Fotografia como recurso terapêutico no CAPS de Porto Nacional – TO

No primeiro semestre de 2013, comecei meu Estágio em Ênfase da graduação em Psicologia no (En)Cena, e de imediato já recebi um desafio: realizar uma intervenção no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) de Porto Nacional – TO.

A ideia proposta pelo meu orientador de estágio – professor Victor Melo – era a realização de uma oficina de fotografia digital com os usuários do serviço. O que foi desafiador, dada minha inexperiência tanto com os equipamentos quanto com as infinitas possibilidades da fotografia. Aceitada a proposta, de imediato, comecei a buscar materiais que falavam sobre o tema.

Meu desafio era encontrar sentido na oficina, e ao realizá-la, ter um significado terapêutico, que pudesse contribuir com o trabalho já desenvolvido pela equipe técnica do CAPS de Porto Nacional – TO. Em minhas pesquisas encontrei alguns trabalhos que falavam do processo terapêutico, e da fotografia como um recurso potente de promoção da saúde. Nesse momento fiquei seguro do caminho que deveria percorrer para a realização das oficinas quando passei a ver a fotografia digital como uma forma de trabalhar a linguagem e a construção de sentido para os usuários do CAPS.

São vários os motivos para se trabalhar com câmeras fotográficas em um CAPS, pois, além de se habilitar o usuário no manejo de uma “nova” tecnologia – em um mundo cada vez mais cercado por ambientes digitais – estamos o instrumentando/incentivando para novas interações possíveis com a comunidade.

Na escolha do objeto (modelo) a ser fotografado o usuário lida com situações em que ele terá que realizar escolhas, não muito diferente do que acontece em nosso cotidiano. Outra forma de abordar a oficina é utilizar-se da linguagem simbólica intrínseca no equipamento, o que nos permite uma reflexão quanto as principais queixas do usuário e aos diversos modos como ele se relaciona com elas. Assim como na vida, a partir da lente da máquina temos vários pontos de observação “do objeto”.

A proposta foi tomando forma durante meu processo de preparação, questões hoje percebidas como fundamentais para a reforma psiquiátrica foram fazendo sentido. Minha intervenção propunha como eixo principal, novas formas de relação entre os serviços, os usuários e a comunidade em geral. Percebi que a publicação dessas fotos na Internet utilizando a plataforma do Encena atingiria comunidades para além do território demarcado de atuação do serviço. O impacto na comunidade virtual seria para além das fronteiras…

Minha inserção no serviço foi tímida, me apresentei no serviço, onde fui muito bem recebido. Apresentei minha proposta para a coordenadora do serviço, que prontamente acatou a ideia e me orientou sobre os benefícios de uma oficina “não tão técnica”, mas que valorizasse nas fotografias – resultado do processo – a visão do usuário. Feito os acordos, marcamos a data de início.

No primeiro encontro participaram oito usuários do serviço, com os mais diversos diagnósticos (depressão, bipolaridade, esquizofrenia etc.) um grupo misto, onde algumas pessoas já haviam tido contato com a fotografia digital, e outras não.

Ao apresentar as maquinas fotográficas que seriam utilizadas, para os usuários do CAPS, eles demonstravam curiosidade e vontade de iniciar o processo imediatamente. Alguns dos usuários do CAPS já tinham participado de outras oficinas fotográficas, entretanto, as máquinas utilizadas na época eram analógicas, tecnologia distinta das digitais.

Quando foi percebido por eles que seriam câmeras digitais, pude perceber que, independente do rotulo do diagnostico/sofrimento mental, aquela pessoas tinham a mesma paixão pela descoberta de coisas novas, de vivenciar coisas novas, quanto os ditos “normais”.

Com o desenrolar das oficinas – foram quatro encontros -, pude notar que a tecnologia tem um poder mobilizador incrível, que impacta a todos: dos ditos  “normais” aos estigmatizados “loucos”. Tudo que é diferente/inovador tem o poder de nos levar à estranheza, nos levar à curiosidade. É o poder motivador que fomenta a descoberta, a experimentação da relação com o outro, com o novo.

Abaixo, algumas fotos, resultado da oficina:

Ao centro, a Psicóloga do CAPS de Portal Nacional com os Usuários participantes da Oficina de Fotografia

A esquerda, estou com os Usuários participando da Oficina

Usuários do CAPS ensaiam a quadrilha para a Festa Junina, aberta a comunidade