Atualmente, com o avanço da ciência, da tecnologia e também da formação do processo cultural do esporte de luta em todo o mundo, a espetacularização dos corpos por parte dos atletas têm se tornado cada vez mais frequente e simbólico nos momentos dos treinos e lutas realizados pelos mesmos. Essa “espetacularização” é vista como a potencialização dos corpos, seja ela por meio de substâncias químicas como anabolizantes e esteróides ou por forma puramente psicológica durante os treinos nas academias de luta e/ou dentro dos ringues.
Os atletas – para se sentirem mais fortes, tanto fisicamente quanto psicologicamente – acabam por ingerir certas substâncias que causam efeitos de anestesia (sensação de menor dor e impacto dos socos que são dados pelos seus adversários nas lutas de M.M.A.) e maior força física, proporcionando uma maior segurança e intimidação para seu adversário durante a exibição do seu corpo para a plateia e para o seu próprio oponente. Nota-se que a preparação e constituição de um lutador requer mais do que grandes preparações físicas desgastantes e domínios de técnicas durante os treinos e os espetáculos vistos nos ringues. É algo que, muitas vezes, é realizado nos “bastidores” antes das lutas, e como consequência, torna-se invisível aos olhos dos espectadores que apreciam as performances dos atletas.
Toda a musculatura e desempenho que é adquirida no esporte de luta concedem uma formação de identidade nos atletas, proporcionando-lhes uma “personalidade” e linguagem corporal que lhes são atribuídos como sinônimo de virilidade e bom estado físico, sendo capaz de demonstrar para os espectadores que o mesmo se encontra apto para poder ter uma boa luta e vencer os mais diversos oponentes durante a sua carreira como lutador. O estado psicológico desses atletas também é afetado por sofrerem muita pressão, fazendo com que esses treinem ao seu limite para conseguirem superar o adversário, muitas vezes sem se preocupar com as consequências, só focando na vitória, deste modo se desgastando, trazendo prejuízos para sua saúde, recorrendo a remédios que muitas vezes acabam piorando a sua situação em vez de ajudar.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2013/05/dados-cientificos-apontam-para-os-problemas-do-uso-de-anabolizantes.html
Há na sociedade atual uma intensa valorização do corpo. Os corpos desejados são os sarados, musculosos, em boa forma. São conquistados através de longas e cansativas séries de exercícios em academias, uma dieta rígida, suplementos alimentares que fornecem os nutrientes que não foram adquiridos na alimentação e, às vezes, através também de anabolizantes. A mídia e a indústria de cosméticos são fatores que contribuem para a valorização do corpo na sociedade atual.
O corpo que se vê está na moda. Ele é exibido em cartazes, novelas, filmes, etc. A nudez vem emergindo cada vez mais limpa. Se somarmos o número de produtos cosméticos que existem no mundo, de academias para se modelar o corpo, de empresas que produzem roupas para se mostrar o corpo, veremos que talvez um décimo da economia mundial gira em torno da produção para tomar o corpo que se vê bonito, atraente, vistoso, moreno, atlético. É a indústria do “olhe para mim”, forma oficial de exibicionismo e de chamar a atenção. (GAIRSA, 2005, p. 295)
O Brasil se tornou o segundo país do mundo com mais academias por habitante, segundo o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Os motivos que levam as pessoas a frequentar a academia podem ser para melhorar a estética corporal, diminuição do peso, melhorar a saúde, entre outros.
As práticas desportivas estão ganhando cada vez mais espaço na sociedade atual. Anteriormente, a prática de esportes era considerada um hobby. No entanto, com a valorização das competições mundiais, os esportes tornaram-se profissões. Os atletas buscam maior eficiência em sua performance esportiva e ela pode estar diretamente ligada ao seu corpo. Desta forma, o esporte passou a ser um mecanismo de criação de eficientes corporais e contribuiu para a valorização do corpo.
