Última volta, primeiro passo: o último ano de curso

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Formar-se. Esse é um dos assuntos mais comentados na faculdade. Sempre há alguém falando sobre o cansaço, a sobrecarga, o medo e até o desespero. Apesar de sentimentos semelhantes, cada experiência é única. Para alguns, um alívio; para outros, um processo de luto. Há quem queira se livrar logo dessa fase e quem anseie por iniciar a carreira e ser reconhecido. E eu? Onde me encaixo nesse mar de emoções? Bom, sinto que estou me dissolvendo nele, enquanto a ansiedade de pegar o diploma toma conta de cada molécula do meu corpo.

Tudo começa com a inscrição para a prova de ingresso na ênfase. A ficha de que o fim está próximo cai no momento em que você aperta “enviar” no formulário. Embora a prova não seja difícil e eu nunca tenha ouvido falar de alguém que reprovou, o processo é psicologicamente desgastante. A sensação é parecida com a de fazer vestibular, o pensamento de que todo o futuro depende daquela prova, e independente de estar completamente exausta, é necessário que seja feito. Depois que encontra o seu nome na lista de aprovados é como se pudesse respirar pela primeira vez. É real, o capítulo “faculdade” está nas últimas páginas.

O luto, para mim, vem principalmente em relação ao time de vôlei da faculdade. Há quatro anos entrei para o time, e representar meu curso por meio do esporte foi a realização de um sonho. Foi também o que mais me ajudou a manter a sanidade ao longo dos anos. Ali, fiz as melhores amizades e vivi as mais diversas e intensas emoções: raiva, euforia, pertencimento, segurança, insegurança… São pessoas e momentos que têm um grande valor sentimental para mim. Pensar que só tenho mais oito meses para re-viver tudo isso me assusta. Estou na fase da negação, evitando encarar o que significa não fazer mais parte desse time.

O alívio, por outro lado, vem ao pensar na liberdade financeira que a formatura pode proporcionar. Saber que meus pais não precisarão mais pagar mensalidades acima de um salário mínimo já é um grande conforto. O fim da ansiedade com as semanas de prova, as notas e o fechamento de semestre também trazem um respiro. Mesmo que eu faça uma pós-graduação ou um mestrado, a sensação será diferente — afinal, meu diploma já estará na parede. Ou talvez não seja tão diferente assim. Mas, de qualquer forma, ter vencido essa etapa da vida será um grande motivador para enfrentar as próximas.

O maior desafio é ter paciência para deixar que o tempo coloque tudo no lugar. Enquanto isso, o que me dá sentido para continuar batalhando são os pacientes da clínica. A experiência é devastadora, intensa e gratificante. Com eles, percebo as diferentes formas que cada pessoa tem de lidar com as dificuldades e, ao mesmo tempo, me observo lidando com os desafios que surgem em cada atendimento. A cada história compartilhada, um novo aprendizado se revela dentro de mim, enquanto assumo o papel de profissional apta a auxiliar aquele ser humano em suas demandas.

Nesse processo, a insegurança está sempre presente. O sentimento de não estar fazendo o suficiente é, ao mesmo tempo, meu maior aliado e meu pior inimigo. Ele me impulsiona a estudar mais para ajudar mais, mas também me faz sentir inútil e insuficiente diante da complexidade da vida de cada paciente. E assim, eu percebo o quão difícil é ser psicólogo, e o quanto é cada vez mais desafiador lidar com os sentimentos de outra pessoa.

Mas enfim, continuo tentando manter a calma e não pensar no final, até porque sabemos que o mais importante é aproveitar o caminho enquanto tento evitar ao máximo que o medo do incerto tome conta dos meus pensamentos. Sempre perguntam: “O que vai fazer depois que formar?” e eu penso: “Eu deveria saber?”, é por isso que manter a calma é tão difícil, todo o resto conspira a favor de perder o controle e a ansiedade acaba se tornando a protagonista desse espetáculo chamado vida.

E no meio desse turbilhão de sentimentos, percebo que crescer também é aprender a dizer adeus. Adeus às rotinas que um dia pareceram eternas, às pessoas que se tornaram lar, às várias versões de mim mesma que existiram ao longo dessa caminhada. Mas, acima de tudo, é um “olá” ao desconhecido, ao que ainda está por vir, e agora, tudo o que posso fazer é seguir em frente, levando comigo a certeza de que, mesmo com medo, eu cheguei até aqui. E isso, por si só, já é extraordinário.

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