Abraham Maslow: uma biografia do desenvolvimento pessoal como instrumento de saúde mental

Maslow insistiu que uma boa teoria da personalidade deveria incluir não somente as profundezas, mas também os pontos altos que cada indivíduo é capaz de atingir.

Andréa Nobre – andreanobrepsi@gmail.com

Abraham Maslow nasceu no dia 01 de abril de 1908, no bairro do Brooklyn, nos Estados Unidos. Filho de pais judeus e russos, que imigraram para os Estados Unidos no século XIX, Maslow viveu uma infância humilde e sem muitos amigos, pois seu bairro possuía poucos judeus. Seu pai, frequentemente, chamava-o de feio e o diminuía. Sofrendo com isso, Maslow passou a evitar contato com as pessoas, chegando a esperar as ruas e os metrôs ficarem vazios para transitar. Sua mãe impedia-o de comer, trancando a geladeira e abrindo-a de acordo com o seu humor. Certa vez ela descobriu que Maslow cuidava de dois gatos no porão de casa e os matou a pauladas. Esse cotidiano de relações familiares conflituosas marcou a vida de Maslow (Hall, 1968; Hoffman, 2008). Para fugir da situação difícil ele se refugiava nas bibliotecas de sua cidade.

Durante sua adolescência, Maslow foi pressionado pelos pais a se tornar advogado. Cedendo à pressão, matriculou-se, aos 17 anos, na Faculdade de Direito da Universidade de Nova Iorque, em 1926. Não se identificando com o curso pediu transferência, no ano seguinte, para a Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque, para cursar Psicologia (Hall, Lindzey & Campbell, 1957/2000). Já em Cornell, Maslow a princípio se desinteressou e desanimou da Psicologia. Frustrado, ele retornou para Nova Iorque e matriculou-se novamente no curso de Direito, cedendo, mais uma vez, aos interesses dos seus pais (Hall, 1968)

Maslow era apaixonado por sua prima, Bertha Goodman, o que gerou muitas intrigas familiares. Aos 20 anos casou-se com ela e teve duas filhas, Ann e Ellen (Hoffman, 2008). Com motivação para construir uma vida diferente, Maslow encontrou forças para sair de perto dos seus pais. Em 1930, decidiu retomar os estudos em Psicologia e mudou-se para Madison, para se formar na Universidade de Wisconsin, onde ele obteve êxito com os títulos de bacharel, em 1930, mestre, em 1931, e doutor, em 1934. O primeiro trabalho de graduação que o estudante de Psicologia escreveu em Wisconsin foi intitulado Psicanálise e Higiene Mental como Filosofia Social do Status Quo. Entretanto, ele não teve coragem de apresentá-lo (Maslow, 1971/1975).

No decorrer do seu doutorado conheceu quem se transformaria em seu primeiro mentor, Harry Harlow, com quem fez diversas pesquisas experimentais sobre o comportamento de primatas (Hall et al., 1957/2000; Hoffman, 2008). Devido ao seu esforço, o recém-doutor foi convidado a permanecer como docente da Universidade de Wisconsin, onde chegou a se matricular como estudante na Faculdade de Medicina, mas não deu continuidade por não ter tempo livre (Hoffman, 2008).

Depois de sair de Wisconsin, Maslow começou uma extensa investigação a respeito do comportamento sexual humano. O tema de sua pesquisa foi motivado pela noção psicanalítica de que o sexo é de importância central para o comportamento humano. Maslow estava certo de que qualquer avanço na compreensão do funcionamento sexual iria melhorar o ajustamento humano.

Sob a direção de Thorndike, ele realizou uma pesquisa sobre a sexualidade feminina, publicando diversos artigos sobre o tema. Em 1935, Maslow tornou-se residente da Universidade de Columbia, onde ele trabalhou sob a direção de Edward Thorndike que aplicou um teste de inteligência em Maslow e obteve um coeficiente alto (QI 195). Essa situação o fez acreditar mais em suas potencialidades (Hall, 1968).  E desenvolveu uma extensa pesquisa sobre a sexualidade feminina. Ao mesmo tempo em que teve contato com grandes influências, como Ruth Benedict, antropóloga cultural, Max Wertheimer, um dos fundadores da Psicologia da Gestalt, e Alfred Adler que logo se tornaria também o seu mentor.

Talvez por todas essas influências, Maslow se dedicou a conhecer e estudar diversas correntes da psicologia como a psicanálise, Gestalt e a Humanista. Após o término de sua residência em Columbia, em 1937, Maslow retornou para Nova Iorque para ocupar um cargo de docente no Departamento deA Psicologia do Brooklyn College, onde lecionou durante quatorze anos.

