A riqueza de uma sinfonia é exatamente a diversidade de seus instrumentos, cada qual com uma beleza singular, que associada a outras tantas belezas singulares, dão origem ao encantamento das mais belas músicas.
A metáfora é perfeita para compreendermos a importância da diversidade cultural, tanto para as pessoas quanto para suas comunidades. Somos muitos: negros, brancos, músicos, bancários, religiosos, ateus, homens, mulheres e muito mais. Nosso mundo é polifônico e há lugar para todos expressarem seu modo de ser, de pensar e de agir.
Na contramão dessa riqueza, espalha-se, sutilmente, a perigosa ideia da cultura única. É quando, incapazes de superar as fronteiras da diferença através do diálogo, pessoas ou comunidades querem impor o seu modo de compreender e avaliar o mundo a todos os demais. E acaba considerando aqueles que não pensam iguais a eles como ignorantes. É o que acontece quando alguém gosta de sertanejo e não consegue imaginar que alguém inteligente possa gostar de funk. Ou quando alguém, adepto ao uso de automóvel, xinga o ciclista, por julgá-lo inconveniente.
A cultura única é um mal sorrateiro. Instala-se, devagar, sem a gente perceber. E quando nos damos conta já chamamos quem pensa diferente de nós de burro. A história mostra que uma pessoa, comunidade ou sociedade que se alimenta de uma cultura única termina por se tornar preconceituosa e autoritária.
O mundo é um espaço suficientemente amplo para que as diversas culturas convivam de modo harmonioso. Ninguém precisa admitir como adequado para si, o modo de viver, pensar e agir do outro. Basta aprender a conviver, de forma pacífica, com as diferenças.
É legítimo discordar. Nem tudo que aparece na sociedade é digno de nosso respeito. Mas antes de qualquer preconceito, seria virtuoso cada um perguntar se a rejeição a alguém, a um modo de agir e de pensar, já não seria uma mera aplicação da sutil doutrina da cultura única.