Livro do médico e escritor A. A. A. Fernandes explora os limites da lucidez e desafia o pensamento binário em uma ficção inspirada em grandes nomes da filosofia
Os marginalizados pelo sistema são os protagonistas de Errantes do Pensamento – O Segredo de Poggio: Uma rapsódia filosófica. Os loucos, intelectuais incompreendidos, criativos e místicos tornam a obra do escritor A. A. A. Fernandes uma ficção que desafia a lógica binária do pensamento. Libertos das amarras de uma sociedade que tenta a todo custo padronizar seus integrantes, os personagens desconstroem certezas, celebram o delírio e ressaltam o poder do inconformismo no mundo.
No enredo, o neurocirurgião Urbano enfrenta uma crise existencial e é internado na ala psiquiátrica de um hospital. Após se tornar paciente, imerge em uma jornada introspectiva em busca de novos sentidos para a vida e de ressignificar conceitos pré-estabelecidos. Esse percurso filosófico se expande mais quando entra em contato com Poggio, um jovem internado na instituição com histórico espetacular e cujas experiências estão intimamente conectadas às leituras.
Além dos dois, outras figuras colaboram para a formação de um mosaico sobre a psique humana. Amigos de longa data de Urbano, J. e Asmin contrapõem a perspectiva de uma realidade racionalizada: o primeiro é um intelectual junguiano apaixonado pela união da ciência com a análise simbólica, já o segundo é um inteligente artista que se recusa a seguir o conhecimento acadêmico.
Mas, olha, esse mundo é muito divertido mesmo, nossa! não sabemos nada, ou melhor, não percebemos as coisas, tudo está aí, dado, e nós ficamos a nos entreter com nós mesmos, por vezes com a cabeça enfiada em algum texto fatual, alguma notícia fátua, algum dispositivo a nos despertar, a nos fugir a atenção, e perdemos, perdemos a chance… (Errantes do Pensamento – O Segredo de Poggio: Uma rapsódia filosófica, p. 235)
Compromissado com as temáticas da obra, o autor transmite as ideias também na estrutura da narrativa. Com narradores múltiplos, “não confiáveis” e instáveis, a obra alterna em diferentes pontos de vista entre os personagens e recorre a vozes oníricas. Ainda transita entre muitos gêneros, da carta ao poema, do romance ao ensaio, do relato clínico aos fragmentos textuais, com objetivo de retratar um fluxo de pensamento sem linearidade e um tempo não cronológico.
Ao atravessar filósofos como Gadamer, Lucrécio, Epicuro, Montaigne, Aristóteles, Nietzsche e Schelling, além de artistas como Fernanda Montenegro, Fernando Pessoa e Raul Seixas, A. A. A. Fernandes concebe um mundo onde é impossível desvincular a filosofia e a arte da essência da vida. Por meio de personagens múltiplos e reflexões profundas, ele transforma uma ala hospitalar em um protótipo de uma existência possível vinculada à ética e à sensibilidade.
FICHA TÉCNICA
Título: Errantes do Pensamento – O Segredo de Poggio Subtítulo: Uma rapsódia filosófica Autor: A. A. A. Fernandes ISBN: 978-6554285988 Páginas: 534 Preço: R$ 130,59 (físico) | R$ 19,90 (e-book) Onde comprar: Amazon
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Dia Internacional do Livro Infantil: sua importância e dicas de leituras
O professor Odair Marques da Silva, diretor de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Zumbi dos Palmares, fala sobre a relevância da data e sugere leituras para diferentes fases da infância.
O Dia Internacional do Livro Infantil, celebrado em 2 de abril, é um momento especial para refletir sobre o papel da leitura no desenvolvimento das crianças. Desde os primeiros anos de vida, o contato com os livros é essencial para o crescimento cognitivo, emocional e cultural. A leitura pode começar ainda na barriga da mãe, quando a voz dos pais, ao contar histórias, fortalece laços afetivos e estimula a sensibilidade do bebê.
Nos primeiros meses, livros com texturas e cores vibrantes despertam a curiosidade e os sentidos do nenê. Conforme a criança cresce e começa a falar, a leitura se torna uma ferramenta poderosa para ampliar seu vocabulário e sua compreensão do mundo. Dos 3 aos 5 anos, a ludicidade entra em cena: brincadeiras, jogos e histórias ilustradas incentivam a imaginação e a criatividade.
