O presente ensaio tem o objetivo de elaborar um diálogo entre os textos, “As categorias da beleza”, descrito por Ariano Suassuna e as concepções de Platão e Immanuel Kant acerca do sentido atribuído à beleza, descritos no texto “A arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza”. Dessa forma, pretende-se abordar a respeito das visões objetivas e psicológicas das categorias da beleza, explanando sobre a beleza como forma de representação estética e de controle do pensamento humano. Segundo o pensamento Aristotélico sobre as categorias da beleza, quatro são de harmonia: o Gracioso, o Belo, o Sublime e o Trágico; as outras são ligadas à desarmonia, que são belezas criadas da natureza pertencentes ao campo de desordem, são elas: o Risível, a Beleza do Feio, a Beleza do Horrível e o Cômico.
Na visão objetiva das categorias da Beleza, Ariano Suassuna (2008) define: o Gracioso como uma forma de beleza onde se concretiza através de pequenas proporções. Os vários tipos de beleza podem destacar tanto na Natureza quanto na Arte; o Belo como algo que só desperta sentimentos agradáveis e serenos na sua fruição; o Sublime é uma forma de beleza ligada à harmonia, uma beleza mais característica das artes, como a poesia lírica e filosófica; o Trágico é ligado à desordem, mais adequado ao teatro, despertados por uma ação; o Risível é uma beleza criada a partir daquilo que, no mundo e no homem existe de desarmonioso.
Fonte: http://mosqueteirasliterarias.comunidades.net/estudos-sobre-a-poesia-lirica
A Beleza do feio e a Beleza do Horrível são as formas ásperas e especiais da Beleza, criadas a partir do que é feio e horrível na realidade. A Beleza do feio refere-se ao que é feio na natureza, e do Horrível ao que é repugnante em grandes proporções; o Cômico é a junção do Belo e o Sublime numa ação humana, resultando no trágico que desperta sensações de prazer misturado ao terror e piedade, resultando no cômico, que imita pessoas piores do que o comum.
Na visão psicológica, Charles Lalo relaciona a harmonia com as três principais faculdades que atribui ao espírito humano, são elas a inteligência, a atividade e a sensibilidade, isto é, a inteligência, a vontade e o sentimento. A harmonia pode ser entendida de três maneiras, como possuída, procurada ou perdida. “Pode-se aplicar esta lei em três graus diferentes, nas nossas três principais faculdades, na inteligência, na atividade e na sensibilidade, o que determina nove categorias estéticas, ou nove modalidades principais da grande lei de organização das forças mentais.” (LALO, 1952, p.59. apud SUASSUNA, 2008, p. 116) Na Harmonia Possuída encontram-se três das principais harmonias da Beleza – o Belo, o Grandioso e o Gracioso.
Segundo Lalo, Belo é a forma especial de beleza entendida como uma harmonia sensível a inteligência, julga pelo gosto e na qual se obtém, sem esforço, o máximo de rendimento estético com um mínimo de meios. Exemplo típico de belo é um templo grego, harmonioso, sereno, equilibrado. Já o grandioso segundo Lalo é uma harmonia resultante da vitória fácil obtida sobre um material duro e resistente, caracteriza-se pela harmonia obtida através da luta contra um material duro e resistente, colocado quase que acima das forças humanas comuns. Finalmente o Gracioso é um tipo de beleza ligado a sensibilidade e ao afeto, harmonia que nos inspira sentimentos de proteção e afeto, diante de seres ou objetos pequenos ou frágeis.
No Campo da Harmonia Procurada encontra-se três categorias principais, o Sublime, o Trágico e o Dramático, sendo a sublime a mais puramente intelectual das três, sublime é aquele tipo de beleza cujo núcleo é uma meditação que nos desperta um sentimento estético de solene terror pela fatalidade e solenidade das ideias em conflito. Para Lalo o Trágico é a harmonia procurada através de uma ação, pertence ao grupo das categorias mais ligadas a atividade. Já o Dramático é definido de maneira mais vaga por Lalo que afirma somente, ser ele o tipo de beleza que, através de uma ação, procura mais comover nossa sensibilidade. Lalo diz que um exemplo característico de dramático é ” a morte acidental, mas tocante, de Julia de Rousseau”.
http://utpictura18.univ-montp3.fr/listeNotices.php?quoi=texteSource&q=Rousseau,%20Julie%20ou%20La%20Nouvelle
No Campo da Harmonia Perdida as três principais categorias são o Espirituoso, o Cômico, e o Humorístico. O Espirituoso é o domínio das obras de arte nas quais predomina o riso despertado por uma sugestão de ideias. E então o risível mais puramente intelectual. Agora o Cômico é um risível mais de ação: o caráter e as ações cômicas se caracterizam por uma desarmonia presente numa vontade, enquanto considerada livre de não possuir essa desarmonia. Já o Humorístico segundo Lalo (1952) é ” realista e fantástico, feroz e terno, moral, amoral e por vezes imoral, metafísico e brincalhão, anárquico e social, apóstolo do bom-senso e demônio da extravagancia”.
