Relacionar-se é a capacidade de conviver com outras pessoas. As interações acontecem em contextos diversos, nas organizações e em casa. Ao conviver com o outro há uma troca de afeto e responsabilidades. Ainda na psicologia clássica, a ideia que nós nos conhecemos através dos outros eclodiu.
Geragogia é a educação para velhos. É o estudo de como se dá a aprendizagem de velhos, com o objetivo de proporcionar uma velhice consciente e produtiva. Willis e Schaie (1981) listaram 5 objetivos para a educação de pessoas velhas/antigas. A primeira é ajudar na compreensão corporal e de comportamentos que são manifestados na velhice. O segundo é proporcionar compreensão das mudanças tecnológicas do mundo contemporâneo. A terceira é torná-los capaz de desenvolver capacidade para de defender. A quarta é o adquirir novas aptidões a partir do que foi supracitado. E o quinto é proporcionar aos velhos um bom desenvolvimento, assim como proporcionar a descoberta de novos e diferentes papéis pessoais (OLIVEIRA, 2006).
Para Skinner, o comportamento é resultado de alguma alteração no ambiente, e este também altera o ambiente. Logo, as relações indivíduo-ambiente são controladas pelas consequências. A depender da consequência, tal comportamento irá aumentar ou diminuir, podendo resultar em reforço positivo e negativo. Caso a consequência seja desagradável a frequência tende a diminuir, resultando em estímulo aversivo/punitivo.
Afeto e comportamento social na educação gerontológica
A educação gerontológica deve levar em conta, à priori, a personalidade, comportamentos e o ambiente que se inserem os adultos seniores. Para tanto, o Psicólogo Educacional das pessoas velhas deve ser capaz de entender, classificar, e intervir nos comportamentos, e desse modo, promover não apenas a remediação de situações já existentes, mas de forma interdimensional, preveni-las da maneira possível (BARROS-OLIVEIRA, 2006).
Porém, cada idoso tem suas experiências de vida, positivas ou negativas, em contextos diversos. Destarte, é necessária uma educação diferencial e contextual, com características individualizadas. O método de ensino/aprendizagem também é diversificado: deve-se recorrer mais às experiências acumuladas do que fornecer novos conhecimentos, desencadeando novas compreensões do que já existe para os educandos, dar a luz a novas interpretações, promover a auto-educação (BARROS-OLIVEIRA, 2006).
Via de regra na educação convencional, busca-se o desenvolvimento de habilidades e recursos cognitivos sofisticados nos educandos, porém, para uma condição de aprendizagem satisfatória, gerontológica ou não, espera-se que os aprendentes se sintam implicados e que haja satisfação pessoal quando o aprendido seja executado.
Logo, as análises sobre a satisfação em aprender e a afetividade envolvida no processo estão intimamente ligadas ao papel das consequências dos comportamentos envolvidos na aprendizagem. Esse fenômeno tem sido discutido na abordagem Análise do Comportamento, que teve como expoente B. F. Skinner (BENVENUTI; OLIVEIRA; LYLE, 2017).
Reconhecer que quem está no processo de aprendizagem está ativo e transformando seu ambiente leva à possibilidade do manejo das consequências desses comportamentos. Pode-se manipular as consequências a quem se comportou de modo que os comportamentos esperados se repitam no futuro. As consequências mais importantes no contexto da aprendizagem são aquelas advindas de outras pessoas, os chamados reforçadores sociais. De maneira simplificada, podem ocorrer em expressões faciais, elogios, contato físico, sorriso, entre outros. Essa classe de reforçadores contribuem para o fortalecimento de vínculos com todos os envolvidos no processo de aprender (BENVENUTI; OLIVEIRA; LYLE, 2017).
Entre outros aspectos, alguns determinantes para a velhice bem sucedida envolvem a saúde, a manutenção do nível de funcionamento cognitivo e físico e a manutenção da participação social. Esses marcadores abrangem as dimensões física, psíquica e social, sendo a social composta por elementos de comunicação, convivência, sentimento de pertença, entre outros aspectos (BARROS-OLIVEIRA, 2006).
Um dos benefícios da expansão da dimensão social, é em partes o autoconhecimento e o estabelecimento de novos significados para a própria existência em relação ao outro. Para Leite (1997), a representação que o outro nos dá de nós mesmos, funciona como o efeito de um espelho, pois, as imagens que temos de nós são sucessivas imagens que os outros nos dão de nós. Caso contrário, não poderíamos saber quem somos. Nas palavras de J. P. Sartre, “o outro guarda um segredo: o segredo do que eu sou”.
Para tanto, o valor da aproximação com outras pessoas depende que o comportamento aproximativo e a manifestação de afetividade seja seguido de consequências reforçadoras. Ainda que essas consequências sejam extrínsecas por serem arranjadas por outros, elas são relacionadas com motivação intrínsecas à medida que a interação social é um dos objetivos da educação (BENVENUTI; OLIVEIRA; LYLE, 2017).
Desse modo, os Psicólogos Educacionais dos idosos devem encorajar o entusiasmo, estar atentos aos estímulos que podem provocar consequências reforçadoras às pessoas velhas, considerando suas características de vida, suas histórias, seus conhecimentos prévios e suas redes afetivas.
Antes de assumir qualquer posição de saber, o psicólogo que se debruça sobre a Geragogia deve compreender que com sua vasta sabedoria, as pessoas velhas podem educar através da experiência, enquanto os mais novos devem se dispor a aprender mais (BARROS-OLIVEIRA, 2006).
Portanto, o afeto, a análise do comportamento e as relações interpessoais apresentam-se como ferramentas para a ressignificação e flexibilização do vasto conhecimento já existente nos idosos, promovendo assim, mais saúde e qualidade de vida.
