Vetores Ideológicos da Psicologia Comunitária

Vetor ideológico: Metodologia Participativa

No artigo de Nepumuceno et al (2013) os autores defendem o valor da metodologia participativa na realização das atividades em comunidade, ou seja, o uso de um método que permita a participação direta dos sujeitos, e não os considere somente como meros receptores. Pois acredita ser extremamente relevante na execução de um trabalho social e facilita o conhecimento mútuo. Foi o que utilizaram num projeto de extensão que tinha como foco a saúde comunitária, realizado na comunidade do Bom Jardim, conteúdo este confirmado pelos autores, no trecho “As metodologias participativas favoreceram a aproximação da equipe com a realidade social e propiciaram a construção dos vínculos em equipe, trabalhadores e usuários desses equipamentos, o que possibilita a apropriação e conhecimentos dos espaços, pessoas e relações”.  Sendo assim um método que necessita da participação dos interessados, na comunidade segue uma linha horizontal que depende do outro, da reciprocidade porque a mudança não acontece de fora para dentro, a pesquisa participativa ajuda os membros encontrar a solução que parte de dentro dos próprios sujeitos.

Já no artigo de Ximenes, de Paula e Barros (2009), apresentam o mesmo valor que surge quando a comunidade e a equipe são levadas a conhecer toda a realidade social, os limites, desafios, conflitos. Conteúdo que pode ser proporcionado pelas técnicas do método participativo, na presença de diálogos, entrevistas, no conhecimento das atividades cotidianas, do processo econômico e social daquele lugar, o que facilitará a análise das demandas, a organização e mobilização daquelas pessoas no território que vivem, detectando seus potenciais individuais e coletivos (metodologia apontada pelo SUAS as equipes do CRAS) e assim poder  fomentar novas atividades comunitárias, cujo o objetivo é a melhoria da qualidade de vida coletiva e a Proteção Social Básica, citado no artigo. Ideias comprovadas no trecho:

“a práxis psicológica apresentada pode se orientar pelos seguintes eixos: a familiarização com o contexto comunitário, identificação conjunta de necessidades e potencialidades, elaboração de perspectivas de ação e trabalho coletivo pautado na avaliação processual e na sustentabilidade das ações (Monteiro, 2006).  Para tanto, utiliza aportes participativos, como a observação-participante (Gois, 1994; Monteiro, 2006) a pesquisa-participante e a ação-participante (Góis, 1994), bem como o acompanhamento de grupos comunitários (Góis, 1994; Monteiro 2006). ”

Diante dessa perspectiva os autores Junior e Ximenes, (2010) em suas produções defende o vigente valor, ao considerar o método participativo influente inclusive para desenvolvimento de outros métodos semelhantes, também advindos da psicologia comunitária. E é na união a essa ciência que será proporcionado a compreensão da atividade comunitária, facilitando a interação entre psicólogo e morador, na utilização desses aportes participativos. Elementos que serão fundamentais para percepção da vida em comunidade, e para que assumam essa realidade, oportunizando assim uma transformação do indivíduo, do coletivo e finalmente da realidade social. Dessa forma Junior e Ximenes se apoiam em outros teóricos para fundamentar suas teses, como pode ser apresentado no trecho:

“Segundo Thiollent (2005), as metodologias participativas são aplicadas de forma coletiva, com diversos graus de participação dos interessados. Montero (2006) enfatiza que a participação favorece o trabalho comunitário dos diferentes atores sociais e o alcance de um objetivo comum. Góis (2008) enfatiza a importância da participação. Para ele, a atuação comunitária propicia a autonomia, participação e sentimento de pertença de todos nas atividades comunitárias. A influência de instrumentais metodológicos participativos na construção do método dialógico-vivencial em Psicologia Comunitária possibilita um aparato maior para a compreensão da atividade comunitária”

Vetor ideológico: Empoderamento

No artigo de Nepomuceno et al. (2013) é retratado a questão de participação social da comunidade como contribuição para a saúde. Quando falamos de participação social, somos remetidos a pensar na questão do empoderamento, que vem ilustrada de forma implícita no texto. De acordo com o dicionário online, Significados, vamos definir o que é o empoderamento:

“Empoderamento é a ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a conscientização civil sobre os direitos sociais e civis. Esta consciência possibilita a aquisição da emancipação individual e também da consciência coletiva necessária para a superação da dependência social e dominação política. ” (SIGNIFICADOS, 2011)

Diante da definição podemos notar que os trabalhos “Participação Social na Comunidade do Bom Jardim” e “Avaliação participativa de uma Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ” vieram exatamente de encontro com este valor. No momento que os usuários do CAPS e seus familiares foram convidados a participar da avaliação e das assembleias do centro eles passaram a ter mais consciência dos papeis exercidos ali, e principalmente, conseguiram mensurar as mudanças que já estavam sendo colocadas em prática ali naquele local. O resultado do processo de empoderamento que foi vivenciado naquele ambiente gerou uma série de medidas, decisões e cuidados para serem colocados em pratica que iriam melhorar as condições de atendimento do local, e o mais interessante de tudo isso é que foram os próprios usuários que ajudaram para que houvesse essa evolução.

