A ideia desse texto me surgiu quando li um “Em cartaz” do Encena, e questionei-me sobre o meu agir diante da dor dos outros. Talvez ele pouco tenha a ver com empatia, tele, co-inconsciente,rapport, role plays e quaisquer outros termos que falam que nos colocamos no lugar do outro, já que tais produções se deram longe do contato com o outro, mesmo tendo sido fruto desse mesmo contato.
O que quero dizer é que aquilo que desenvolvi com tal questionamento, a princípio, só tenha servido a mim e não tenha sido repassado aos que me inspiraram. Frente a isso, esse relato – que pode ser repassado a outras pessoas para que também se inspirem – surge da elaboração que eu faço daquilo que ouço no dia a dia, no meu trabalho, como as queixas, as demandas e os sofrimentos os quais tento acolher, escutar, cuidar e quiçá entender.
Trata-se de pequenos versos que compus a partir do que senti pela dor dos outros e que adiante seguem:
I
Regurgito azedo vômito
Não consigo segurar
Escapole-me indômito
Que até me falta o ar.
Eu vomito e fico tonto
Não consigo nem pensar
Fico fraco e atônito
Só assim sei me expressar…
(Vô-Me-Tô)
II
Palavras babadas eu cuspo
No prato, na cara e no chão
A quem me reclama, não desculpo
Mas a quem me engole, dou perdão…
(Te cuspo e não me culpo)
III
Eu, pneu furado na’strada
Roda que não desliza
Engrenagem retravada
Estagnada em vida…
(Vazia)
IV
Sinto-me confuso,
Desconexo
Braços obtusos
sem amplexo
(Afeta a falta de afeto)
V
Finge que me escuta
Diz que estou eutímico
Mas se ouvisse o que não digo
Veria que não sou tímido…
(Ser não é pare-Cer)
VI
Alto sobe o dia
Amarga claridade!
Azeda-me os olhos
De realidade…
(Verticalidade)
Nota: O “Em Cartaz” que a autora se refere é o texto “Diante da Dor dos Outros” produzido por Irenides Teixeira e publicado no EnCena. Confira: http://ulbra-to.br/encena/2012/07/16/Diante-da-Dos-dos-Outros