Estava Sofia no crepúsculo do dia 24 de 2018 já enfadonha em seu quarto, por imaginar que, daqui há algumas horas, terá de encarar sua família e responder decentemente a todos que se dirigirem a ela. Estava se trocando e colocando um look básico, para não chamar atenção de ninguém, quando repassava em sua mente algumas falas e respostas prontas para não responder de modo ríspido, como já aconteceu anteriormente. Quando finalmente terminou e se dirigiu a sala, conseguiu ouvir o furdunço dos seus familiares.
Respirou fundo, forçou um sorriso amarelo e pálido e adentrou à sala de jantar. Viu tios, tias, avôs e avós, primos distantes, primos próximos, e uma gama extensa da sua primeira geração. Percebeu ali o quão grande sua família era. Depois, começou a cumprimentar seus primos mais próximos, e depois seus tios e tias. Agradeceu por todos estarem distraídos entre si com conversas triviais regadas de risadas.
Ficou aliviada por não precisar se justificar, por enquanto, para algum familiar presente. Quando todos se reuniram para jantar, sentiu que a direção da conversa estava vindo para sua família. Alguns tios começaram a perguntar aos seus irmãos perguntas já forjadas por convenções sociais, como quando vão ter filhos, ou como anda o casamento e etc. Seus irmãos já não estavam mais no seio familiar, pois todos já constituíam família fora e restou apenas ela, a caçula. Contudo, estavam presentes.
Depois, se dirigiram a ela. Foi nesse momento que Sofia começou a ficar temerosa, com sudorese nas mãos, e aumentou seus batimentos cardíacos. A primeira pergunta que respondeu foi: e aí, como está Sofia? Já está de férias? Respirou aliviada pois não foi sobre “namoradinhos” e disse pausadamente que finalmente sim, estava de férias e não tinha ficado de recuperação. Depois, perguntaram a ela sobre sua escolha na faculdade, se ela já pensou em algum curso e ela respondeu prontamente, sem pensar muito, que almejava História.
Em seguida começou a perceber que as respostas prontas que tinha elaborado mais cedo não estavam condizentes com o roteiro de perguntas dos seus familiares. Por isso, começou a sentir cada vez mais ansiedade. Mas tentava respirar fundo discretamente. Depois, alguns estavam questionando a sua escolha e perguntaram, poxa porque logo história?
E ela, mais uma vez respondendo automaticamente, disse que queria evitar erros tão grotescos através da História como a eleição do Bolsonaro. Todos se entreolharam e alguns caíram na gaitada, já outros começaram a discutir diretamente com elas e outros foram a seu favor. Depois de alguns segundos após sua fala, percebeu que tinha criado um campo minado e estourado todas as bombas possíveis. Mas se divertiu com a cena, pois não precisou mais, naquele dia, responder perguntas.