Atenção às Urgências e Emergências: (En)Cena entrevista o Coordenador do SAMU de Palmas-TO

O SAMU é o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e tem como objetivo prestar atendimento pré-hospitalar de forma rápida e segura para as vítimas que sofrem ocorrências de urgência e emergência, além de conectar essas vítimas à uma unidade hospitalar. Tendo em vista a importância do serviço, que está compreendido na Rede de Atenção às Urgências e Emergências, o (En)Cena, em colaboração com acadêmicos de Psicologia do CEULP/ULBRA, entrevistou o coordenador do SAMU de Palmas/TO, Luciano Batista Lopes.

Foto: Luciano Batista Lopes (à direita)

Luciano é graduado em medicina, com pós-graduação em medicina intensiva e em cardiologia. Possui como área de atuação UTI e Urgências e Emergências, onde foi diretor técnico. Hoje atua como coordenador médico do SAMU de Palmas/TO, onde atua há três anos.

(En)Cena – Como funciona o SAMU dentro da rede de atenção à saúde?

Luciano Batista Lopes – O SAMU é um serviço de atendimento de urgência e emergência. Ele visa conectar as vítimas que precisam do atendimento de forma rápida e segura, tanto para o paciente quanto para a equipe. O objetivo é conectar esses pacientes à uma unidade hospitalar ou pronto-atendimento. Temos vários tipos de ocorrências que englobam o nosso serviço, desde causas externas, como ferimento por arma de fogo, acidentes, até urgências e emergências em clínicas psiquiátricas, gineco-obstétricas. Além disso, o SAMU tem um papel fundamental também na parte social, porque as vezes a gente acaba enviando uma ambulância para fazer um atendimento social. As vezes não tem nenhuma relação com a doença propriamente dita, mas com a questão de poder aquisitivo mais baixo, de não ter um transporte para estar procurando a unidade hospitalar.

(En)Cena – Qual a maior demanda de atendimento?

Luciano Batista Lopes – Sem dúvida alguma a maior demanda são causas externas, do tipo acidentes, principalmente envolvendo motos, e ferimento por arma de fogo, arma branca também.

(En)Cena – Em que casos se deve acionar o SAMU?

Luciano Batista Lopes – É uma boa pergunta. O SAMU é um serviço de urgência e emergência, então situações clínicas, exemplos: paciente com suspeita de AVC, suspeita de infarto, urgências e emergências externas que são os acidentes, gineco-obstétricas, sangramento em grande quantidade, trabalho de parto, psiquiátricos, pacientes com surto psicótico, agitados, agressivos, que possam causar problemas tanto para ele quanto para a população, a parte clínica também. Queimadura é uma das causas que podemos estar atuando, naquele grande queimado, caso leve não.

(En)Cena – Então o encaminhamento ocorre de acordo com a demanda?

Luciano Batista Lopes – Exatamente. Na verdade, é feita uma coleta de dados, temos os técnicos auxiliares em regulação médica, que na hora que você disca o 192 eles atendem ao telefone. Então eles são técnicos para estarem fazendo o primeiro cadastro. Eles cadastram o nome, o endereço e o apelido da ocorrência, qual que é o motivo. A partir daí eles encaminham para o médico da regulação, e o médico da regulação é quem faz a extração e a filtração das informações para estar encaminhando a viatura. Ele julga se há ou não a necessidade da viatura e qual o tipo da viatura que vai, porque nós temos a viatura que vai apenas o condutor e o técnico de enfermagem, que é o suporte básico, e temos a viatura que os componentes são: condutor, técnico de enfermagem, médico e enfermeiro, que essa é uma UTI. Tem todo o aparato, toda a monitorização de um tratamento intensivo.

Foto: Luciano em atendimento ao 192

(En)Cena – Quais são os órgãos que trabalham em conjunto com o SAMU?

Luciano Batista Lopes – Temos parceiros. O corpo de bombeiros, o CIOPAer, que é o serviço da segurança pública, acabamos atuando no serviço aero médico, a polícia militar também é muito importante, com os pacientes psiquiátricos principalmente, a guarda metropolitana também tem atuado com a gente, a INFRAERO, a ATTM que sempre que tem um acidente, a gente pede para o solicitante estar fazendo contato para evitar outros acidentes, sinalizando o local. São os nossos maiores parceiros.

(En)Cena – Tem algo que você acredita que possa ser melhorado no serviço?

Luciano Batista Lopes – A conscientização do que realmente é o serviço, do objetivo do SAMU.

(En)Cena – Então seria mais para a população?

Luciano Batista Lopes – Exatamente. Tanto no sentido de saber quais são as situações clínicas que precisa ser acionado o 192, que são situações de urgência e emergência, quanto a questão dos trotes também. Então precisa dessa conscientização da população.

(En)Cena – Acontecem muitos trotes?

Luciano Batista Lopes – Acontecem. Cerca de 12% dos nossos atendimentos são trotes.

(En)Cena – Certamente isso atrapalha o fluxo do serviço.

