Buscaremos neste ensaio relacionar diferentes idealizações do amor com o atual cenário social, onde cada vez mais nós seres humanos temos dificuldades para se relacionar com o outro, e muitas vezes buscamos no amor uma salvação para a nossa estagnação. Essa ideia de salvação é passada para nós através de vários meios de comunicação, como a música, literatura e teatro, por exemplo, trazendo consigo uma idealização muito clichê do amor, que acaba muitas vezes distorcendo o seu verdadeiro significado e impedindo que o sintamos como de fato ele é.
Acabamos em diversos casos vendo o amor ou a pessoa amada como um produto, que ao ser consumido propiciará um sentimento de êxtase, felicidade e completude, ocasionando assim uma busca incessante por um amor idealizado e perfeito que projetamos em nossas mentes. Porém tal amor pode nunca ser encontrado, nos trazendo assim tristezas e decepções ao longo da vida. Contudo fica muito difícil praticar a arte de se relacionar, dificuldade essa causada por nossas projeções e idealizações errôneas do amor. Tudo isso graças a esse leque de informações que nos são passadas, informações que muitas vezes estão baseadas nas vivencias dos outros, e não em nossas próprias experiências.
Dessa forma, esquecemos que o amor não busca a satisfação de apenas um ser, e que não se pode sugar tudo de uma pessoa até que ela fique em exaustão, e depois ir em busca de outrem para repetir o mesmo processo, perpetuando um ciclo de vazio e infelicidade.
O relacionamento a dois é muito amplo e complexo, a final cada um de nós traz consigo uma subjetividade, algo que nos diferencia em gostos e escolhas.Isso ocorre devido a vivência particular de cada um, por isso a dificuldade tão em tentar chegar a um ponto de equilíbrio, equilíbrio esse moldado e redefinido a cada dia dentro de um relacionamento.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nos dias de hoje o amor é visto de uma forma superficial e clichê, devido ao esgotamento de sua retratação nas indústrias cinematográfica, musical e literária. Olhando assim é difícil encontrar uma originalidade no amor dentre suas diversas formas de expressão, pois em geral ele é um assunto epidêmico e democrático em diversos pontos de vista, dentre pessoas que são leigas, de grande intelecto e filosóficas.
Segundo (DONÉ, 2016) exemplos de uma indústria cultural se encontram nos meios das produções com reflexos índie, cool, alternativo, romances, peças, roteiro, pesquisas, e análises. Sendo assim o núcleo do amor vem de todo lugar e pensamento discutido, contemplado tanto por filisteus e pelos intelectos mais exigentes, como os eruditos, os hedonistas incontroláveis, e estoicos resignados.
Em meio a tantas formas de expressar o amor, fica cada vez mais difícil de distinguir e visualizar algo novo, uma forma original desse objeto tão significativo para o ser humano. Mas acredite, haverá algo novo para se desfrutar, em uma relação amorosa onde o casal participe uma da vida do outro, de uma forma harmoniosa e prazerosa, se tornando importante e muitas vezes estimulante.
Um relacionamento a dois pode ser de infinitos modos e jeitos, isso dá-se à subjetividade de cada um dos indivíduos que formam esse par, tendo em vista que cada pessoa deve se adequar ao outro procurando uma forma de equilibro em meio as suas diferenças. Tornando o relacionamento harmonioso e prazeroso para cada uma das partes envolvidas.
O senso comum mostra o amor de uma forma popularesca através de obras de consumo que por sua vez são pobres intelectualmente, formando uma idealização muito superficial e generalista do amor. Tendo em vista essa forma generalizada, muitas pessoas enxergam o amor como um salvador, um meio de se livrar de seus problemas, de obter felicidade extrema, de acabar com a tristeza, de alcançar felicidade.