“Quando os pais demonstram amor pela leitura, transmitem um exemplo valioso, que contribui para o equilíbrio físico e psicológico da criança. Além disso, o contato com um repertório cultural diversificado, incluindo músicas e poesias, enriquece sua visão de mundo e incentiva o amor pela diversidade”, afirma o professor Odair Marques da Silva, fundador da Editora Eiros, especializada na publicação de obras infantis e educacionais afro-centradas.
Celebrar o Dia Internacional do Livro Infantil é valorizar a infância — uma fase mágica em que cada história contada é uma semente plantada para um futuro repleto de conhecimento, empatia e respeito à diversidade. Para estimular o hábito da leitura dentro das casas e nas escolas, Odair Marques da Silva selecionou quatro títulos indispensáveis para crianças de diferentes idades.
“A História de Zuri” – Simão de Miranda (Editora Eiros)
Indicado para crianças de 6 a 14 anos
Uma leitura essencial para famílias e educadores que desejam abordar consciência negra, antirracismo e dignidade humana de forma sensível e inspiradora. A protagonista, Zuri, aprende desde pequena a se posicionar contra o racismo e descobre no conhecimento uma poderosa ferramenta para combater injustiças. Com reflexões profundas e um desfecho emocionante, a obra é uma excelente escolha para estimular o senso de justiça e empatia nas crianças.
“Sinto o que Sinto: Um Passeio pelos Sentimentos” – Lázaro Ramos, em parceria com o Mundo Bita (Editora Sextante)
Indicado para crianças a partir de 3 anos
Acompanhe Dan, um menino que, ao longo de um dia, experimenta diversas emoções como raiva, alegria, orgulho e tristeza. A narrativa ensina as crianças a reconhecer e aceitar seus sentimentos, mostrando que todas as emoções são naturais e fazem parte da vida. Com ilustrações vibrantes e linguagem acessível, a obra é uma excelente ferramenta para pais e educadores trabalharem a inteligência emocional desde cedo.
“África: Um Passeio pelo Antigo Continente” – Odair Marques da Silva (Editora Eiros)
Indicado para crianças de 4 a 10 anos
Um convite para crianças e adultos embarcarem em uma jornada pelo continente africano, conhecendo sua riqueza cultural, histórica e geográfica. Com uma abordagem leve e interativa, o livro apresenta os 54 países africanos, destacando sua importância na formação da identidade brasileira e mundial. Uma leitura enriquecedora para ampliar o olhar sobre a diversidade africana e valorizar a ancestralidade na construção das sociedades.
“O Pequeno Príncipe Preto” – Rodrigo França (Editora Nova Fronteira)
Indicado para crianças a partir de 6 anos
Inspirado no clássico O Pequeno Príncipe, este livro traz a história de um príncipe negro que vive em um pequeno planeta com sua árvore Baobá. Em suas viagens por diferentes mundos, ele compartilha mensagens de amor e empatia, destacando a importância da identidade, ancestralidade e representatividade. Originalmente uma peça teatral, a obra foi adaptada para o universo infantil, proporcionando reflexões valiosas sobre autoestima e pertencimento.
Incentivar a leitura na infância é abrir portas para um mundo de descobertas, diversidade e aprendizado. Que este Dia Internacional do Livro Infantil seja celebrado com muitas histórias e novas possibilidades!
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Um olhar crítico acerca da não inclusão de um indivíduo com dislexia
15 de agosto de 2022 Sônia Cecília Rocha Rocha
Filme
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Eu não sou discriminada porque eu sou diferente, eu me torno diferente através da discriminação – Grada Kilomba
Esta obra prima do cinema de Bollywood, a maior indústria de cinema indiana, nos traz à tona um assunto que deve ser insistentemente debatido, que é a efetividade do aprendizado e seus modelos arcaicos e a intolerância dos pais em relação às dificuldades de aprendizagem dos filhos. Podemos, através do filme, sentir e chorar junto à realidade que nos é mostrada com tanta primazia, o quão excludente estas práticas podem se tornar.