Para Suassuna (2008, p. 70) “A satisfação determinada pelo juízo estético apoia-se no livre jogo da imaginação, é uma espécie de harmonização das faculdades causada pela sensação de prazer.” Correlacionando o texto As categorias da beleza ao texto A arte e a beleza, podemos observar palavras chaves destacadas nos dois tipos de texto, como: beleza, cultura, literatura, pintura, natureza, imaginação. Textos riquíssimos com visões de filósofos notáveis como Platão, Aristóteles e Kant, que em momentos onde se diferem as opiniões, vislumbramos até mesmo uma reciprocidade quanto aos textos e seus conceitos de beleza.
Aristóteles estabelece elementos como harmonia e desarmonia definindo beleza através de artes tal como literatura e teatro, determinando oito categorias de beleza. Para Platão a arte ou áreas da arte, são praticadas na escultura, pintura e em tempo planejado a literatura. Vemos um paralelismo quando Aristóteles estabelece as categorias da beleza, explicando que há beleza no feio, horrível e cômico. No texto “A arte e a beleza” retrata a subjetividade da beleza, pois a beleza se transforma conforme os tempos e os costumes, ou seja, a beleza pode ser absolutamente uma questão de ótica ou ângulo.
Para Aristóteles a beleza do feio e a do horrível eram peculiaridades da arte alegando que somos capazes de sentirmos prazer em olhar imagens horrorosas e desagradáveis. Analisando as visões do “Belo” nos respectivos textos, compreendemos que há divergências na interpretação do belo. Charles Lalo diz que belo é a forma especial de beleza relacionada à inteligência, harmonia e equilíbrio. Ponto de vista diferente do artigo que diz, havendo preocupação voltada ao belo do que com a verdade, fazendo o artista se utilizar da imaginação e não apenas do real. Dando conotação à beleza física e estética.
Nas duas leituras, o artista está relacionado à idealização e imaginação. É possível que a arte se converta em linguagem formada por imagens e símbolos, podendo o homem comunicar-se por formulação ou entendimento do que teórico. Para o autor, a escultura se apropria da manipulação da matéria-prima, pois está presente na definição do material a ser utilizado. A pintura representa o real transpassando para a tela. Mas, a literatura provoca outro significado diferente da escultura e da pintura; ela retrata mais a produção da imaginação que a representação propriamente dita. A literatura sobrevive de forma autônoma e penetrante aos limites da arte. A Arte é um campo bem vasto para ser compreendido na sua totalidade. O autor entende que o ser humano se comunica através da arte de forma perceptiva em uma linguagem de imagens e símbolos.
Fonte: http://www.publistorm.com/imagens-grafiteiros-pintam-paredoes-em-sp/
Os ramos que ajudam a explorar essa comunicação são descritos como: Escultura, pintura e a literatura. A escultura pode ser entendida como a intenção de criação representativa do artista, este contato com a obra dá-se de forma intima onde há apropriação da manipulação da matéria prima (barro, madeira, entre outros). A pintura é mais significativa, pois enfatiza os potenciais do artista (alcançar a representação do real traçando para a tela o alvo pretendido). Por fim a literatura, esta tem um significado diferente das anteriores, é voltado para a produção da imaginação, está ligado a solidificação da narrativa. A literatura tem sua parte na arte quando se diz respeito a beleza, como a poesia e o romance.
A precisão da arte para o entendimento do belo é primordial, pois, é através da arte que a beleza se relaciona com a estética. O aparecimento da arte seria um dos pontos mais importantes para a abordagem em torno do belo, a estética então serviria de combustível validando essa relação, e a filosofia seria o fundamento dessa grande associação e seria auxílio para tal entendimento.
O belo seria uma categoria da beleza mais comum na escultura, na pintura e na arquitetura, por exemplo, enquanto que o trágico é mais característico na Epopeia, do romance ou do teatro; em qualquer caso, porém, todos eles são maneiras diferentes, peculiares, singulares de realizar a beleza, são categorias da beleza (SUASSUNA, 2008, p. 107-108).
No entanto fazendo uma relação entre os assuntos, com exceção da beleza criada a partir do feio e do horrível percebe se que todos os tipos ou categorias de beleza contidos no texto “iniciação à estética” se encontram tanto na arte quanto na natureza. Sendo que existem tipos de belezas mais comuns nas artes chamadas plásticas e literárias.