Nas práticas desportivas, o corpo do atleta é visto para além do ponto de vista estético, diferentemente do que é buscado pelas outras pessoas que praticam exercícios. Segundo Nunes e Goellner:
O corpo de um atleta olímpico, por exemplo, produz-se de forma diferenciada do corpo de uma pessoa que busca melhorar a forma física e a aparência. Resguardadas as devidas proporções, o que é necessário enfatizar é que, ambos, utilizam recursos que potencializam sua aparição e os dois personificam a hibridização natureza/cultura, bem como a transformação de si em um eficiente corporal, onde as fronteiras entre pessoa e tecnologia encontram-se absolutamente atravessadas (NUNES; GOELLNER, 2007, p. 56).
Apesar de a competição ser uma das mais importantes etapas da prática desportiva, um longo caminho de preparação física vem antes e ela é a principal responsável pelo desempenho do atleta na competição. Atualmente, os atletas utilizam diversos recursos na preparação física que podem potencializar sua técnica e melhorar o condicionamento física; esses recursos podem ser dietas e suplementos, preparação psicológica e até o uso de anabolizantes.
Fonte: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2011/04/o-corpo-perfeito-de-um-atleta-olimpico.html
Vaz (1999) apresenta uma ideia de como pode ser entendido o treinamento nas práticas desportivas:
O treinamento pode ser entendido, de forma geral, como um conjunto de diversas e complexas ações no sentido da melhoria do rendimento. Este é orientado por um fim específico, e deve seguir um planejamento que leve em conta os objetivos, os métodos, o conteúdo, a estrutura e a organização geral, sempre tendo como referência o conhecimento científico e a experiência prática (VAZ, 1999, p. 102).
O planejamento alimentar dos atletas também é um fator muito importante. Permite que eles reponham as energias gastas no treino, adéqua sua carga nutricional e é essencial para a saúde e performance desses indivíduos. Quando a quantidade de alimento consumida não supre as necessidades nutricionais, os suplementos alimentares entram em ação. Eles estão disponíveis no mercado em diversos tipos e é importante que os atletas utilizem a dosagem correta dessas substâncias.
Alguns atletas, quando acham que a dieta rígida e os suplementos não são suficientes para garantir o corpo necessário a suas performances, recorrem aos anabolizantes. “Os atletas usam a droga para ficar altamente musculosos, aumentar o peso e adquirir força” (Nunes e Goellner, 2007, p. 64). A maioria desses medicamentos são “tarja preta” e outros são produtos de uso veterinário. Infelizmente, ao fazerem isso, os atletas não percebem que estão prejudicando enormemente seus corpos.
A preparação psicológica dos atletas também é de extrema importância. Seu estado emocional e psicológico ficam fragilizados diante das situações e dos recursos que eles utilizam para potencializar seus corpos, melhorar suas performances. Outro fator que pode afetar negativamente é o estresse causado pela intensa rotina de treinamentos. A ansiedade e o medo de perder a competição também podem afetá-los. Cada modalidade desportiva apresenta alguns produtos que estão ligados a ela e que também fazem parte da performance de seus participantes. No M.M.A. (Mixed Martial Arts), esporte apresentado por Nunes e Goellner (2007) em seu artigo “O espetáculo do ringue: O esporte e a potencialização dos eficientes corporais”, esses produtos são “as gírias, as modificações corporais (orelhas deformadas e cicatrizes), as revistas, vídeos, etc.”
Fonte: http://veja.abril.com.br/esporte/ufc-da-um-carro-de-930-000-reais-de-presente-a-anderson/
É recorrente que o ser humano chegue em uma fase da vida onde o seu corpo não lhe satisfaz, pois não sente se a vontade com o que está vendo na frente do espelho todo dia que acorda, nem mesmo quando esta tomando banho ou com seus pares, isso por que o que vemos nas mídias sociais é a busca do corpo perfeito onde imperfeições não são aceitas. Deste modo pessoas buscam produtos que não fazem bem a saúde ou que podem acarretar a problemas sérios no futuro, muitos podem pensar que só querem ficar mais bonitos, mas há uma busca incessante pela juventude muitas vezes burlando as limitações que o corpo possui.