Com grande frequência as crianças que se apresentam com dislexia são denominadas de “Ineptos, tolos, lesos”. Os rótulos são diversos: “Isso é só preguiça, vive com a cabeça nas nuvens, isso é pirraça não faz porque não quer”. Isso gera na criança um grande desestímulo e uma grande vontade de desistir de tudo.
E é sobre esta exclusão e a solidão que recai sobre o sujeito, que vamos tratar neste presente texto, é sobre este processo em que o indivíduo vai se afastando do mundo e das pessoas e fazendo rupturas com as mesmas e consigo mesmo, trazendo grandes prejuízos para a autoestima e de socialização. Junto a estes sentimentos, são característicos também a ansiedade e o medo, que são reações fisiológicas que acompanham os indivíduos frente a situações adversas, situações as quais eles não sabem compreender, e consequentemente eles se isolam. O pior é que estes sentimentos podem acompanhar os indivíduos ao longo de suas vidas, trazendo enormes sequelas tanto em sua vida pessoal quanto social.
No caso do jovem Ishaan (Darsheel Safary), protagonista do filme, ele tem grande dificuldade em absorver os conteúdos ofertados no núcleo escolar, não consegue escrever e tampouco compreender o alfabeto. Após várias reclamações dos professores, o pai tem a crença de que Ishaan não faz as tarefas por falta de vontade e por falta de compromisso. Decide levá-lo a um internato, o que faz o menino a entrar em um estado letárgico de depressão. Ele se sente excluído, abandonado e tem indícios de ideações suicidas, deixados implícitos durante a trama.
O quanto de exclusão e solidão um sujeito pode aguentar, qual o limite de não compreender o que ocorre ao seu redor uma pessoa pode suportar, quantos socorros são gritados sem eco?
Segundo estudiosos, as características mais comuns em famílias com pessoas que encontram obstáculos para empreender suas aprendizagens, está no fato de que não sabem ou não tem o manejo de lidar com o que é diferente do usual, e passam a ver o filho (a) como um empecilho na harmonização diária, uma ameaça ao sossego.
As escolas, por sua vez, se isentam da responsabilidade. Sem profissionais capacitados, se apresentam mais como um prejuízo ao indivíduo, do que uma mão estendida; logo, acionam os pais despreparados para uma possível tomada de caminhos, um diagnóstico neste sentido, acalmaria os ânimos e deixaria ambas as partes eximidas de culpa, responsabilidade e agravos. Assim, os consultórios e clínicas escolas somam longas filas de espera, e os laboratórios lucram com a ignorância sobre o assunto.
É um problema complexo e que necessita ter um olhar mais atento, dizer que pais sem recursos e que lutam de sol a sol para garantir o mínimo para sobreviver, teriam como manejar esta situação, seria um “viver num mundo de Alice”, mas as escolas sim, tem como ofertar um ensino inclusivo de qualidade e uma conscientização maior a estes pais, com palestras educativas, panfletos, reuniões, isso não é um mundo irreal, é uma necessidade urgente.
Nosso sistema educacional é muito falho para se conscientizar que cada aluno é um caso, que os sujeitos têm em si particularidades diferentes. Temos que despertar, enquanto sujeitos sociais, se cada um fizer sua parte, assim como uma lição de casa, podemos falar sobre isso, trazer estes assuntos à tona, e através desses pequenos movimentos levar as pessoas (pais, educadores ou não) a ter um olhar mais terno e de acolhimento em direção as nossas crianças que se encontram em dificuldades.
Somos educados para enaltecer as qualidades e rechaçar quem se encontra com problemas, não paramos e olhamos para trás para observar os agravos que causamos com esta prática. Vamos ser mais solidários com as dificuldades, um olhar mais atento ao outro, para que a partir daí possamos observar transformações. Mestres como Papalia e Feldman (2013) nos conscientizam de que a aprendizagem é o resultado das interações entre crianças e adultos. “Este tipo de aprendizagem ajuda crianças a cruzarem a zona de desenvolvimento proximal, ou seja, a capacidade de interação entre aquilo que já são capazes de fazer e aquilo que ainda não estão aptas a realizarem sozinhas”.