Mas, existe outro polo desse amor totalmente oposto, onde até mesmo pessoas muito intelectuais e por muitas vezes mal-amadas tratam esse assunto com uma decepção muito grande, como uma forma ruim de tristeza que não seria correta, isso devido as suas vivencias e decepções. Em muitos casos de pessoas é evidente que o amor se torna uma frustração, algo que incomode a pessoa, afinal quando gostamos de alguém esperamos a reciprocidade e quando isso não ocorre temos sentimentos ruins. Da mesma forma de quando temos um amor correspondido e em algum momento por motivos seus ou da outra pessoa esse sentimento não é mais recíproco, trazendo tristeza, vazio interno e decepções , visto que projetamos nosso futuro em conta de tal emoção.
Para algumas pessoas que tentam descrever o amor, ele é colocado como uma forma hostil, e muito ameaçadora. Não podemos julga-las por suas vivências, porém devemos ter bastante cuidado com as formas clichês que são transpassadas. Afinal o amor tem que ser sentido por nós, através de nossas experiências, para então ser pensado, falado e debatido com cuidado, lembrando sempre que o amor é relativo em cada situação.
O amor nos dias de hoje é tratado por muitos como uma forma de consumo, isto se dá devido a todos os sentimentos de satisfação que ele proporciona. As pessoas passam cada vez mais a vê-lo como um objeto de felicidade intensa, achando que ele será perfeito da forma como pensa, ou que se adaptara à maneira que melhor lhe convém.
A grande questão para quem vê o amor dessa forma consumista, é que ele acaba tratando o parceiro de maneira descartável, uma vez que este só serve para me trazer prazer. No primeiro momento que essa relação consumista não for mais prazerosa ela irá acabar, pois ela já não cumpre o seu único dever, que é o de satisfazer tanto emocionalmente quanto fisicamente um ser vazio, que desesperadamente está à procura de um amor utópico onde tudo será sempre perfeito.
O que muitos estão procurando nas relações amorosas é algo que na verdade não é o objetivo da mesma. Várias pessoas estão se relacionando para tentar preencher vazios em suas vidas, ou até mesmo como solução para a vida, e ao se relacionar com tal objetivo o fracasso da relação pode ser dado como certo.
A pessoa entra assim na vida amorosa crendo que ela será sempre linear, não apresentará nenhuma complicação, o parceiro sempre estará de acordo com o que pensa, mas isso não passa de uma ilusão que esse ser monta, para poder ter seu momento de êxtase ao consumir o amor.
Mesmo que quem procure o amor nesse modelo consumista consiga um pequeno momento de êxtase, que é o que ele de certa forma procura, enquanto ele estiver nesse ritmo de busca a um amor perfeito, como o dos filmes ou das músicas, dificilmente encontrará a felicidade (ao menos no lado amoroso da vida). Ele não sentirá o amor como uma grande comemoração da vida, ou jamais terá uma concepção desse sentimento como a de Erich Fromm (1900-1980) que diz que quando se ama de forma verdadeira um ser, ama-se então todos os seres, o mundo e a vida.
Assim fica firmado que muitas pessoas terão dificuldades em sua vida amorosa, e por conta disso terão um vazio em suas vidas pelo simples fato de não saberem se relacionar com outras pessoas, por ter sempre um olhar individualista sobre o amor.
Para entender o porquê de as pessoas possuírem dificuldades para se relacionar e são individualistas em vários âmbitos de suas vidas, inclusive no amor que é o mais importante para tal ensaio, temos que compreender que todo o atual contexto seja econômico, político ou cultural está sempre focado na individualidade, onde o eu está sempre centralizado. Como cita (MANZANO, 2016 p. 91) “o altruísmo, a valorização do próximo, a ética, a preocupação com a política, tudo isso fica de lado; afinal, são questões que envolvem o próximo, o outro com quem temos que conviver e com quem formamos um conjunto.”
