Drones: entre evolução tecnológica, poder e bom senso

 

Os primeiros conflitos armados entre seres humanos remontam ao período neolítico, na pré-história, época em que se iniciou o processo de sedentarização, com as sociedades deixando de ser nômades. Quando um grupo não conseguia suprir suas necessidades alimentares na região em que habitava, como no caso de estiagens, ele era forçado a atacar e roubar o grupo vizinho para sobreviver. As armas usadas eram pedras e a força.

 

Bomba Atômica – Hiroshima (esquerda) e Nagasaki (direita)

 

Atualmente, não existe motivação para conflitos semelhante à dos nossos ancestrais, mas as tecnologias para matar e destruir evoluíram imensamente. Dentre estas, a mais temida, sem dúvida, é a bomba atômica, que em segundos é capaz de dizimar cidades inteiras, sem distinção entre inocentes e culpados. Já a última moda são os drones (zangões), também conhecidos mais formalmente como Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT’s), que têm ganhado popularidade pelo risco reduzido, uma vez que dispensam tripulação e podem ser gerenciados à distância.

 

Predator UAV

Considerando as armas de guerra existentes, eles representam vantagem sobre a bomba atômica, e outros tipos de bombas e foguetes, por serem mais precisos. Isto ocorre porque eles podem facilmente se dirigir até as regiões alvo orientados por coordenadas geográficas e lá realizar seus ataques, reduzindo o risco de erro e evitando assim, as baixas de civis. Já o fato de dispensarem os pilotos faz com que, em caso de abate pelos inimigos, ocorram apenas perdas materiais. Sob esse prisma, surge uma conclusão bastante contraditória, mas que representa uma ponta de esperança para os povos de governos beligerantes, a de que os drones tornam os conflitos mais seguros.

Supondo, em um mundo hipotético mais igualitário, que os drones fossem acessíveis a quaisquer países, para que eles pudessem se tornar preferidos nos conflitos armados, garantindo suas vantagens, bastaria que os governantes avaliassem as vidas humanas com maior valor. Sabemos que em muitos casos não é assim, mas pelo menos, a comunidade internacional e os principais chefes de estado têm tido uma preocupação cada vez maior para que as guerras não gerem vítimas civis. E não é para menos, já que governos posteriores a governos carniceiros e o próprio Tribunal de Haia têm condenado duramente os ex-governantes que tenham assassinado inocentes deliberadamente. Seriam, portanto, os drones a melhor opção para todos? Talvez pudessem ser, mas em guerras civis, governantes com “culpa no cartório” não hesitam em sacrificar sua própria população quando sua liderança está na berlinda. Melhor matar do que ser morto. E ao se manterem no poder, evitam a condenação por crimes de guerra. Abundam exemplos contemporâneos, como Bashar al-Assad, da Síria, e Muammar Khadafi, da Líbia, que ainda tirou muitas vidas antes de ser capturado e assassinado.

 

Operadores de Drones

 

Se por um lado, os drones representam a possibilidade de menos mortes em embates, por outro, a facilidade de matar por engano e de invadir espaços de outros países lhes atribuem má fama. São inúmeros os relatos de ataques em que vítimas inocentes foram confundidas com os mais perigosos terroristas. O problema não chega a ser com a tecnologia, mas com quem a está operando. Na prática, pouco importa, pois por conta disto, os drones de ataque já angariaram um alto grau de antipatia entre os povos que tiveram concidadãos atingidos.

De toda forma, os drones de guerra e as tecnologias bélicas mais avançadas obviamente não estão ao alcance da maioria dos países, o que, na prática, só tem gerado desequilíbrio de forças, com destruições maiores de um lado do que de outro. A vantagem disto é que as guerras tendem a durar menos tempo e, consequentemente, matar menos. Por outro lado, o mundo vai ficando com a cara somente dos mais poderosos, que colocam seu aparato militar como argumento nas mesas de negociação, levando a uma paz coagida. Isto poderia levar a revanchismos, mas, por coincidência ou não, a cultura e os costumes têm ficado cada vez mais planificados, ou globalizados.

 

Neste ponto, o Capitalismo entra como grande aliado dos países mais poderosos, oferecendo um estilo de vida sedutor, filmes, aparelhos eletrônicos, carros, viagens etc. É a velha técnica do pão e circo, tão disfarçada e presente no nosso cotidiano, que nem a percebemos. Mas não precisamos nos culpar, pois até agora não houve nenhuma organização da sociedade que, escala global, pudesse trazer mais bem-estar e liberdade que a contemporânea.

Neste cenário, chega a ser irônico o fato de que as guerras acabam por desenvolver tecnologias que passam a ser comercializadas para uso civil. Dentre estas, os próprios drones têm ganhado bastante espaço nas empresas, no setor público e até mesmo nos lares. Temos aqui uma chance para os drones desfazerem sua má fama, já que neste caso eles visam fins pacíficos. É fácil comprar drones pela Internet, para recreação ou retorno financeiro, como a fotografia e a produção de filmagens aéreas, que antes só eram possíveis com o uso de aviões ou helicópteros, o que saía bem mais caro.

 

 

Algumas das principais utilidades práticas dos drones estão no patrulhamento de estradas, no acompanhamento de construções, na segurança pública e privada e em tarefas paparazzi, na perseguição a personalidades. Todas têm gerado polêmicas acerca da privacidade, sendo que a última é a que mais chama a atenção. Inclusive, um caso que repercutiu recentemente foi o dorapper estadunidense Kanye West, que teve sua casa invadida por drones de captura de imagens, o que ampliou as discussões relacionadas à privacidade e à destreza de quem os conduz, já que ainda não existem regulamentações para sua operação.

 

 

Em resumo, nem na utilização civil, os drones deixam de ser alvos de polêmica, e isto ainda tende a aumentar, uma vez que eles estão em processo de popularização. Assim como toda tecnologia que vai se tornando de amplo acesso, será necessário que a sociedade se acostume com eles, possivelmente com a adoção de regulações. De toda forma, ambos os tipos de drones, bélicos ou pacíficos, são exemplos de que, por mais que a ciência se esforce e tenha o mérito de desenvolver novas tecnologias, com as mais nobres finalidades, ainda fica a critério de quem as opera utilizá-las da maneira mais adequada. Nada com o que se preocupar tanto, já que ao longo da História fomos nos acostumando e reagindo ao processo de introdução de novas tecnologias e modos. Caso contrário, correríamos o risco de ainda viver como nossos ancestrais do início do texto.

Bacharel em Sistemas de Informação pelo CEULP/ULBRA. Mestre em Sistemas e Computação na linha de pesquisa de Engenharia de Software pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Analista judiciário - análise de sistemas - do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Tocantins.