Ainda no texto de Nepomuceno é citado o trabalho de Rodrigues, Brognoli e Sprisigo (2006):

“[o trabalho] corroborou essa linha de atuação quando discutiu a importância da participação em uma associação de usuário de um CAPS como espaço de informação e formação, construção de autonomia, pertencimento, instrumento político e de empoderamento, que, segundo os autores, é compreendido como a solidariedade dos participantes no desenvolvimento de ações coletivas. A participação dos usuários e familiares nessa associação colabora com o fortalecimento da Reforma Psiquiátrica, gestão das políticas públicas, processo de reivindicação de direitos e de construção coletiva. ” (NEPOMUCENO et al., 2013)

Já no artigo de Ximenes, de Paula e Barros (2009) o mesmo valor surge quando falamos dos diálogos possíveis entre a psicologia comunitária e a proteção social básica, pois o ser humano não só reage ás injustiças como também é um ator social que participa da criação do dia a dia da comunidade. Este cidadão é trazido para o foco, pois é agente ativo do processo de transformação de determinada comunidade (XIMENES apud MONTEIRO, 2009). Isso também é empoderamento. Eles são construtores das ações que serão desenvolvidas juntamente com a equipe multidisciplinar, agindo de forma ativa no planejamento, execução, avaliação e aprimoramento de medidas. “A atividade comunitária realiza-se por meio da cooperação e do diálogo em uma comunidade, sendo orientada por ela mesma e pelo significado (sentido coletivo) e sentido (significado pessoal) que a própria atividade e a vida comunitária têm para os moradores da comunidade. ” (XIMENES apud GÓIS, 2009)

Então o autor Vasconcelos também fala da importância do empoderamento para usuários e familiares em saúde mental no texto “Empoderamento de usuários e familiares em saúde mental e em pesquisa avaliativa/interventiva: uma breve comparação entre a tradição anglo-saxônica e a experiência brasileira”. Ele faz uma contextualização do empoderamento, comparando as atividades que empoderam seus usuários hoje no brasil com o self-help da tradição anglo-saxônica. E ao comparar a tradição anglo-saxônica com a experiência brasileira, lá existe muito esse empoderamento, uma autonomia onde o indivíduo pode escolher o que lhe convém dentro do tratamento. Isso faz com que eles se apropriem de uma liberdade que pode ser positiva ou negativa a eles, para que ele possa ser conduzido nesse processo de busca pela saúde mental (VASCONCELOS, 2013). No Brasil, os usuários têm opções e uma liberdade de participar dos processos sociais, da realidade da sua comunidade.  E faz parte deste trabalho ser multidisciplinar para que a pessoa se sinta responsável pela própria saúde, fazendo com que ele alcance sua saúde mental.

REFERÊNCIAS:

NEPOMUCENO, Léo Barbosa et al. Participação social em saúde: contribuições da psicologia comunitária. 2013. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/10102/8847>. Acesso em: 04 nov. 2016.

REBOUÇAS JÚNIOR, Francisco Gilmário; XIMENES, Verônica Morais. Psicologia Comunitária e Psicologia Histórico-Cultural:: Análise e Vivência da Atividade Comunitária pelo Método Dialógico-vivencial. Revista Lapip, Fortaleza, v. 5, n. 2, p.151-162, ago. 2010. Disponível em: <http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/revistalapip/volume5_n2/Reboucas_Junior_e_Ximenes.pdf>. Acesso em: 09 nov. 2016.

SIGNIFICADOS: Encontre aqui significados, conceitos e definições sobre os mais variados assuntos. Portugal: 7graus, 2011-2016. Disponível em: <https://www.significados.com.br/empoderamento/>. Acesso em: 08 nov. 16.

VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Empoderamento de usuários e familiares em saúde mental e em pesquisa avaliativa/interventiva: uma breve comparação entre a tradição anglo-saxônica e a experiência brasileira. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232013001000007>. Acesso em: 08 nov. 2016.

XIMENES, Verônica Morais et al. Psicologia comunitária e política de assistência social: diálogos sobre atuações em comunidades. 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932009000400004>. Acesso em: 04 nov. 2016.