História densa sobre dor e redenção marca primeiro romance de Krishna Monteiro

Autor se inspirou em poema de Drummond para escrever “O mal de Lázaro”

O mal de Lázaro é uma fábula sobre dor, sofrimento e redenção, que faz o leitor pensar sobre a perenidade da vida, sobre a inconstância e a impermanência.

Inspirado por Carlos Drummond de Andrade e seu “A máquina do mundo” – considerado por muitos o melhor poema brasileiro de todos os tempos –, Krishna Monteiro usa sua prosa elegante e poética para contar a história de um homem que se abre para o mundo apenas para vê-lo desmoronar.

Instigado pela ideia de que o poema é uma metáfora da modernidade, neste seu primeiro romance, lançamento da Editora Tordesilhas, Krishna dá um lampejo do que pode acontecer quando essa máquina e tudo o que ela rege – o divino, o universo, o destino – se abrem para um homem que passou a vida dando as costas para o mundo.

No início da obra, a narradora observa um homem simples que caminha com dificuldade e tenta escapar de uma multidão. Mesmo de longe, a narradora se sente muito próxima desse homem: ambos estão se refugiando em um lugar isolado, ambos compartilham a mesma visão de mundo. A ele, a mulher dá o nome de Lázaro; da própria identidade, ela nada revela ao leitor.

Lázaro é um homem fechado para o mundo por conta dos traumas que viveu. Embora seja uma pessoa sensível e solidária, trabalha em um matadouro, onde ruídos, cheiros e visões são costurados todos os dias em sua mente para montar cenas atormentadoras.

A máquina do mundo se revela a Lázaro, então, por meio dos sons, e o agente dessa revelação é a narradora, que também simboliza as forças estranhas que regem o destino desse homem. Aos poucos, a mulher – assim como a máquina do poema – abre o mundo para que Lázaro possa lê-lo, entendê-lo, vivê-lo.

Lázaro passa a sentir necessidade de retratar os animais, sua dor, sua sina, como se assim pudesse trazer o rebanho de volta à vida, de volta ao mundo que agora compreende. E, então, com carvão e pigmentos, passar a pintar a pequena cidade onde habita, a arquitetura das casas antigas, os traços ásperos dos moradores.

O motivo por que Lázaro está sendo perseguido, o que aconteceu antes de a história começar e qual será o desfecho dessa cruzada é o que Krishna Monteiro descreve de forma primorosa em uma narrativa densa, poética, repleta de imagens tocantes.

Sobre o autor

Krishna Monteiro nasceu em 1973, em Santo Antonio da Platina, no Paraná, e esteve rodeado de livros desde pequeno. Graduou-se em economia e fez mestrado em ciências políticas na Universidade Estadual de Campinas. Depois de uma breve passagem pelo jornalismo, em 2008 ingressou na carreira diplomática.

Entre os anos de 2010 e 2018, trabalhou como vice-chefe de missão da embaixada brasileira no Sudão, como cônsul adjunto do Brasil em Londres e na embaixada do Brasil na Índia e na Tanzânia, onde se encontra atualmente. Foi editor de textos literários da revista Juca – Diplomacia e humanidades, publicada pelo Itamaraty, e ajudou a criar o blog Jovens Diplomatas.

Morando em terras estrangeiras, foi tomado por lembranças de outras paisagens e cenas de infância escondidas na memória, e começou a escrever contos, em parte inspirados em sua própria história, em parte inventados, que resultaram no livro O que não existe mais, publicado pela Tordesilhas em 2015. A coletânea será lançada na França e na Romênia e foi finalista do Prêmio Jabuti 2016, na categoria Contos e Crônicas. Já teve outros contos publicados em espanhol e inglês e participou da Primavera Literária Brasileira (2016), em Paris.

Sobre Tordesilhas

Revisitando os clássicos com criatividade, lançando autores consagrados de tradições literárias pouco ou nada conhecidas por aqui, buscando novos talentos e disponibilizando literatura de entretenimento sem perder de vista a qualidade, a Tordesilhas oferece um catálogo nada convencional e persegue o apuro na produção de seus livros, aparatando as edições, fixando textos com rigor, convidando especialistas e tradutores renomados. Seu compromisso é com a sensibilidade curiosa e investigativa.