Durante esse período, em 1947, ele sofreu um ataque cardíaco, que o levou a tirar uma licença de um ano. Maslow e sua família aproveitaram para passar um tempo na Califórnia, onde a intenção era descansar. No entanto, ele criou uma cooperativa de psicólogos, assumindo nela um trabalho de liderança até retornar ao Brooklyn College nos anos seguintes (Hall, 1968; Hall et al., 1957/2000). Foi coordenador do curso de psicologia em Brandeis. Seus trabalhos produzidos a partir de 1937 mostram que os interesses de Maslow foram além do comportamento dos primatas e se estenderam para o comportamento social, traços de personalidade, autoestima, motivação e teorias em relação aos seres humanos. Seus estudos resultaram na publicação de seu livro Motivação e Personalidade.

Em 1951, Maslow foi convidado para presidir o Departamento de Psicologia da Universidade de Brandeis, em Waltham, Massachusetts. Ao se mudar, submeteu-se a uma psicoterapia analítica adleriana, para lidar com a mágoa que tinha dos pais. Maslow chegou a reconciliar-se com o seu pai, porém nunca conseguiu perdoar à mãe pelos maus tratos (Hall, 1968). Em Brandeis, ele desenvolveu estudos sobre motivação, personalidade e autorrealização. Publicado pela primeira vez em 1954, com o patrocínio da Fundação Ford, ele não parou de estudar e revisar sua teoria que foi mais uma vez publicada em 1970, obras estas que até hoje não foram publicadas em português. Na segunda fase da sua carreira Maslow teve importante atuação junto à Brandeis University. No fim da década de 60, foi condecorado “Humanista do ano”, pela Associação Americana de Psicologia, que o elegeu presidente.

Em meio a todo o trabalho intelectual que vinha desenvolvendo, a presidência da APA e com a saúde cardíaca debilitada, Maslow esteve envolvido ainda com negócios de família. Tudo isso o levou a se afastar da Universidade e do meio acadêmico em 1968. Incansável, em 1969 torna-se residente da Fundação Laughlin, Califórnia (Hall et al., 1957/2000), e montou um escritório que ficou conhecido como o berço estadunidense das ideias empresariais criativas. Nesse local, o psicólogo humanista popularizou suas perspectivas sobre empresas e gestão de pessoas que foram difundidas no Vale do Silício (Stephens, 1965/2003). Embora seja considerado um dos fundadores da Psicologia Humanista, desagradava-lhe limitações dos rótulos. Nós não deveríamos ter que dizer ‘Psicologia Humanista’. Eu sou contra qualquer coisa que corte possibilidades” Hall, 1968.

Fez parte de uma corrente de psicólogos que estudavam a personalidade humana, com base nas necessidades apresentadas pelos indivíduos. Maslow se destacou por ter decidido estudar todas as necessidades que os seres humanos possuem. Estudo esse que lhe permitiu descobrir que as necessidades operam hierarquicamente sob um indivíduo, estabelecendo assim sua teoria amplamente difundida: “Hierarquia das Necessidades Humanas”.

Nas primeiras décadas do século XX uma nova corrente da Psicologia surgia e se baseava nas necessidades e nas potencialidades dos indivíduos psicologicamente sadios. Essa teoria levou em consideração o que o indivíduo era e o que ele poderia vir a ser, ou seja, uma visão dinâmica do ser humano, em constante evolução. Maslow, cujo pensamento compatibilizava com essa premissa, dizia que as pessoas psicologicamente saudáveis são aquelas que conseguem satisfazer razoavelmente suas necessidades e assim podem atingir suas metas e objetivos. “O processo contínuo de desenvolvimento das próprias potencialidades significa usar suas habilidades e inteligência e trabalhar para fazer bem aquilo que queremos fazer” Maslow,1971, p. 48

Aos 62 anos, Maslow faleceu na Califórnia, em 8 de junho de 1970, vítima de um ataque cardíaco, quando se exercitava próximo à sua residência.

Fonte: Pixabay

Para simplificar a questão, é como se Freud nos tivesse fornecido a metade doente da Psicologia e nós devêssemos preencher agora a outra metade sadia. Maslow, 1968.

 

REFERÊNCIAS

 

AGUIAR, Ronaldo Aparecido. A EXPERIÊNCIA CRIATIVA INFANTIL EM ABRAHAM MASLOW,  Disponível em http://www.faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/7f2HDPxI4K4jnLY_2013-5-13-16-1-47.pdf  Acesso em 05 Março. 2023.

Coelho Castelo Branco, Paulo; de Brito Silva, Luísa Xavier Psicologia Humanista de Abraham Maslow: Recepção e Circulação no Brasil. Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, 2017,vol. XXIII, núm. 2, mayoagosto, 2017, pp. 189-199. Disponível em https://www.redalyc.org/pdf/3577/357752154007.pdf Acesso em 06 de Março. 2023

Hoffman, E. (2008). Abraham Maslow: a biographer’s reflections. Journal of Humanistic Psychology, 48(4), 439-443.

https://pt.economy-pedia.com/11039900-abraham-maslow Acesso em 05 Março. 2023.