Ao considerarmos que o ser humano é um indivíduo biopsicossocial, por que não considerar o aspecto religioso? No registro da obra Psicologia e Religião, Jung traz essa visão como algo a ser considerado pelos profissionais da saúde mental pois é o que há de mais antigo e universal no ser humano. Para Jung, a religiosidade é considerada uma atitude extremamente interligada com a subjetividade humana.
A experiência do numinoso (Contato com o desconhecido, com o sagrado) pode ser uma experiência com bastante dualidade quando se fala na psicologia clínica, pois a luta pela parte da ciência da psicologia às vezes apaga a importância dessas experiências para a construção do self.
Dentro da história da humanidade há um apelo por conhecer a origem de tudo, ter uma explicação para a vida em si. Esse conceito pode ser relacionado intimamente com os arquétipos e a simbologia que eles trazem, algo que está no inconsciente coletivo e que move os seres humanos.
“[…] Em nossa época há muitas pessoas que perderam sua fé em uma ou em outras religiões do mundo. Já não reservam nenhum lugar para ela. Enquanto a vida flui harmoniosamente sem ela, a perda não é sentida. Sobrevindo, porém, o sofrimento, a situação muda às vezes drasticamente. A pessoa procura então subterfúgios e começa a pensar sobre o sentido da vida e sobre as experiências acabrunhadas que a acompanham.” (JUNG, Espiritualidade e Transcendência, p.86).
Neste trecho, Jung fala sobre a importância que a religiosidade e as religiões têm para o sentido da vida dos seres humanos. Quando tais pensamentos de falta de sentido aparecem, é necessário a ajuda de um profissional, antes pessoas dentro da religião, hoje, psicólogos.
A relação entre psicologia e religião é íntima, visto que acreditar e ter vontade são conceitos utilizados em ambos. Ao tratar uma pessoa em sofrimento é necessário olhar profundamente no consciente e no inconsciente, a religião sendo uma parte importante dos dois não pode ser deixada de lado.
“No âmbito das interações entre indivíduo e psique coletiva, entende Jung que a existência de uma atitude religiosa viva e válida é o único meio capaz de promover esta conciliação” (ARANHA, 2004).
Referências
ARANHA, Maurício. Alguns aspectos da religião na psicologia analítica. Ciências & Cognição, v. 1, 2004.
JUNG, Carl Gustav. Espiritualidade e transcendência: Seleção e edição de Brigitte Dorst. Editora Vozes Limitada, 2015.