Ainda segundo Davis:
O disléxico processa o pensamento e a consciência fonológica de forma desorientada ele reitera que “ele deve ser visto como uma criança com limitações, mas não impossibilidades, e que com as adaptações e modificações necessárias ele poderá ser tão genial quanto alguém não disléxico”. (DAVIS 2004, P. 43).
Sobre ser genial, vamos acompanhar a citação de Davis e rememorar nossos ícones, não podemos deixar de lembrar em nossa história homens notáveis que sofreram com a dislexia e que se mostraram verdadeiros vencedores em sua adultez. Foram eles:
Leonardo Da Vinci (1452-1519); Vincent Van Gogh (1853-1890); Albert Einstein (1879-1955); Pablo Picasso (1881-1973); Whoopi Goldberg (n. 1955); Steven Spielberg (n. 1946); Agatha Christie (1890-1976), Charles Darwin (1809-1882), entre tantos outros. Com certeza estes indivíduos antes de superarem e se mostrarem além de um diagnóstico, sofreram dos males que advém desta dificuldade e sentiram-se também não inclusas em seus meios familiares e sociais.
Segundo Sartre (1943/2011, “l. 2”), o fenômeno de ser visto pelo outro assume importância capital na constituição de uma pessoa, pois sem o olhar do outro ela não se sentiria objetivada e situada em um determinado espaço, existindo concretamente como corpo físico e com possibilidade de refletir sobre quem se é.
Enfim, no filme o jovem Ishaan encontra em seu professor o apoio e a mão que ele necessitava para ser finalmente compreendido, e nossos Ishaans pelo mundo afora, podem contar com quem?
NAUFEL, Georgia Denani et al . PERCEPÇÃO DA FAMÍLIA FRENTE AO DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM. Revista Educação Inclusiva – REIN, Campina Grande, PB, v.5, n.01, jan/dez. – 2021, PUBLICAÇÃO CONTÍNUA – 2021
GARCIA, WallistenPassos; Pereira Ana Paula Almeida. A pessoa com deficiência intelectual e a compreensão de sua existência. Rev. abordagem gestalt. vol.27 no.2 Goiânia maio/ago. 2021.http://dx.doi.org/10.18065/2021v27n2.5.
Estava Sofia no crepúsculo do dia 24 de 2018 já enfadonha em seu quarto, por imaginar que, daqui há algumas horas, terá de encarar sua família e responder decentemente a todos que se dirigirem a ela. Estava se trocando e colocando um look básico, para não chamar atenção de ninguém, quando repassava em sua mente algumas falas e respostas prontas para não responder de modo ríspido, como já aconteceu anteriormente. Quando finalmente terminou e se dirigiu a sala, conseguiu ouvir o furdunço dos seus familiares.
Fonte: Freepik
Respirou fundo, forçou um sorriso amarelo e pálido e adentrou à sala de jantar. Viu tios, tias, avôs e avós, primos distantes, primos próximos, e uma gama extensa da sua primeira geração. Percebeu ali o quão grande sua família era. Depois, começou a cumprimentar seus primos mais próximos, e depois seus tios e tias. Agradeceu por todos estarem distraídos entre si com conversas triviais regadas de risadas.
Ficou aliviada por não precisar se justificar, por enquanto, para algum familiar presente. Quando todos se reuniram para jantar, sentiu que a direção da conversa estava vindo para sua família. Alguns tios começaram a perguntar aos seus irmãos perguntas já forjadas por convenções sociais, como quando vão ter filhos, ou como anda o casamento e etc. Seus irmãos já não estavam mais no seio familiar, pois todos já constituíam família fora e restou apenas ela, a caçula. Contudo, estavam presentes.
Fonte: Freepik
Depois, se dirigiram a ela. Foi nesse momento que Sofia começou a ficar temerosa, com sudorese nas mãos, e aumentou seus batimentos cardíacos. A primeira pergunta que respondeu foi: e aí, como está Sofia? Já está de férias? Respirou aliviada pois não foi sobre “namoradinhos” e disse pausadamente que finalmente sim, estava de férias e não tinha ficado de recuperação. Depois, perguntaram a ela sobre sua escolha na faculdade, se ela já pensou em algum curso e ela respondeu prontamente, sem pensar muito, que almejava História.