Não foi de repente que a sociedade passou a se portar dessa maneira, isso foi uma transformação social que se passou em um momento recente da história e vários pensadores ajudaram a moldar esse pensamento individualista na atual sociedade, sendo alguns exemplos Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Sigmund Freud (1865-1939).
Entendendo essa questão social fica mais fácil entender o porquê que tantas pessoas na atualidade só vivem um “amor” mais vazio e consumista, apesar de muitas vezes quererem sim um dito amor verdadeiro, que como citado anteriormente seria uma celebração da vida. O problema é que mesmo buscando uma relação mais duradoura e firme, a individualidade da atual sociedade é muito impregnada na maioria das pessoas, e todas as relações incluindo a amorosa, acaba por existindo de uma forma mais supérflua em sua maioria.
Assim é mais difícil julgar quem busca tais amores passageiros, uma vez que tal busca é só um reflexo do individualismo da atual sociedade. E mais fácil encontrar um problema nas relações amorosas supérfluas da atualidade, uma vez que é claro que uma relação amorosa para ser prazerosa para ambas as partes envolvidas, o Eu não pode ser o centro da questão. Assim fica fácil dizer que as relações amorosas não devem ser individualistas, onde o eu e o prazer de um fica em foco, mas que sim devem ser plurais, onde ambos os envolvidos irão se entender, resolver problemas, compartilhar o amor, e amar o mundo.
Em meio a todas essas formas de amor, sendo clichês ou de consumo, é evidente as dificuldades que surgem para que haja interação entre as pessoas. Seus relacionamentos estão ficando cada vez mais fracos e frágeis, de difícil confiança no relacionar-se com alguém, a desconfiança muitas vezes toma conta da pessoa, não se consegue mais entregar-se e nem mesmo se dá um espaço para que o outro tenha ao menos uma chance de mostrar seu valor e suas boas características.
O conhecer virou superficial olhando-se apenas as aparências externas e sociais, aparências sociais muitas vezes vista também somente pelos meios tecnológicos das redes-sociais, o conhecer alguém não é mais conhecer de verdade, não se sabe mais coisas intimas de alguém e muitas vezes ao menos nos preocupamos em saber isso da pessoa, afinal nossas vidas já são corridas demais em meio aos trabalhos, estudos e problemas internos para nos preocupar com os dos outros. Então acabamos por esquecer que compartilharmos nosso sentimentos e dificuldades é muito importante para a vida e para saber lidar com os problemas do dia a dia, e por isso nos sentimos cada vez mais sozinhos e vazios como se o amor estivesse “esfriando”, mas também não estamos fazendo nada para aquecê-lo.
Para um relacionamento a dois, em meio a todos esses pensamentos que nos norteiam, é difícil o manter, as pessoas o iniciam mas logo e por motivos supérfluos e egoístas acabam o mesmo, o traço da individualidade atrapalha muito nesses pontos, o fato de esperar a adaptação do próximo ao invés de entendermos ele e procuramos nos adaptar acaba com as chances de o relacionamento ser duradouro, pois para se ter um relacionamento a dois saudável e que dure, ambos devem reconhecer a problemática do casamento ou namoro, e certas atitudes podem acabar com um relacionamento assim como também podem salva-lo ou mantê-lo.
O amor entre duas pessoas não é um mar de rosas, precisamos entender o próximo e sua particularidade dentro de vários pontos como, a rotina do casal, os familiares e diversos ambientes do qual cada um frequenta. Por exemplo o ciúme, que dá muitas dores de cabeça e o egoísmo, são pontos que quando bem trabalhados dentro da problemática do casal, muitas vezes torna o relacionamento mais saudável e duradouro.
A reflexão diária sobre esses assuntos é de extrema importância para as nossas relações, somente cada indivíduo saberá o que será melhor para o seu relacionamento e isso não será encontrado em livros, canções, filmes ou peças teatrais. Devemos então fugir do amor que nos é imposto, que é genérico e superficial, desfocando o modo certo de enxergar esse amor e muitas vezes sem bases sentimentais. A partir desses aspectos procuremos então o amor natural, concentrando-se no que de fato é importante para equilíbrio e harmonia de ambas as partes dentro de um relacionamento.