Princípios Básicos da Análise Experimental do Comportamento aplicados à Geragogia
A perspectiva Analista comportamental, traz a noção de que o comportamento sofre influências do meio, isto é, há uma interação entre organismo-ambiente. Dessa forma, dentro de um conjunto de contingências, é possível a separação do que se apresenta como Estímulo (alteração no ambiente que produz uma alteração no indivíduo) e do que se apresenta como Resposta (alteração no indivíduo causada pelo o estímulo).
Logo, o comportamento para Skinner é entendido como a relação entre vários estímulos, dentre eles: público; privado; histórico; imediato social e não social, uma relação entre o organismo e o ambiente,se apresentando como um processo que muda ao longo do tempo.
A partir da perspectiva supracitada, comportamentos são estudados basicamente por dois tipos de relações, tanto os respondentes como os operantes. No caso dos respondentes as respostas de um comportamento são emitidas pelo estímulo antecedente apresentado, os comportamentos operantes são influenciados pela consequência conforme o contexto apresentado (HENKLAIN 2013).
Analisando essas variáveis, é possível a identificação de estímulos reforçadores e/ou punitivos, o que Skinner mais a frente denominou como aprendizagem pelas consequências de modo reforçador (aumento da frequência da resposta)e/ou por controle de estímulos aversivos (diminuição da frequência da resposta).
Portanto, para se começar a entender como a Análise do Comportamento enxerga o “aprender” do idoso, é necessário enfatizar que cada idoso possui um vasto repertório de vida, e que todo o processo de ampliação e ressignificação desse repertório, parte de um processo contingencial individualizante e interacionista, concomitantemente, os comportamentos possuem características funcionais no ambiente e não podem partir de uma análise unilateral, considerando que determinado comportamento só é possível a partir da interação indivíduo-ambiente.
Segundo Farias (2017) os indivíduos que pertencem a grupos nos extremos desse “contínuo desenvolvimento humano”, passam por transformações biológicas e comportamentais significativas, e como consequência, necessitam de programações especiais de contingência para produzir compensações comportamentais e ambientais.
O que Barros-Oliveira (2006) descreve que os métodos de ensino/aprendizagem para os velhos também devem ser diversificados, utilizando os princípios básicos da análise experimental do comportamento, como por exemplo, averiguar os estímulos respondentes e operantes, para obter um melhor resultado no desempenho do processo da Geragogia.
Ao ensinar pessoas idosas devemos principalmente desencadear uma nova integração aos estudos, analisando os efeitos da interação entre os velhos e o ambiente, como descreve Henklain (2013 p. 712) “[…] o tipo da tarefa que o professor requisita às consequências que o aluno produz com a realização da tarefa, a clareza da tarefa ou das instruções para a sua realização etc.” utilizando os reforçadores que estimulam a melhor compreensão do conteúdo ministrado.
Outro fator capaz de explicar o comportamento, é reconhecer o indivíduo nas suas facilidades e dificuldades de aprendizagem. Cada velho deverá passar por uma avaliação onde será feita uma análise sobre a sua história de aprendizagem, as condições sob as quais se comportam e as consequências que produz. Portanto, o planejamento de ensino, deverá ser aplicável a realidade e flexível para atender às necessidades demandadas (HENKLAIN 2013).
Salientando a importância desse processo, pois assim, os idosos podem se beneficiar de práticas culturais que evitam a exagerada limitação de seu repertório comportamental e do estabelecimento de comportamentos voltados à saúde, de modo a manter as funções orgânicas satisfatórias por um período de tempo maior (FARIAS 2017).
A educação das pessoas velhas é necessária, visando a construção de uma sociedade com participação de todos, independente da fase do ciclo vital. Visto que na atualidade, pessoas antigas representam uma boa parte da população. Logo se faz necessário dar vez e voz a estas pessoas, para que se tenha uma sociedade e uma geração bem resolvida e satisfatória. Para isto, vimos que o estabelecimento boas relações interpessoais ajudam neste processo, visto que o indivíduo influencia e é influenciado pelo outro em seu meio social. Assim, uma relação de simpatia entre professor-aluno ajuda no processo de fortalecimento, adaptação e desenvolvimento de novos papéis.
REFERÊNCIAS:
BARROS-OLIVEIRA, José. EDUCAÇÃO DAS PESSOAS IDOSAS. Psicologia, Educação e Cultura: Revista do Colégio Internato dos Carvalhos, Pedroso, Portugal, v. 2, n. 10, p.267-309, dez. 2006. Semestral.
BENVENUTI, Marcelo Frota Lobato; OLIVEIRA, Thais Porlan de; LYLE, Leticia Albernaz Guimarães. Afeto e comportamento social no planejamento do ensino: a importância das consequências do comportamento. Psicologia USP, v. 28, n. 3, p. 368-377, 2017.
DE-FARIAS, Ana Karina CR; FONSECA, Flávia Nunes; NERY, Lorena Bezerra. Teoria e Formulação de Casos em Análise Comportamental Clínica. Artmed Editora, 2017.
HENKLAIN, Marcelo Henrique Oliveira. CARMO, João dos Santos.Contribuições da análise do comportamento à educação: um convite ao diálogo. Cad. Pesqui. [online]. 2013, vol.43, n.149, pp.704-723. ISSN 0100-1574. Acesso em 30 de out de 2018, disponível em :< http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742013000200016>.
LEITE, Dante Moreira. Educação e relações interpessoais. In: PATTO, Maria Helena Souza. Introdução à Psicologia Escolar. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. Cap. 1. p. 301-328.