Em seguida começou a perceber que as respostas prontas que tinha elaborado mais cedo não estavam condizentes com o roteiro de perguntas dos seus familiares. Por isso, começou a sentir cada vez mais ansiedade. Mas tentava respirar fundo discretamente. Depois, alguns estavam questionando a sua escolha e perguntaram, poxa porque logo história?
E ela, mais uma vez respondendo automaticamente, disse que queria evitar erros tão grotescos através da História como a eleição do Bolsonaro. Todos se entreolharam e alguns caíram na gaitada, já outros começaram a discutir diretamente com elas e outros foram a seu favor. Depois de alguns segundos após sua fala, percebeu que tinha criado um campo minado e estourado todas as bombas possíveis. Mas se divertiu com a cena, pois não precisou mais, naquele dia, responder perguntas.
O Conto da Aia, livro escrito em 1985 pela autora canadense Margaret Atwood continua mais atual do que nunca. No livro “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir tem uma frase que define muito a obra de Atwood “[…] Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados” (BEAUVOIR, 1949, p.29).
A obra se passa em um futuro distópico, onde os Estados Unidos sofrem um golpe de Estado, sendo assim proclamada a República de Gilead. Neste novo país as universidades estão extintas, não existe mais jornal, televisão ou biblioteca e as únicas leis existentes são a lei divina, sendo assim um país teocrático, totalitário e patriarcal, pois as mulheres são as primeiras vítimas e os seus direitos são abolidos.
A sociedade de Gilead é composta por castas, onde os homens sempre ocupam os principais poderes, os homens também compõem as atividades laborativas, como, médicos, farmacêuticos, militares etc. Já as mulheres são divididas em categorias, cada qual com uma função já estabelecida pelo Estado.
As esposas são as companheiras dos Comandantes (os comandantes são pessoas do alto escalão do exército) e a função da esposa é sempre fazer a vontade de seus maridos. As Marthas são as responsáveis por manterem a casa sempre organizada e elas são propriedade da família.
São chamadas de Tias, as mulheres responsáveis por disciplinarem as Aias. Depois que uma catástrofe nuclear deixou uma grande parte da população estéril, as poucas mulheres que ainda eram férteis são as aias, elas pertencem ao governo e existem somente para procriar. As aias são entregues as famílias dos comandantes e obrigadas uma vez por mês a terem relações sexuais com eles para engravidar. Após dar à luz, elas amamentam o bebê e logo depois são transferidas para outra família.
O sucesso do livro gerou a série adaptada homônima que acabou de estrear sua quarta temporada. Tanto o livro quanto a série são narrados por June, a Aia da família Waterford. Na série vamos acompanhar toda a mobilização das Marthas e Aias para exporem as atrocidades cometidas no país para o mundo, com o intuído de estabelecer um mundo melhor.
A obra discute sem receio a opressão feminina e como elas não possuem direito sobre seus corpos, também aborda como o discurso fundamentalista religioso é extremamente perigoso. A distopia também suprime resolutamente as pessoas mais poderosas associadas às minorias.
Embora este pareça ser um universo completamente fictício, a verdade é que a obra de Margaret se aproxima de alguma realidade contemporânea em muitos aspectos, visto que é só abrir a página do jornal e encontrar algumas comunidades contemporâneas que vivem sob o apoio da autocracia e da teocracia.
ATWOOD, Margaret. O Conto da Aia. 1.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2017.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
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Oportunidade para quem ama ler! Grupo Novos Contemporâneos lança Clube do Livro em Palmas
11 de maio de 2021 Jornal O GIRASSOL O GIRASSOL
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Fonte: Coletivo Flácido
Iniciativa cultural tocantinense “Novos Contemporâneos – investindo na formação de jovens artistas” visa formar novos leitores na capital.
Estão abertas as inscrições para o Clube do Livro do projeto cultural palmense Novos Contemporâneos. O grupo que faz parte do Coletivo Flácido está selecionando três leitores(as) que discutirão seis obras da literatura contemporânea brasileira. Os(as) selecionados(as) farão parte do clube Books&Wines, iniciativa independente de jovens leitores na cidade que está na ativa desde 2019.