Com a fundamentação de um relacionamento o mesmo passará a ser mais próspero e feliz, porém não serão evitados momentos de tristezas ocasionando altos e baixos dentro da relação, com saltos de euforias e felicidades para tristezas e decepções. Não existe uma formula mágica para um relacionamento, mas sim meios e formas para passar por todas as etapas difíceis e boas, evoluindo com fortalecimento, adquirindo experiências e mais conhecimento para etapas futuras.
Para quebrar essa barreira que não permite que vivamos todos esses estágios de um relacionamento e de fato sejamos capazes de conhecer nossos parceiros, é necessário que quebremos um pouco a individualidade dos dias atuais, e assim nos permitamos expressar coisas mais pessoais para que também recebamos informações que serão confiadas somente a nós. Isso não garante que se terá um namoro ou casamento perfeito, mas de fato é um bom começo.
CONCLUSÃO
Portanto, com o estudo desse ensaio vimos o quão difícil é, e como está ficando cada vez mais, relacionarmos com o próximo, tendo em vista o relacionamento a dois como alvo principal, e a visão de amor que temos e que o mundo nos proporciona nos dias de hoje em meio a todas as formas de informação.
O amor de tanto ser falado e discutido de inúmeras formas acabou se tornando clichê e, portanto, até mesmo para os mais intelectuais e experientes no assunto fica difícil encontrar uma nova abordagem e formas de discussão sobre o assunto. E por muitas vezes tal assunto é tratado de forma errônia e manipuladora, levando as pessoas a terem visões destorcidas do amor, promovendo uma busca por um amor inacabável e inexistente que leva muitas vezes a decepções esmagadoras, ou incentivando a descrença no amor, tendo uma menor procura pelo sentimento.
Outra visão, é a de consumo desse sentimento, fazendo com que pessoas criem uma imagem supérflua do amor, de perfeição, imagem essa que não existe, trazendo consigo amores passageiros dos quais a pessoa salta de amor para amor em busca do que lhe foi comercializado. Assim vemos na atualidade um amor mais vazio e consumista, uma forma individualista do amor, esse que se preocupa só consigo mesmo, e não com o outro e seus sentimentos, tornando assim mais difícil julgar quem busca um amor natural e verdadeiro, de quem busca um amor comercial e supérfluo.
Então, percebemos que para alcançarmos um relacionamento saudável necessitamos de muita reflexão interna de nossas ações para com o próximo, buscando adaptação a diversas situações que uma relação nos promove, visando melhorias e evoluções para o casal e sempre lembrando que o relacionamento a dois não é somente alegria, nele haverá também tristezas e dores. A reflexão dos nossos atos como pessoas dentro da relação não é uma formula para que não aja discussões, brigas, intrigas e dores entre as duas pessoas, mas sim uma busca incessante pelo aperfeiçoamento e entendimento de ambas as partes, afinal estamos falando de dois seres diferente e em vários casos muito distintos,mas é isso que torna o convívio e o relacionamento empolgante, intrigante e podemos ate dizer “uma aventura sem fim.”
REFERÊNCIAS:
PLAMA, F. P. A Filosofia Explica: Porque é tão difícil se relacionar 1. Ed. São Paulo, Editora Escala, 2016.
O fóbico social e a dificuldade em manter relacionamentos. Disponível em <https://www.bonde.com.br/saude/sexualidade/o-fobico-social-e-a-dificuldade-em-manter-relacionamentos-224564.html >. Acesso em 01 de mar. 2018.
A dificuldade com relacionamentos amorosos. Disponível em <https://danielacarneiro.com/a-dificuldade-com-relacionamento-amoroso/ >. Acesso em 01 de mar. 2018.