Segundo Laborde (2006) fundamentalmente o signo da beleza e a representação da arte são o objeto de reflexão estética, dessa maneira a beleza e a arte estão completamente interligadas e são de suma importância para a compreensão da estética. Para alguns filósofos como Platão e Kant, o Belo tem se entendido com Estética moderna, sendo um dos tipos mais amplos chamado de Beleza. Neste ponto busca-se alcançar a beleza absoluta, na qual essa beleza não está relacionada exclusivamente a arte. Não se pode confundir que o Belo só desperta sentimentos agradáveis e serenos, de gozo, usufruto. Aristóteles afirmava que existem outros tipos de Beleza como o Trágico que é a mistura de sensações, sendo terror e piedade.
Segundo Aristóteles parte da Beleza combina primeiro com elementos de harmonia e desarmonia, com grandeza e proporção, a ponto de adentrar elementos de ação para chegar as categorias da Beleza mais realizadas por meio das artes literárias e teatrais, que é o Trágico e o Cômico. Para o filosofo a Beleza era definida por oito características, sendo quatro ligadas à harmonia: o Gracioso, o Belo, o Sublime e o Trágico. As outras quatros ligadas a desarmonia, tipos de beleza criada no campo que a Natureza pertence a desordem, o feio, o Risível, a Beleza do Feio, a Beleza do Horrível e o Cômico. Só assim podemos encontrar tipos de beleza nas artes plásticas e artes literárias. Comumente o Belo é encontrado na escultura, na pintura, na arquitetura. O Trágico é atributo do romance, teatro, epopeia.
Platão acreditava que o belo é uma manifestação visível das ideias, a arte é a imitação desenvolvida pelo mundo sensível, onde era uma reprodução. A beleza torna-se algo divino, primeiro é o caminho físico e depois espiritual. O diálogo entre Platão e Kant foi por significar um problema do belo e da arte que geram ligação ao sagrado para se alcançar a beleza absoluta. A beleza está ligada ao sensível, na qual o belo não está relacionado exclusivamente a arte, e sim está em busca da perfeição.
Fonte: http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2014/02/17/1082544/pos-impressionismo-autorretrato-vincent-van-gogh.html
Seja qual for o problema, de categorias de beleza, objetivas e subjetivas, Aristóteles sugeriu soluções. Conforme Edgard De Bruyne: “A primeira, parte do Belo (ou da Beleza), e é objetivista. A segunda, subjetivista, reduz tudo ao Estético. ” Assim, ele não escreveu um tratado dedicado à beleza, mas tinha em sim um conceito fundamentado de harmonia e de ordem, como o de desordem e desarmonia. Para Suassuna (2008), o homem pode se elevar da beleza sensível, até a contemplação estática da beleza Absoluta, na qual todas as outras belezas menores participam, assim unificando os pensamentos dos filósofos.
No texto “A Arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza”, o autor realiza comparações acerca da estética e seu sentido, que mais soa como uma padronização de uma beleza inatingível. O valor da beleza está no mundo das ideias, voltado mais para a estética que está em busca da perfeição: o belo. Para Platão, o belo é uma manifestação real (visível) das idéias e arte é a imitação desenvolvida pelo mundo sensível, é um re-produzir (SILVA e LORETO, 1995). Em ambos os textos é possível notar a imposição de um padrão inatingível, que é resultante de um processo histórico-filosófico. A concepção platônica associa a Beleza à verdade e principalmente ao ideal absoluto, assemelhando-se a algo “divino”.
Enquanto Platão dedica-se a buscar a perfeição, Kant se restringe á sensação. Para Platão, a beleza é associada ao objeto, á sua estética (modelos estabelecidos por Suassuna). Já Kant, considera a beleza como produto do sujeito mais próximo ao ideal de satisfação, regida pela sensação, através do senso da interpretação de quem o avalia. Dessa maneira, conclui-se que o belo seria determinado historicamente, através das categorias da beleza citadas por Suassuna, pelo juízo subjetivo de gosto, este que, para Platão, faz parte do mundo das ideias, é algo ideal e inalcançável, uma vez que busca contemplar os anseios da arte, da filosofia e da estética.
Nessa medida, pode-se afirmar que o belo revela faces que caracterizam e reajustam todo um modo de pensar, o qual está pré-determinado por processos históricos, mas, a arte e a sua eterna “manutenção da imagem” ressaltam a verdadeira beleza, esta que pode estar presente no conhecimento filosófico, no encantamento que pode estar detrás de todo conhecimento científico como espelho da arte, que reflete em sua verdade a disseminação da estética.
REFERÊNCIAS:
LABORDE, André Luiz Portanova; SILVA, Cassiano Paes da; LOBO, Alessandra Rodrigues. A arte enquanto espelho da estética: um diálogo entre Platão e Kant acerca das raízes histórico-filosóficas da beleza. 2006.
SUASSUNA, Ariano. As categorias da beleza: Visão objetiva. In: SUASSUNA, Ariano. Iniciação a estética. 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. Cap. 10-11. p. 105-133.