Pica Pau é um personagem da série estadunidense produzido pelo estúdio Walter Lantz, distribuído pela Universal Pictures. Sua criação teve origem em novembro de 1940 pelas mãos dos produtores Walter Lantz e Ben Hardaway(desenhista). Sua primeira aparição foi de forma secundária em um desenho ( Andy Panda). Em 1957 ganhou seu próprio espaço com ” the woody woodpecker” de forma traduzida show do pica pau. Em um primeiro momento, pica pau aparece como um pássaro louco, de cores fortes e chamativas, porém com o passar do tempo, sofreu diversas modificações.
Um personagem de época marcante que ultrapassa gerações, embora alvo de críticas por muitos adultos, por ser considerado uma má influência nas crianças, graças a sua personalidade ambígua e teimosa. Muitas vezes taxado como louco, preguiçoso, inconsequente, agressivo, trapaceiro e desonesto, os adultos geralmente esperam que um desenho seja algo inocente com transmissão de alguma lição ou positividade. De acordo com a visão Bettelheim os contos de fada trazem, em suas versões originais, um conteúdo riquíssimo para a formação psicológica da criança. Porém, à medida em que estes contos vão sendo adaptados, com estranha finalidade de “agradar” a sociedade, eles perdem o que tem de mais precioso: sua essência.
É nessa essência que embora pareça um pouco conturbada, podemos notar as diferentes manifestações psíquicas que o desenho nos traz e sua importância no processo de desenvolvimento da criança.
Noção de identificação
O fato de que existem vários personagens que representam o “mal” reforçando a ideia de que, a criança precisa ter algo ou alguém para descarregar a raiva, principalmente a que sente dos pais quando eles a impedem de fazer alguma coisa que queira muito. Os diversos personagens a serem enfrentados, remete para a criança um sentimento de que, o medo ou raiva que sente não é apenas dos pais, e que as mesmas também experimentam esse sentimento com outras pessoas( tios, avós, coleguinhas..) Além do fato de que o Pica-Pau não é sempre o ‘’bonzinho’’ trazendo a ambiguidade que demonstra; pessoas são boas e más .
Objetos transicionais
Segundo Winicott existem objetos transacionais, que são a representação do próprio ‘’eu’’. No caso do Pica Pau sem dúvidas é sua risada marcante, que além de contar um certo deboche traz à tona conteúdos caóticos. Em um de seus bordões temos a seguinte fala: “‘Siga aquela motoca, siga aquele cavalo, siga aquela carroça, siga aquele chinesinho, siga a flecha, siga o chefe siga-me, olha, eu sou um bombardeiro…” (Pica-Pau). Para a criança não existe o caos, quem controla o mundo é o adulto, por isso elas se identificam muito com as transgressões de ordem.
Aprendendo a lidar com as consequências
O pássaro de cabeça vermelha não mede forças para derrotar seus inimigos, para as crianças os inimigos são os “chatos” e “implicantes” que não deixam elas fazerem o que querem, quando querem, logo elas fazem uma projeção justificando que o ato feito por ele foi certo. Quando ele não se dá bem chegam a ficar um tanto quanto frustradas, porém ao se ”dá mal” mostra às crianças que as mesmas precisam arcar com seus atos.
Vivenciando as diferenças
Em alguns episódios quando se veste de mulher, pode trazer algo representativo para muitas crianças, principalmente aquelas que se encontram em conflitos sexuais. Cada criança aprende e absorve os conteúdos de diversas maneiras, tudo depende do sentimento que passam pela sua mente, de forma inconsciente. Dessa forma o fato do pica pau se vestir de mulher pode ser encarado naturalmente, promovendo uma diversidade e aceitação.
Não devemos apenas enxergar o personagem com nossa ótica moralista, mas entender que os trajetos do mesmo podem ser um ideal do inconsciente de diversas crianças, embora cada criança seja afetada de formas diferentes, o efeito causado surge no inconsciente ou pré- consciente da criança, emergido de diferentes situações conflituosas. A reflexão que fazemos é que se por um momento mudássemos a ótica do desenho seu sucesso não seria o mesmo, Pica Pau carrega em si um significado passivo de apreensão, principalmente para aqueles que se identificam, mesmo não tendo a mínima intenção de trazer lição alguma.
REFERÊNCIAS
RIBEIRO, Natássia Thais; SANTOS, Márcio dos. Da fantasia à realidade: uma análise, à luz da psicanálise, do desenho animado pica-pau. Campina grande, p. 1-9, 7 out. 2021. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conages/2014/Modalidade_1datahora_18_05_2014_11_08_50_idinscrito_311_8c139e981403facaf411691b7348b4d4.pdf
PACHECO. Elza. As metáforas do Pica pau. Pesquisa Fasep. 2000 disponível em:https://revistapesquisa.fapesp.br/as-metaforas-do-pica-pau/. Acesso em 07/10/2021.