Os títulos são: “Nihonjin”, de Oscar Nakasato, “Solução de dois Estados”, de Michel Laub, “A cabeça do Santo” de Socorro Acioli, “Morte Sul Peste Oeste”, de André Timm e “Capão Pecado”, de Ferrez.
O resultado será divulgado dia 14 de maio no Instagram do Coletivo Flácido (@coletivoflacido) e via e-mail, sendo o primeiro exemplar já entregue no dia 21 de maio.
Sobre o Coletivo Flácido e Casa Flácida:
O coletivo é hoje composto por Filipe Porto, Luísa Sponholz e Thaise Nardim, artistas residentes em Palmas que trabalham em diferentes linguagens. A Casa Flácida é um espaço destinado à produção, fruição, exposição, experimentação, educação e discussão artística, aberta para o público interessado. O espaço já abrigou a residência artística Escala 1:1 – Ações Humanas para espaços monumentais, é usada como ateliê próprio do artista Filipe Porto, além de ser o ponto de encontro do Clube do Livro – Book & Wines.
Este projeto foi contemplado pelo Prêmio Aldir Blanc Tocantins do Governo do Estado do Tocantins, com apoio do Governo Federal – Ministério do Turismo – Secretaria Especial da Cultura, Fundo Nacional de Cultura.
Fonte: Coletivo Flácido
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Romance sobre escolhas e renúncias ganha edição em espanhol
28 de março de 2021 Ana Beatriz de Sousa R. Silva
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O livro “Lugar cheio de rãs” da escritora Celina Moraes foi lançado em espanhol, com o título “Lugar Lleno de Ranas”. O romance, que está em sua quarta edição em português, retrata a difícil tarefa de encarar as consequências da vida recheada de escolhas e renúncias. Será a primeira empreitada internacional da autora, que almeja o mercado editorial latino-americano.
Sinopse
Conflito amoroso, suspense e contexto histórico se misturam a esta história de amor ambientada nos anos 70, em plena ditadura militar brasileira. As inconciliáveis ideologias entre capitalistas e comunistas rondam a vida de André, um executivo bem-sucedido. A juventude de sua filha Dominique, desperta nele sentimentos que julgava esquecidos, mostrando que as fronteiras da memória são tênues e marcantes. Sem medo, André embarca numa viagem rumo ao passado e desembarca no México, onde o destino será o seu guia.
– A ideia é mostrar que as sombras do passado interferem nas realizações pessoais e profissionais do presente, podendo levar a busca por respostas suspensas no tempo e revelar o quanto o destino pode influenciar nossos sonhos. As vontades individuais nem sempre serão suficientes para nos guiar rumo onde queremos chegar, mas o amor sempre será um combustível de motivação para nos aventurar por caminhos jamais percorridos em sã consciência – destaca Celina.
A novidade, além do idioma, é que o novo prefácio é assinado por Maira Esber. Publicitária e artista visual, Maira tem uma relação única e seminal com os originais que Celina Moraes escreveu e manteve, por vários anos, em amadurecimento, até a decisão final de publicar de forma independente.
Fonte: Autora do Livro
Sobre a autora
Celina Moraes possui mais de 40 anos de experiência corporativa, sendo que, desde 2001, ocupa a posição de editora em uma multinacional do mercado financeiro. Celina é formada em Letras pela antiga Faculdade Ibero-Americana, especialização em tradução.
Celina Moraes também é escritora e seu romance de estreia “Lugar cheio de rãs” ganhou o Prêmio “Lúcio Cardoso” em 2010 pelo 3º lugar no concurso internacional de literatura promovido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ). Seu conto “Rumo ao topo numa canoa quebrada” foi um dos 50 selecionados para compor a Antologia de Contos: História de Amor e Dor”, lançada pela UBE em 2018. Em 2019, a escritora lançou seu segundo romance “Jamais subestime os peões – eles valem uma rainha”.