Luciano Batista Lopes – Sem dúvida nenhuma. Você ocupa uma linha que possa estar alguém tentando e não consegue ligar porque está ocupada por alguém passando trote e ocupa muitas vezes a ambulância. A equipe é treinada até para tentar identificar esses trotes, mas tem situações que passam e ambulância chega no local e não tem nada.

(En)Cena – Então é por isso que tem aquele interrogatório na ligação?

Luciano Batista Lopes – Exatamente. Por isso que a população as vezes acha um pouco chato. Você liga no SAMU, aí fala com um, fala com outro e demora. Mas é porque a gente realmente precisa filtrar as informações e racionalizar a ambulância, encaminhar para aquilo que realmente tem necessidade.

(En)Cena – Existe alguma demanda que você queira falar que mais te marcou, positiva ou negativamente?

Luciano Batista Lopes – Eu já fui em uma ocorrência depois de Taquaruçu, lá no Mirante. Ali teve um micro-ônibus que na curva passou reto e caiu lá embaixo. De início a gente pensou que como era seis horas da manhã, seria um ônibus com crianças indo para a escola, mas não era. Era um micro-ônibus que tinha apenas duas pessoas, uma já estava em óbito no local, e a outra ficou presa nas ferragens. Tivemos o apoio do corpo de bombeiros, da polícia militar e foi bem difícil fazer o resgate, mas conseguimos. O ônibus estava de ponta e dentro dele tinha duas pessoas, duas vítimas, e eles carregavam dentro do ônibus geladeira, televisão, então eles faziam do ônibus a casa. Então imagina, o ônibus de ponta e aquele tanto de coisa em cima de você e você tentando tirar uma pessoa que está ali, tendo que confiar muito no serviço do corpo de bombeiros para aquilo não cair. A gente teve que descer também para ofertar oxigênio, para medicar. Ele tinha um ferro transpassado na perna que o bombeiro não conseguiu tirar. Foram quase cinco horas de ocorrência. A gente conseguiu fazer o resgate, depois que colocamos ele dentro da ambulância, levamos para Taquaruçu, onde o serviço médico já estava aguardando. Essa para mim foi a mais marcante.

(En)Cena – Então não é um serviço fácil, tem que haver um preparo, um treinamento.

Luciano Batista Lopes – Sem dúvida nenhuma. Tem que estar preparado, tem que estar treinado e capacitado. Mesmo quem já está muito tempo no serviço, sempre tem coisa nova.

(En)Cena – E como acontece esse treinamento?

Luciano Batista Lopes – Aqui nós temos o núcleo de educação e urgência, que é o NEU e hoje é coordenado pela enfermeira Carla. Ele trabalha tanto a urgência e emergência, como ele capacita também na atenção primária. O núcleo é do SAMU, ele oferece cursos de atendimento pré-hospitalar, de emergências, é uma educação continuada, todo mês tem cursos. Como o SAMU atende tanto Palmas, quanto Porto Nacional, Paraíso, Miranorte, Miracema, Novo Acordo, Lajeado, o NEU é responsável por fazer a capacitação e treinamento de todos os profissionais que prestam serviço para o SAMU nas regionais. E Palmas treina quem está no SAMU e toda a rede de atenção primária também. Tem médicos e enfermeiros dentro do núcleo e eles são os responsáveis por estarem capacitando. E além disso eles fazem um serviço nas escolas, que é o SAMUzito, tentando conscientizar as crianças do real objetivo do SAMU e tentando conscientizar também sobre a questão dos trotes, onde a grande maioria é feita pelas crianças.

(En)Cena – Tem algum tipo de acompanhamento psicológico para os trabalhadores do SAMU?

Luciano Batista Lopes – Não.

(En)Cena – Você vê necessidade?

Luciano Batista Lopes – Sem dúvida. Tem necessidade, porque é um serviço estressante, você tem que lidar com várias situações, tanto situações catastróficas, no caso de acidentes graves ou situações onde tem acidentes com múltiplas vítimas, que as vezes tem um grave, tem outro que já está mais descompassado quanto a questão social também. Às vezes você chega em lugares insalubres, às vezes tem situações de maus tratos, principalmente com idosos e às vezes isso abala um pouco o emocional. Lidar com essas situações não é fácil. Da parte da psicologia a gente com certeza precisa. Se tivéssemos um serviço de atendimento, iria beneficiar muito o serviço e os servidores.

(En)Cena – Quais são as suas expectativas em relação ao SAMU?

Luciano Batista Lopes – São as melhores, porque é um serviço que a população sente que é sinônimo de esperança. Aquele que liga 192, no momento em que liga, o intuito dele e a esperança é de um desfecho satisfatório, positivo. Então é em cima disso que a gente trabalha. Expectativa das melhores, de sempre estar fazendo o melhor e tendo um desfecho positivo, que nem sempre é possível.

(En)Cena – Tem alguma mensagem que você gostaria de deixar para a população em relação ao SAMU?

Luciano Batista Lopes – Se você utilizar o serviço da forma correta, a gente consegue atender um número maior de solicitantes e de forma precisa e eficaz. Isso depende muito da conscientização da população.