Corpos que víamos em desenhos, em quadrinhos, como corpos enormes e cheios de músculos, ou corpos que acoplam em si máquinas (como os ciborgues dos desenhos animados), hoje em dia é algo totalmente real e possível de se conseguir. Vivemos numa sociedade em que somos também o que aparentamos ser, logo se vê muito investimento em nosso corpo no dia a dia, tanto na saúde, quanto também na beleza, na juventude, entre outros.
Mesmo com a tecnologia que temos em nossas mãos e produtos que são desenvolvidos diariamente tentam ao máximo chegar ao corpo ideal, os sacrifícios para manter aquele corpo sarado são desgastantes devido ao treinamento diário. Muitas vezes, a alimentação não é suficiente, pois não fornece energia o bastante para executar algo tão cansativo e repetitivo. Alguns atletas são incentivados a sempre ganhar e quando perdem acabam frustrados, culpando a si próprios pelo resultado abaixo do esperado, querendo sempre ser melhor que o concorrente e, mesmo eles estando em primeiro, o processo de superação ainda não foi alcançado, para eles aquilo não e suficiente querem estar numa classificação que somente ele pode alcançar.
Fonte: http://olimpiadas.ig.com.br/2012-08-02/atletas-choram-e-se-desesperam-nas-olimpiadas-veja-fotos.html
Cláudio Nunes e Silvana Goellner (2007) afirmam que a potencialização e exposição do corpo produzem efeitos na construção da subjetividade do indivíduo, manifestando-se na forma como nos tornamos sujeitos de nossas práticas e das práticas alheias, e na maneira como percebemos nossas eficiências e deficiências mensuradas na contemporaneidade, por meio de nossas anatomias e contornos corporais.
Durante todo o texto “O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais”, Nunes e Goellner falam sobre performances, o quão importante é para mostrar e satisfazer a pessoa que trabalhou para ter um corpo assim e o quanto isso a leva a ir cada vez mais fundo na sua busca de um “corpo perfeito”, de mostrar sua virilidade por suas cicatrizes e sua força, de querer ser um ser humano excepcional, muito bom em algo e dar o seu melhor sem desgastar-se para que as outras pessoas o vejam, admirem, elogiem, entre outras coisas que o faça sentir bem.
Mediante o exposto no desenrolar deste texto, percebe-se o esforço focado na aparência que encontramos no nosso meio e o quão é importante na formação social e na construção da nossa subjetividade. É feito um grande investimento em algo específico para motivar outras pessoas com seus dotes físicos naturais ou conquistados. Nota-se todo um processo para chegar a um estado sem que comprometa sua saúde, sem desgastar-se.
REFERÊNCIAS:
CASSIMIRO, Erica Silva; COSTA, Shirley Barbosa da. Padrões sociais com a imagem corporal: a insatisfação das pessoas com o corpo. Disponível em: <http://congressos.cbce.org.br/index.php/3conceno/3conceno/paper/viewFile/3950/2218> Acesso em 23 ago. 2016.
EUFIC. Suplementos Alimentares: quem precisa deles e em que situações? Disponível em: <http://www.eufic.org/article/pt/artid/Food_supplements_ who_ needs _them _and_when/> Acesso em 23 ago. 2016.
GAIRSA, José Angelo. O corpo que se vê é o corpo que se sente. In: DANTAS, Estélio H. M. (Org). Pensando no corpo em movimento. Rio de janeiro: Shape, 2005.
NUNES, C. R. F.; GOELLNER, S. V. O espetáculo do ringue: o esporte e a potencialização de eficientes corporais. In: COUTO, E.; GOELLNER, S. V. (Org.). Corpos mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais. Porto Alegre: UFRGS, 2007. v. 1. p. 55-72.
SEBRAE. Brasil caminha para assumir liderança mundial em número de academias. Disponível em: <http://www.agenciasebrae.com.br/sites/asn/uf/NA/brasil-caminha-para-assumir-lideranca-mundial-em-numero-de-academias> Acesso em 21 ago. 2016.
VAZ, Alexandre Fernandes. Treinar o corpo, dominar a natureza: Notas para uma análise do esporte com base no treinamento corporal. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v19n48/v1948a06.pdf> Acesso em 23 ago. 2016.