A desconstrução de Jacques Derrida

Este trabalho tem por objetivo discorrer sobre o pós-estruturalismo de Jacques Derrida, concomitantemente, aspectos relacionados a sua biografia e as influências que ocorreram ao longo de sua trajetória.   Serão elucidados conceitos de estruturalismo, como também as mudanças a este relacionadas. Derrida, em sua carreira, mobilizou a forma de organização da sociedade contemporânea, trazendo o termo “desconstrução”, considerando-o como uma desmontagem de ideias formadas, tidas como verdades absolutas. Foram abordados também críticas do pensamento moderno – logocentrismo e fonocentrismo, vislumbrando todo seu processo, e respectivamente, os princípios destacados, apresentando o conceito de fonemas e as configurações que norteiam as diferenças de escrita.

Para tanto, irá esclarecer o sentido e aplicação; operando a desconstrução, que tem em sua narrativa o conceito de centro, como também a diferença que existe entre différance e desconstrução, de antemão, o mesmo tem foco na escrita e em seu discurso defende a ideia de construir novos significados, possibilitando ver aspectos da verdade sobre um outro olhar. Uma das correntes filosóficas que influenciou o mundo contemporâneo, em meados do século XX, foi o Pós-Estruturalismo (BUENO, 2015). Essa linha de pensamento influenciou desde a arquitetura até a educação, abalando, assim, a forma de organização da sociedade moderna (SANCHEZ, 2012) .  Distingue-se as ideias do pensamento pós-estruturalista como sendo múltiplo e vasto, tendo como característica particular a “desconstrução de ideias e teorias estruturadas” (CORRENTES FILOSÓFICAS, 2011).

Fonte: https://goo.gl/jBvfTC

A corrente que se destaca neste período intitulou-se Desconstrução, ideia de Jacques Derrida, pensador e filósofo francês. Lecionou na França e em grandes universidades estadunidenses, como Yale, Harvard e John Hopkins. Foi muito influenciado pelas ideias de Freud, considerando a teoria do inconsciente como sendo revolucionária para a filosofia moderna (UOL EDUCAÇÃO). Em 1966, ainda desconhecido, Derrida apresenta um ensaio onde criticava e contestava os conceitos do estruturalismo (MENESES, 2013). Mas o que vem a ser a Desconstrução? Derrida aponta que tentar entender a desconstrução como um conceito ou até mesmo um método seria contraditório, já que a corrente surge justamente com o intuitoo de alterar as ideias de conceitos e métodos (VASCONCELOS, 2003). Derrida (apud VASCONCELOS, 2003, p. 74) denomina a Desconstrução como uma estratégia

O que me interessava naquele momento [da escrita de La dissemination, La double séance e La mythologie blanche], o que tento continuar agora sob outras vias, é, a par de uma “economia geral”, uma espécie de estratégia geral da desconstrução. […]. É, pois necessário antecipar um duplo gesto, segundo uma unidade simultaneamente sistemática e como que afastada de si mesma, uma escrita desdobrada, isto é multiplicada por si própria, aquilo a que chamei em “La double séance, uma dupla ciência: por um lado, atravessar uma fase de derrubamento. […] aceitar essa necessidade é reconhecer que, numa oposição filosófica clássica, não tratamos com uma coexistência pacífica de um vis-a-vis, mas com uma hierarquia violenta. Um dos dois termos domina o outro (axiologicamente, logicamente, etc.), ocupa o cimo. Desconstruir a oposição é primeiro, num determinado momento, derrubar a hierarquia.

Assim, a Desconstrução além de uma interpretação, nem mesmo uma operação, mas uma “releitura do mundo”, abrindo uma gama de possibilidades e significâncias e assim não dando espaço a “limitações metodológicas” (MENESES, 2013, p. 183). Em se tratando das críticas do pensamento moderno, tem-se o logocentrismo, caracterizado por “(…)um conjunto de pressuposições em que se assenta a cultura do Ocidente.  Bem de acordo com o percurso da lógica, o logocentrismo marca-se por um grupo    de    conceitos    estabelecidos    em    categorias    opositivas    como    mente/corpo, essência/circunstância, verdade/mentira” (GOULART, 2003, p.12).

Fonte: https://goo.gl/Aab1gu

Atrelado a essas noções que organizam o pensamento humano, que funcionam como elementos centrais, se concebe uma série de conceitos e ideias que dão ao homem uma espécie de realidade como um todo. Derrida utiliza-se muito da antítese no logocentrismo, afirma ainda que essas ideias centrais acabam sendo usadas como objeto de dominação e hierarquização

Nessa atitude, procede-se a uma hierarquização que tem por objetivo afirmar a superioridade de um termo em relação ao outro.  Assim, nenhuma dúvida haveria em se pensar as oposições espírito/matéria ou Deus/diabo como produtoras   de   uma   verdade   que   ilumina   o   primeiro   elemento   da   oposição.   Essa hierarquização também é vista por Derrida como um tipo de relação de poder uma vez que a  predominância  do  elemento  privilegiado  denota    um fundamentalismo  que  se  impõe, autoritariamente,   no   sentido   de   propor-se   como   um   centro   inquestionável,   única possibilidade  de    explicação  da  realidade  e  de  explicitação da  verdade,  em  termos absolutos, Derrida atua para avultar-se  a concepção logocêntrica  afirma o  valor  de  um  centro,  em  prejuízo   de  seu  oposto, e   metafísica  atribui  ao logos a possibilidade de afirmação da verdade e a própria explicação da origem do ser (GOULART, 2003, p.12).

