Durante a primeira Semana Acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, no dia 22 de agosto, ocorreu a palestra de abertura do evento com a Dra. Ana Magnólia Mendes, tendo como tema “Discurso e Sujeito na Psicanálise: dimensões éticas e políticas”. A palestrante apresentou o tema de acordo com o contexto atual do trabalho. Ressaltava com veemência o papel dos psicólogos no mercado agressivo de hoje.
De acordo com Ana Magnólia, o sofrimento humano faz parte da angústia na sociedade. A psicanálise estuda o sujeito de modo distinto da ciência, pois não o reduz ao capitalismo, segundo o qual o indivíduo será ”feliz” se consumir, pois produz o subordinado do desejo. Quanto mais se tem, mais se quer. A qualidade do psicólogo deve ser acima da questão do lucro e do dinheiro. Isso envolve investimento no paciente e tempo. Caso o profissional vise o lucro, a tendência é custar mais barato e menos tempo nas consultas, o que compromete a qualidade da análise clínica.
A oradora apresentou ao público a noção do sujeito da repetição, aquele que repete de modo incessante determinado processo isento de senso crítico. Desse modo, neste discurso ele vai trazer a construção de laços sociais que se estabelecem na perversão, que é a quebra dos seus direitos básicos. Para ser considerado como um, é preciso ser surdo e atender a um comando de uma voz, que apenas a repete e obedece.
A função do psicólogo é resgatar o dependente compulsivo da repetição para o conhecimento. O capitalismo contrapõe o sujeito do saber a um repetitivo e com isso ela retratou suas características. Ele não é reduzível, pois não se submete a processos contínuos; ele é infinito, pois busca o conhecimento. O sujeito repetitivo busca o conhecimento para se resgatar. As pessoas que se automedicam causam aprisionamento do sujeito da compulsão da repetição. Ele é fisgado a partir da produção do outro, no discurso das promessas (paraíso), pois é o lugar da plenitude.
Percebe-se que a palestrante continuamente relaciona seu tema com o capitalismo, pois está intrinsecamente ligado a ele. Esse sistema de mercado contemporâneo destrói a identidade do indivíduo e o submete a desumanização, e dessa maneira causa a indiferença com os demais. Ana Magnolia também expôs o conceito de normopatia, fenômeno no qual acarreta a aniquilação da humanização e laços sociais devido à banalização da violência e da opressão.
Fonte: http://www.rioeduca.net/blogViews.php?bid=20&id=3124
Outras duas definições diferentes que ela apontou foram sujeito invocante e invocado. No primeiro, refere-se diretamente ao repetitivo, submetido intensamente a demanda do outro e que precisa se descobrir como ser falante e pensante. No segundo, supõe-se uma alteridade, isto é, algo próprio e crítico àquilo que o rodeia. O contraste entre os dois conceitos vigora na globalização, pois a maior parte da população global está como invocada e uma mínima parcela como invocante.
Logo, ocorre a servidão voluntária, onde o submisso é condicionado a aceitar e conviver em situações degradantes para poder manter sua sobrevivência. O psicólogo, nessas condições, deve realizar uma escuta clínica a fim de o sujeito sair da repetição. Além disso, priorizar a ética profissional deve ser o ideal do psicólogo, pois a qualidade do serviço não está ligada na quantidade de pacientes atendidos em um dia. Desse modo, deve analisar os casos e então realizar a demanda necessária separadamente, mesmo que isso custe mais tempo do que o esperado e investimento.