), nível 2 (requerendo suporte substancial) e nível 1 (requerendo suporte).

O DSM-5 categorizou o TEA com três níveis de necessidade de suporte, diagnosticando-o com base nos déficits característicos de comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos. Sendo eles: nível 3 (exigindo suporte muito substancial), nível 2 (requer suporte substancial) e nível 1 (requer suporte).

                                                        Fonte: imagem criada por Sarah Coelho utilizando elementos do Canva

Os sinais e o diagnóstico precoce do TEA

Os pais de crianças diagnosticadas com TEA frequentemente são os primeiros a perceberem discrepâncias no desenvolvimento de seus filhos, notando uma gama de sinais que podem surgir nos primeiros três anos de vida. Esses sinais podem inclusive ser observados desde o período neonatal, caracterizados, por exemplo, pela ausência no estabelecimento de contato visual (Mansur, 2017).

Essa observação inicial por parte dos pais desempenha um papel fundamental no encaminhamento precoce para avaliações clínicas e intervenções terapêuticas, possibilitando assim uma abordagem precoce e apropriada para o manejo do TEA, na qual há a possibilidade de reverter os atrasos e desenvolver determinadas habilidades.

Os estudos acadêmicos destacam fatores que podem contribuir para a demora no diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo a ampla variedade de expressões dos sintomas do TEA que pode dificultar sua identificação, especialmente em crianças em idade pré-escolar, onde as características típicas do desenvolvimento podem sobrepor-se aos sinais de TEA, desafiando a precisão diagnóstica (Mansur, 2017). Destaca-se também a falta de profissionais capacitados para reconhecer os sinais precoces do TEA e realizar avaliações adequadas. A escassez de profissionais especializados em TEA pode resultar em longos períodos de espera por avaliações diagnósticas e intervenções terapêuticas, prolongando o tempo até o diagnóstico e a implementação de tratamentos eficazes.

Outro fator determinante é a disponibilidade limitada de serviços especializados em TEA, especialmente em regiões economicamente desfavorecidas, sendo um obstáculo significativo para o diagnóstico precoce e o acesso a intervenções terapêuticas adequadas. Essa falta de recursos adequados pode resultar em atrasos no diagnóstico e tratamento do transtorno, comprometendo assim o desenvolvimento das crianças afetadas (Santos et al., 2020).

A importância do diagnóstico precoce, especialmente durante o período entre dois e seis meses de idade, é propícia para a implementação de intervenções precoces durante fases de maior plasticidade neural. Isso resulta no potencial de prevenir danos mais significativos no desenvolvimento futuro da criança (Steffen et al., 2020).

A realização de um diagnóstico precoce é de suma importância, pois amplia os benefícios decorrentes da intervenção realizada por uma equipe interdisciplinar, que pode ser composta por professores, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, aplicadores ABA, psicomotricistas, psicopedagogos, entre outros. Além disso, proporciona uma orientação adequada aos pais, o que contribui significativamente para a evolução do tratamento (Silva e Mulick, 2009).

                                                        Fonte: imagem criada por Sarah Coelho utilizando elementos do Canva

O modelo que ganhou grande espaço na Intervenção Precoce do TEA

O Modelo de Intervenção Precoce de Denver (ESDM) é um método naturalista de intervenção que se baseia em atividades que refletem a rotina das crianças. Este modelo abrange um tratamento que se estende de 12 a 36 meses, seguido por uma fase subsequente dos 24 aos 60 meses de idade, com o propósito de reduzir os danos e/ou dificuldades em algumas áreas, e promover o avanço no conhecimento e no desenvolvimento infantil em todos os aspectos, como cognição, habilidades sociais, emocionais e linguísticas (Rodrigues et al., 2021 apud Rogers & Dawson, 2014).

A necessidade de intervenção precoce é uma grande hipótese de solução para proporcionar oportunidades de aprendizagem diversificadas, especialmente para crianças com comprometimentos no desenvolvimento. A intervenção precoce demonstra a capacidade de reduzir a severidade dos sintomas do transtorno do espectro autista (TEA) devido à neuroplasticidade cerebral (Rodrigues et al., 2021 apud Wallace & Rogers, 2010, citado em Rogers & Vismara, 2014).

O Modelo Denver de Intervenção Precoce é caracterizado por possuir um currículo de desenvolvimento específico, onde a criança irá percorrer diversas competências a serem ensinadas. Ele é realizado a partir de práticas que envolvem atividades colaborativas, fazendo uso da ludicidade como elemento central. A brincadeira e o jogo são recursos primordiais para estimular o aprendizado (Mayrink, 2021).

É importante destacar que essa intervenção é naturalística, por isso, a implementação pode ocorrer em uma variedade de contextos, que vão desde o ambiente doméstico da criança até escolas, clínicas e outros ambientes. É fundamental que o terapeuta se torne o foco de atenção da criança, assumindo o papel de um verdadeiro parceiro de diversão. E quanto mais envolvente e divertida for a atividade, maior será o nível de engajamento e processo de aprendizagem da criança (Mayrink, 2021).

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014

DE CARVALHO MANSUR, Odila Maria Ferreira et al. Sinais de alerta para Transtorno do Espectro do Autismo em crianças de 0 a 3 anos. Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos, v. 12, n. 3, 2017. Disponível em: SINAIS DE ALERTA PARA TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO EM CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS | Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos (fmc.br). Acessado em: 13/04/2024

MAYRINK, Izabelle Bastos Ribeiro. A importância do Modelo Denver de Intervenção Precoce no tratamento de crianças com o Transtorno do Espectro Autista: uma revisão bibliográfica. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, [S. l.], v. 9, n. 3, p. 2120–2133, 2023. DOI: 10.51891/rease.v9i3.9086. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/9086. Acessado em: 18/04/2024.

RODRIGUES, Andressa Aparecida; DE LIMA, Maísa Miranda; ROSSI, Jean Pablo Guimarães. Modelo Denver de Intervenção Precoce para Crianças com Transtorno do Espectro Autista. Humanidades & Inovação, v. 8, n. 48, p. 359-375, 2021. Disponível em: MODELO DENVER DE INTERVENÇÃO PRECOCE PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA | Humanidades & Inovação (unitins.br). Acessado em: 18/04/2024.

SILVA, Micheline; MULICK, James A. Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas. Psicologia: ciência e profissão, v. 29, p. 116-131, 2009. Disponível em: SciELO – Brasil – Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas. Acessado em: 19/04/2024.

STEFFEN, . F. .; DE PAULA, . F. .; MARTINS, . M. F. .; LÓPEZ, . L. . Diagnóstico precoce de autismo: uma revisão literária. REVISTA SAÚDE MULTIDISCIPLINAR, [S. l.], v. 6, n. 2, 2020. Disponível em: http://revistas.famp.edu.br/revistasaudemultidisciplinar/article/view/91. Acessado em: 19/04/2024.