Eu sofri BULLYING na escola e as consequências são muito dolorosas…
Por isso, eu preciso escrever sobre isso…
Era o primeiro dia dos Jogos Internos do colégio que eu estudava. Eu tinha 10 anos de idade e cursava a quinta série. Lembro tão perfeitamente desse episódio porque era um dia MUITO ESPECIAL para mim e para meus irmãos. Afinal, era a primeira vez que iríamos sair todos juntos para um evento no colégio que eu amava, e amarei para sempre, onde eu estudava como bolsista.
Arrumano-nos, dentro da nossa gigantesca simplicidade, com as melhores roupas que tínhamos. Roupas que nossa mãe fazia, sapatos de couro (sempre pretos para combinar com todas as roupas) e uma felicidade gigantesca estampada em nossos rostos. Era uma espécie de ida à Disney.
Chegamos todos juntos, seis irmãos, seis crianças que se encantaram com as bandeiras coloridas, representando cada série, que dançavam ao vento como a nos acenar dando boas-vindas.
Os alunos todos vestidos com camisas padronizadas, o espírito de competição salutar dos jogos se respirava no ar… Tudo era tão mágico…
Íamos caminhando para a quadra (era nosso sonho assistir aos jogos em uma quadra, como víamos na TV) quando um grupo nos cercou, primeiro com olhares de deboche, depois com questionamentos do tipo ” O que eles estão fazendo aqui? … E se seguiram os risos escrachados ridicularizando nossas roupas, nossos sapatos, nosso cabelo. Sentíamos como bichinhos acuados.
É assustador como para ridicularizar o outro, as pessoas se unem numa velocidade incrível. Senti vergonha por permitir que meus irmãos ouvissem àquelas palavras tão cruéis. Eles eram pequenos demais para compreender o instinto maternal de irmã mais velha que me impulsionou a pedir com que déssemos as mãozinhas, para darmos meia-volta e retornássemos para casa.
Ainda lembro que meu irmãozinho perguntou “Mas nem vamos ver a quadra enfeitada? E os jogos?” Fingi que não ouvi, porque não sabia o que responder. A dor na alma tem a capacidade de nos EMUDECER.
Foi o primeiro contato com a “brincadeira maldosa” que algumas pessoas insistem conosco, sem nos consultar se queremos “brincar de maldade”. Então, passa a ser rotineiro e comum para muitos chamá-la de “feia”, “cabelo de Tina Turner”, ” Olivia Palito” “Nariz de tomate” “mal vestida”, “pobre”, ou simplesmente te ignorar porque, para alguns, você não é gente.
E os professores, coordenadores? Sempre fizeram intervenções eficientes para coibir esse tipo de conduta repulsiva. O que as pessoas precisam compreender é que o Bullying acontece também longe dos “olhos de professores e coordenadores”.
Como no dia, antes do desfile da semana da pátria, único dia que podíamos ir sem a farda oficial do colégio, que fui “recepcionada” por um grupo que achou divertido me ridicularizar, enquanto eu descia as escadas, com piadinhas do tipo “Olha que roupa linda! Olhem essa roupa… essa roupa… Deve ser de MARCA… Que modelo! Linda! E esse cabelo? E esse sapato? E esse sapato? E esse sapato?”
Aquela era minha melhor roupa e aquele era o único sapato que eu tinha… Mas, quem quer saber?
A partir desse dia, nunca mais fui à escola nesse dia que podíamos ir com roupas comuns. Porque aprendi que “o seu comum” para muitos é aberração.
Quantos anos se passaram, desde então? E até bem pouco tempo, ainda me surpreendia comprando 14 pares de sapatos de uma única vez, comprando roupas compulsivamente… ou me comportando feito “bichinho do mato” diante de pessoas estranhas. De alguma forma, aquelas vozes zombeteiras ainda ecoam na minha memória, embora não me agridam mais.
Nunca pensei em matar aqueles que me humilhavam. Mas as pessoas reagem de forma diferente. As vítimas de Bullying tendem a seguir dois caminhos: a violência ou o isolamento.
Eu optei pelo isolamento. Quem convive comigo sabe que a professora mega extrovertida se converte em um exemplo de timidez e introspecção fora da sala de aula.
E como nós, sociedade, devemos combater o Bullying?
Tomando ATITUDE de nos posicionarmos: Quem sou eu? O que humilha, ameaça ou difama? O que ri porque acha engraçado as piadinhas com os colegas? O que assiste a tudo e não fala nada? Ou aquele que se indigna e luta para conscientizar que BULLYING não é brincadeira, pois magoa, fere e pode matar a alma.
Eu decidi LUTAR CONTRA O BULLYING E TODO TIPO DE PRECONCEITO. Por isso, menos julgamento e mais Ação é o que o mundo precisa.