O conceito de triangulação sob a perspectiva sistêmica na teoria do psiquiatra e um dos precursores da Terapia Familiar Sistêmica, Murray Bowen, representa o funcionamento de um sistema inter-relacional entre três pessoas nas relações familiares que, geralmente, quando o nível de ansiedade se expressa, a terceira pessoa é convocada para aliviar a tensão entre as outras duas pessoas.
Guerin, Porarty, Fay e Kauto (1996) afirmam que a maior influência sobre a atividade dos triângulos é a ansiedade. De forma concomitante, quando a ansiedade aumenta, as pessoas tendem a sentir maior necessidade de proximidade emocional ou de distância, dependendo de sua reação ao sentir-se pressionado. Portanto, o processo de triangulação é engatilhado pelo impulsionamento da ansiedade que, como reação automática, tende a deixar as pessoas menos tolerantes umas com as outras e, consequentemente, causa o fortalecimento da polarização das diferenças.
Bowen defende que a triangulação é um processo interacional estabelecido no sistema familiar que ocorre quando duas pessoas possuem problemas que não conseguem conversar e resolver e, como saída, buscam uma terceira pessoa para tentar resolver as coisas ou para aliviar a tensão, já que ela é dividida em três relações, causando a dispersão de energia.
Os triângulos emocionais podem ser constantes dentro do sistema ou não, a depender se a participação da terceira pessoa é fixa, podendo resultar na triangulação como uma parte regular do relacionamento. Guerin e Guerin (2002) distinguiu “triângulos” como uma estrutura de relacionamento e “triangulação” um processo reativo.
É importante ressaltar que um grupo de três não é necessariamente um triângulo, pois pode haver interação entre cada dupla e cada pessoa assumir seu posicionamento sem a intenção de modificar os outros. Já na configuração dos triângulos, as interações estão relacionadas ao comportamento da terceira pessoa, sendo que cada pessoa é movida por formas reativas de comportamento sem conseguir assumir uma posição pessoal sem sentir a necessidade de mudar as outras duas. Portanto, a problemática dos triângulos é que eles caminham para se tornar fixos nas relações, modificando e rompendo o relacionamento original.
Como consequência, a triangulação resulta na falta de diálogo nas relações e, consequentemente, no congelamento da resolução dos conflitos. Portanto, a teoria boweniana também realça a importância da “destriangulação”, ato de aprender a perceber a triangulação emocional entre os membros e controlar a participação automática.
Segundo Bowen (1979), a destriangulação é o processo realizado para conseguir manter o contato com um sistema emocional que envolve a si mesmo e a outras pessoas, sem tomar partido por nenhuma das partes, sem contra-atacar nem defender-se e buscando sempre manter uma linha neutra de resposta, ou seja, a separação de um indivíduo do campo emocional de outros dois reforça. O autor reforça que os problemas nas relações podem ser resolvidos quando se tem a diferenciação do self e o reconhecimento das responsabilidades, que caminham para a procura por soluções. Os bowenianos objetivam, no processo terapêutico, bloquear a triangulação e encorajar a posição-eu.
REFERÊNCIAS
SANTOS, Nara Elisete Bender. A triangulação e seus múltiplos aspectos no contexto familiar: um olhar relacional sistêmico. Florianópolis, 2008.
NICHOLS, Michael P.; SCHWARTZ, Richard C. Terapia familiar: conceitos e métodos. 7. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2011. (biblioteca virtual)
BOWEN, M. De la familia al individuo: la diferenciación del si mismo em el sistema familiar. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1979.