O uso excessivo de telas pode causar transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?

Analisando a influência do uso digital sobre a saúde mental e refletindo estratégias para um equilíbrio saudável.

No cenário atual, a tecnologia digital tornou-se um componente essencial da vida cotidiana, desde a infância até a idade adulta. Dispositivos como smartphones, tablets e computadores são amplamente utilizados para uma variedade de atividades, desde o aprendizado e o trabalho até o entretenimento e a comunicação. No entanto, com o aumento do tempo dedicado a essas telas, surgem preocupações sobre os impactos potenciais desse uso excessivo na saúde mental, especialmente no que diz respeito ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Este texto explora as evidências científicas mais recentes sobre a relação entre o uso excessivo de telas e o TDAH, analisando como a exposição a tecnologias digitais pode influenciar o desenvolvimento e os sintomas desse transtorno.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico que afeta uma proporção significativa da população infantil e pode continuar a impactar indivíduos na vida adulta. Caracteriza-se por dificuldades persistentes na manutenção da atenção, controle dos impulsos e regulação comportamental. Estudos genéticos e neurológicos mostram que o TDAH possui uma base genética significativa, com a herança genética desempenhando um papel crucial na sua manifestação (Faraone et al., 2021). Além disso, o transtorno está frequentemente associado a anomalias em áreas cerebrais responsáveis pela regulação da atenção e controle dos impulsos (Faraone et al., 2019).

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O Papel das Telas no Desenvolvimento Infantil

A tecnologia digital é uma parte predominante do ambiente moderno das crianças, e a quantidade de tempo gasto em dispositivos digitais tem aumentado consideravelmente. Estudos recentes têm indicado que o uso excessivo de telas pode ter impactos negativos no desenvolvimento cognitivo e comportamental das crianças. Radesky et al. (2021) descobriram que a exposição prolongada a dispositivos digitais está associada a dificuldades de concentração e comportamento impulsivo. Isso pode ser atribuído à natureza fragmentada e altamente estimulante dos conteúdos digitais, que pode interferir na capacidade das crianças de se concentrarem em tarefas que exigem atenção sustentada.

Como o Uso Excessivo de Telas Pode Influenciar a Atenção e o Controle Impulsivo

  1. Impacto na Atenção Sustentada:
    A capacidade de manter a atenção em tarefas prolongadas é fundamental para o aprendizado e o desenvolvimento acadêmico. No entanto, a exposição contínua a mídias digitais, que frequentemente oferece gratificação instantânea e mudanças rápidas de estímulos, pode dificultar a capacidade das crianças de manter o foco por períodos prolongados. Estudos demonstram que a exposição a mídias digitais pode prejudicar o desempenho em tarefas que exigem atenção sustentada (Lillard et al., 2022). A gratificação instantânea proporcionada por dispositivos digitais pode reduzir a capacidade das crianças de lidar com tarefas que exigem paciência e perseverança, afetando negativamente a capacidade de concentração.
  2. Memória de Trabalho e Funções Executivas:
    A memória de trabalho, essencial para reter e manipular informações temporárias, também pode ser impactada pelo uso excessivo de telas. O uso intenso de tecnologia tem sido associado a um desempenho reduzido em tarefas que exigem memória de trabalho e outras funções executivas (Jiang et al., 2022). A natureza multitarefa do uso de dispositivos digitais pode interferir na capacidade das crianças de processar e manter informações relevantes, refletindo em dificuldades acadêmicas e comportamentais.
  3. Controle Impulsivo e Regulação Emocional:
    O uso constante de estímulos digitais pode influenciar a capacidade das crianças de controlar impulsos e regular emoções. Estudos sugerem que o uso excessivo de dispositivos digitais está associado a um aumento na impulsividade e a dificuldades na regulação emocional (Bayer et al., 2021). A gratificação instantânea proporcionada por jogos e redes sociais pode reduzir a tolerância à frustração e impactar a capacidade das crianças de lidar com desafios e controlar impulsos.

A Interação entre Genética e Ambiente

Embora o TDAH tenha uma base genética significativa, fatores ambientais também desempenham um papel na manifestação e gravidade dos sintomas. A interação entre predisposição genética e ambiente digital pode ser complexa e exacerbar os desafios enfrentados por crianças predispostas ao transtorno. Estudos indicam que a exposição a mídias digitais pode potencialmente agravar os sintomas do TDAH em crianças com predisposição genética (Hale et al., 2022). Essa interação destaca a necessidade de considerar tanto os fatores genéticos quanto os ambientais ao avaliar o impacto do uso de telas.

Estratégias para um Uso Saudável das Telas

Para minimizar os possíveis efeitos negativos do uso excessivo de telas, é essencial adotar práticas que promovam um equilíbrio saudável entre atividades digitais e não digitais:

  1. Estabeleça Limites de Tempo:
    Definir limites claros para o tempo de tela pode ajudar a equilibrar atividades digitais e não digitais. A American Academy of Pediatrics recomenda que crianças com idades entre 2 e 5 anos tenham um máximo de uma hora de tempo de tela por dia (American Academy of Pediatrics, 2022). Estabelecer tais limites pode promover um desenvolvimento saudável das habilidades de atenção e controle impulsivo.
  2. Incentive Atividades Diversificadas:
    Atividades que exigem concentração e engajamento, como leitura, esportes e jogos de tabuleiro, podem ajudar a desenvolver e reforçar habilidades cognitivas essenciais. Estudos sugerem que atividades não digitais podem fornecer um contraponto benéfico às rápidas mudanças de estímulos das mídias digitais (Gingold et al., 2021). Incentivar uma variedade de atividades pode contribuir para um desenvolvimento cognitivo mais equilibrado.
  3. Crie Ambientes de Estudo Sem Distrações:
    Garantir que as crianças estudem em ambientes livres de distrações digitais pode melhorar a capacidade de atenção e a memória de trabalho durante o estudo. A criação de espaços dedicados ao estudo, onde dispositivos digitais não são permitidos, pode ajudar a manter o foco e aumentar a eficiência acadêmica (Becker et al., 2021).
  4. Eduque Sobre o Uso Responsável da Tecnologia:
    Ensinar as crianças a usar a tecnologia de forma equilibrada e consciente é crucial para promover uma relação saudável com dispositivos digitais. Conversas abertas sobre os benefícios e riscos do uso de tecnologia podem ajudar as crianças a desenvolver hábitos de uso mais saudáveis e produtivos (Levin et al., 2022). A educação sobre o uso responsável pode auxiliar na formação de um comportamento equilibrado em relação às tecnologias digitais.

Conclusão

Embora, não haja evidências conclusivas de que o uso excessivo de telas cause diretamente o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), há um crescente corpo de evidências que sugere que o uso excessivo de dispositivos digitais pode agravar os sintomas relacionados à atenção e ao controle impulsivo, especialmente em crianças com predisposição genética para o transtorno. Adotar uma abordagem equilibrada no uso da tecnologia e implementar práticas saudáveis pode ajudar a mitigar esses efeitos e promover o desenvolvimento cognitivo e comportamental saudável das crianças. Com uma gestão cuidadosa e estratégias práticas, é possível minimizar o impacto negativo do uso de telas e apoiar um desenvolvimento mais equilibrado e produtivo.

 

Referências

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