Ao falar de fonocentrismo, Derrida faz uma crítica. Segundo ele, a linguagem na cultura ocidental tem o seu lado negativo, uma vez que ela subtrai as várias formas de linguagem. Critica ainda o fato de que a racionalidade e a razão são completamente ligadas a fala e que esta é um objeto direto de verdades conscientes. Isso é o que difere um indivíduo do outro, visto que a etiologia do fonocentrismo é a fala sobre a escrita, escrita essa que não está sujeita a autoridade de quem a escreve (GOULART, 2003). A esse respeito:

Nas suas investidas contra a metafísica, Derrida dedica um significativo espaço para a crítica ao fonocentrismo, ou seja, para mostrar tudo o que a fala tem de negativo, uma vez que   ela   contribui   para   a   manutenção   das   condições   que   oblitera   a   manifestação multifacetada da linguagem. Por coisas como essas é que disse, acima, que a fala pode ajudar a compreender a presença, na medida em que a fala, por suas propriedades fônicas, atua como se estivesse legitimando a presença do falante, numa dinâmica que é a própria autenticidade, por estar, ali, sem artifícios e sem aparências, atestando uma presença e uma verdade (GOULART, 2003, p.13).

Fonte: https://goo.gl/M4Jokc

Portanto, segundo o autor, o idealismo favoreceu para as práticas escritas e verbais, como as verdades mais próximas do ser. Derrida afirma que o fonocentrismo está ligado inteiramente a Logocentrismo, pois os escritores o desafiam. Essa escrita que é responsável por excluir a polissemia. No entanto

A escrita não tem sentidos unívocos; ela produz sentidos os quais, mais do que múltiplos (polissemia), são sempre relacionais, incertos e não sabidos, diferentes e diferidos. Os conceitos desconstruídos por Derrida são os de significado, verdade, ser, essência. A esses conceitos, ele opõe as noções diferença (“différance”) e rastro (“trace”). A diferença é o próprio movimento do sentido, que só existe numa rede de elementos passados e futuros, numa economia de rastros” (PERRONE-MOISÉS, 1995).

O princípio que norteia o pensamento de Derrida sobre a Desconstrução dos centros é saussuriano, e ele admite na sua obra “Gramatologia”, conforme comenta Leal (LEAL, 2009), onde apresenta o conceito de fonema, segundo o qual o papel do significante apenas se torna perceptível em contraposição a outro significante, como exemplo, Deus é conhecido quando contrastado ao diabo, a partir das diferenças apresentadas atribui-se significados (DERRIDA, 2006, apud LEAL, 2009). Na acepção de Derrida (2006, apud LEAL, 2009), o significante caracteriza-se pela possibilidade de articulação do significado por meio da fala e da escrita e o significado é o conceito posto para a articulação. Derrida acrescenta ainda:

[…] não era um lugar fixo mas uma função, uma espécie de não-lugar no qual se faziam indefinidamente substituições de signos. Foi então o momento em que a linguagem invadiu o campo problemático universal; foi então o momento em que, na ausência de centro ou de origem, tudo se torna discurso – com a condição de nos entendermos sobre essa palavra – isto é, sistema no qual o significado central, originário ou transcendental, nunca está absolutamente presente fora de um sistema de diferenças (DERRIDA, 2002, p.232 apud PEDROSO JÚNIOR, s.d., p. 18).

Como mencionado acima, Derrida destaca as “margens”, a qual chama de “diferenças”, demonstrando a marginalização da literatura por questões geográficas ou opressões ideológicas. Com isso motivou a busca por pesquisas relacionadas à literatura e estudos culturais. A fala e a escrita são produtos das relações, e de acordo com Derrida, a linguagem é uma estrutura orientada. A desconstrução derridariana (DERRIDA, 2006, p. 265 apud LEAL, 2009) sobre o suplemento que é o fato de existir lacunas de ausências que existe na fala e somente a escrita contribui para complementá-la.

Fonte: https://goo.gl/x5Y8Xp

Na desconstrução tem como princípio da diferença, da referência e do contexto, desmembramento do mesmo conceito, em que o termo e seu outro são co-participantes do significado. Derrida coloca que a configuração do significado de bem depende do conceito de mal, cada um é definido a partir de sua diferença com seu outro (LEAL, 2009). Embora fosse herdeiro do estruturalismo, ele problematiza o conceito de centro, ou seja, se existia um centro é porque ainda permanece no estruturalismo e consequentemente é considerada uma verdade metafísica e que como todas as verdades devem ser colocadas em questão.