Serviço:
“Lugar Lleno de Ranas”, versão em espanhol de “Lugar cheio de rãs”
Após dias de intenso isolamento, nove escritoras se juntaram para relatar de modo criativo, inovador e não menos crítico, seus sentimentos, dores e perdas vividos na pandemia por meio de contos harmônicos que deram origem ao livro “Retratos da quarentena”, da editora Símbolo Artesanal.
Com coordenação editorial de Silvia Schmidt, também coautora (Mesa redonda sob o signo do bestiário), a obra conta com textos das escritoras Ana Mendes (Palavreados, coronas e outros corações confinados); Alexandra Vieira de Almeida (Quarentena onírica); Claudia Manzolillo (Memórias de uma vida em quarentena); Eliane di Santi (Esquecimento); Maya Falks (Espaços fechados); Rosália Milsztajn (Dias de pandemia); Sandra Godinho (Relato de um sobrevivente); e Teresa Drummond (Se vira nos sessenta: a arte da reinvenção).
Para Silvia Schmidt, o objetivo principal das autoras é externar para o público o impacto do isolamento social em tempo real, a experiência simbólica dentro do contexto, além das causas e consequências vivenciadas durante esse período.
– As palavras perfeitas para definirem a coletânea são: “atitude, eficiência e arte”. Isto, porque o projeto inicial era desenvolvido para um concurso internacional, que exigia uma escrita histórica reflexiva e literária – comenta.
Silvia comenta ainda que a ideia da ilustração da capa, realizada por Alexa Castelblanco, é de uma senhora sentada em frente ao seu computador, simbolizando objetivamente a imagem de nossos dias em modo virtual tentando contato externo, participando de inúmeras lives e realizando trabalhos em home office. “Sem deixar de lado, é claro, o trabalho que, se virtual ou não, muitas vezes na rua, e no front destes dias tristes – tivemos como prática – a gosto ou a contragosto o #ficaremcasa”.
O prefácio, quase um novo conto, foi escrito por Alexandra Vieira de Almeida, Doutora em Literatura Comparada pela UERJ. Já a orelha, foi produzida por Maya Falks, escritora reconhecida por seu blog Bibliofilia no qual mantém conexão com nomes contemporâneos da Literatura Brasileira, além de ser autora do livro.
Ficha técnica:
Título: Retratos da quarentena
Gênero literário: conto
Editora: Símbolo Artesanal
Tamanho: 12,5×22,5
Páginas:223
Preço: R$ 50,00 + frete para todo o Brasil
Link para comprar: @livrariamulherio no direct do Instagram
“Você é espetacular”!!!
Foi o que eu disse a mim mesmo enquanto observava o meu próprio reflexo naquela moldura grande sobre a penteadeira (improvisada por uma mesinha de centro). Comecei a recitar galanteios para aquele perfil que eu via… E logo pensei: se soubesse desenhar essa obra teria um valor (preço) impagável, Picasso perderia feio nessa disputa, sorte a dele. Percebi naquele momento que a beleza não tem forma nem cor: comecei a gostar de minha pele amarela e as sardinhas marrons que a enfeita; dos meus cabelos castanhos escuros e ondulados e até as cicatrizes adquiridas nas travessuras de criança ganharam seu encanto.
Sabe aquela coisa de deixar as unhas compridas e usar saltos altos da moda? Deixei pra lá, meus pés de gazela de nº.35, mas em todos os números somos belas, agora se mostram quase nus em um par de rasteirinhas e já tem ganhados muitos fãs. Putz!! Nem sabia que pés também eram fetiches.
Fonte: encurtador.com.br/ruEJ7
Outro dia, depois desse que eu me apaixonei por mim, ia passando numa calçada qualquer, desfilando meus traços e percebi cantadas e assovios vindas de admiradores. Nem me importei, quando a gente gosta da gente mesma percebe-se que elogios precisam ser sinceros para realmente surtir um efeito. É claro que eu dei um risinho para os rapazes, autoestima elevada não significa falta de educação ou descortesia.
Ouço declarações de que isso é egoísmo, mas os otimistas afirmam que isso é amor próprio. A Bíblia diz que devemos amar o próximo como a nós mesmo, então eu concluí que o amor ao outro começa em mim. E foi assim que esse amor surgiu e aflora a cada manhã quando me deparo de frente ao espelho.