Interessava-se em discutir e explicar os termos denominados de desconstrução e différance, pois para ele era clara a diferença entre os dois. Cada palavra tinha seus sentidos próprios e o que elas representavam. “Différance é um termo que Derrida cunhou em 1968 à luz de suas pesquisas sobre a Teoria Saussuriana e estruturalista da Linguagem(LECHTE, 2002, p. 125). Derrida dizia que havia uma grande complexidade entre a fala e a escrita, uma vez que os sons das palavras entram pelo córtex auditivo atravessam outras áreas e chegam ao córtex motor primário para o processamento da fala e nesse percurso distorções podem ocorrer, pois segundo Lechte (2002, p.126) “além disso, a afirmação de que a escrita fonética é inteiramente fonética ou de que a fala é inteiramente auditiva torna-se suspeita […]”.

Fonte: https://goo.gl/1US6F1

Em todas as suas obras Derrida teve o foco na escrita, pois inclui elementos pictográficos, ideográficos e fonéticos, sendo assim, ela não é semelhante em si mesma. A escrita é sempre multifacetada e desafia a identidade ou a ideia de originalidade. Derrida frisava quanto à “impureza” da escrita e seus diversos sentidos. No sentido da desconstrução percebe se a queda da linguagem da metafísica, pois através deste houve o rompimento do significado único das palavras e surge uma aplicação com maiores significados entre a palavra proferidas e escritas.

O Pós-Estruturalismo foi considerado uma desconstrução e uma quebra de paradigmas que perdurou por diversos anos. No entanto alguns pensadores como Derrida deram sua grande contribuição com ideias revolucionárias, que mudaram a postura do ocidente no campo da gramatologia e outros conceitos, no qual ele não concordava, pois os mesmos resumiam se a ideia de centro. As proposições de Derrida são consideradas um tanto quanto desafiadoras. Críticos questionam se o próprio filósofo teria incorrido naquilo que contesta, uma vez que seus conceitos também podem ter sido influenciados pelo contexto histórico e cultural, assim como aqueles sobre os quais ele debatia.

Fonte: https://infogr.am/desarrollo-sustentable4

 A ideia de desconstrução supõe questionar aquilo que, predominantemente no mundo ocidental, é considerado como verdade absoluta. O questionamento das tais ocorre principalmente através da linguagem, uma vez que é a forma pela qual elas foram instituídas. Derrida critica as noções dualistas a partir das quais se limita e reduz as características da linguagem, tais quais os termos que, uma vez mencionados, implicam necessariamente em um oposto (Homem/mulher ou verdade/mentira, por exemplo). Para ele, é preciso mais que simplesmente contextualizar as produções e influências que estavam sob elas; indo além, faz-se necessário abrir-se às possibilidades de uma linguagem que é multifacetada.

REFERÊNCIAS:

BUENO, Sinésio Ferraz. Da teoria crítica ao pós-estruturalismo: breves apontamentos para uma possível confrontação entre Adorno e Deleuze. Educar em Revista. ed. Curitiba: UFPR. n. 56, p. 149-161, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/er/n56/0101-4358-er-56-00149.pdf>. Acesso em: 14 de mar. 2017.

CORRENTES FILOSÓFICAS. Pós-Estruturalismo, 2011. Disponível em: <http://correntesfilosoficas.blogspot.com.br/2011/11/pos-estruturalismo.html>. Acesso em: 14 mar. 2017.

LEAL, Edilene M. Carvalho. Jacques Derrida: pensador da desconstrução pensador da diferença – XV ENCONTRO NACIONAL ABRA11PSO, 2009, Maceio-AL. Anais. Faculdade Integrada Tiradentes-FITs, 2009. Disponível em: <https://goo.gl/RdhJZq>. Acesso em: 01 mar 2017.

LECHTE, John. Cinquenta pensadores contemporâneos essenciais: do estruturalismo à pós-modernidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.

MENESES, Ramiro Délio Borges de. A desconstrução em Jacques Derrida: O que é e o que não é pela estratégia. Universitas Philosophica, n. 60, p. 177-204, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.org.co/pdf/unph/v30n60/v30n60a09.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2017.

PEDROSO JÚNIOR, Neurivaldo Campos. Jacques Derrida e a desconstrução: uma introdução. Revista Encontros de Vista. s.d. Disponível em: <https://goo.gl/lB9NyA> Acesso em: 01 mar. 2017.

PERRONE-MOISÉS, Leyla. Pensamento alterou rumos da crítica e da teoria. Outras Margens. Folha de São Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/12/03/mais!/8.html>. Acesso em: 15 de mar. 2017.

SANCHEZ, Renata Latuf de Oliveira. Estruturalismo e Pós-Estruturalismo: diálogos entre Cinema e Arquitetura. Anagrama, v. 6, n. 1, p. 1-14, 2012. Disponível em: <https://goo.gl/JAsTnc>. Acesso em: 14 mar. 2017.

UOL EDUCAÇÃO. Biografias: Jacques Derrida. s/d. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/biografias/jacques-derrida.htm>. Acesso em: 15 mar. 2017.

VASCONCELOS, José Antonio. O que é desconstrução. Revista de Filosofia, v. 15, n. 17, p. 73-78, 2003. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/index.php/RF?dd1=117&dd99=pdf>. Acesso em: 14 mar. 2017.