Flor do Deserto: o dia que mudou a vida de Waris Dirie

Nascida numa família nômade no deserto da Somália em 1965, a modelo de renome internacional, fundadora de uma organização que leva o seu nome e embaixadora da ONU na luta contra a prática de mutilação genital feminina, Waris Dirie que significa Flor do Deserto tem sua vida narrada no livro e filme chamado Flor do Deserto. Uma história de muita dor, sofrimento, fome, determinação e luta por sobrevivência.

Mutilada aos cinco anos, em uma situação de pudor e dor: “Senti, depois, minha carne, meu órgão genital ser cortado. Eu podia ouvir o ruído da lâmina cega entrando e saindo da minha pele. Quando penso, sinceramente, não consigo acreditar que isso acontecera comigo. (…) “Por favor, meu Deus, faça isso terminar logo”. E ele fez, pois desmaiei.” (apud Fachin, 2012) Ela fugiu aos treze de um casamento arranjado pelos pais e atravessou o deserto rumo a Mogadíscio e depois para Londres em busca de uma vida melhor.

Waris Dirie (Liya Kebede) e Marylin (Sally Hawkins).
Waris Dirie (Liya Kebede) e Marylin (Sally Hawkins).

A prática é difundida culturalmente até hoje, de acordo com os dados da ONU, esse tipo de intervenção ainda acontece em 30 países espalhados por três continentes. Estimativas indicam que 200 milhões de mulheres e meninas teriam sido vítimas dessa forma de mutilação. A organização tem uma campanha contra a prática, que considera prejudicial à saúde da mulher e uma violação dos direitos humanos (Sanchez, 2010).

Nas ruas de Londres encontra uma mulher chamada Marylin que logo se torna sua colega de quarto, e com ajuda dela passa a trabalhar como faxineira em uma lanchonete. Certa vez Waris se deparou com uma cena de sexo e descobre que sua amiga não era “cortada”, tal cena remete a uma reflexão, pois houve um diálogo entre ambas (de culturas diferentes) que é visível a presença do respeito e da tolerância abrindo mão do etnocentrismo.

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Logo em seu ambiente de trabalho conheceu um fotógrafo famoso Terence Donovan que já observava a sua beleza, convidou para fazer fotos e a lançou no mundo como modelo. Waries usou sua fama como objeto para tornar a prática da mutilação genital feminina conhecida no mundo todo, e difundir a ideia de que essa cultura precisa ser erradicada através do seu discurso que chegou até a ONU.

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Waries deu voz a uma prática que viola os direitos humanos e traz riscos de vida, a mesma retrata indignação em uma entrevista ao G1: “É uma vergonha que uma tortura bárbara, cruel e inútil continue a existir no século XXI”. Dirie diz que sempre sentiu que aquilo não estava certo e quando se tornou uma ‘supermodelo’ pode começar a luta contra a prática. (Sanchez, 2010) Exemplo de revolução e determinação que marca a história de pessoas que lutaram pelos direitos das mulheres.

REFERÊNCIAS:

Sanchez,G. ‘É impossível descrever a dor’, diz modelo sobre circuncisão feminina. G1, São Paulo, 03 de jul. de 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/07/e-impossivel-descrever-dor-diz-modelo-sobre-circuncisao-feminina.html>. Acesso em: 08 de mar. de 2017.

Fachin, M. G. “Flor do Deserto”- Ponderações sobre arte, direitos humanos e cultura. Cadernos da Escola de Direito e Relações Internacionais, Curitiba, 2012. Disponível em: <http://revistas.unibrasil.com.br/cadernosdireito/index.php/direito/article/view/811>. Acesso em: 08 de mar. de 2017.

ONUBR. Em dia internacional, ONU pede mais esforços pelo fim da mutilação genital feminina. ONUBR Nações Unidas no Brasil, 06 de fev. de 2017. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/em-dia-internacional-onu-pede-mais-esforcos-pelo-fim-da-mutilacao-genital-feminina/>. Acesso em: 08 de mar. de 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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FLOR DO DESERTO

Diretor: Sherry Hormann
Elenco: Liya Kebede, Sally Hawkins, Timothy Spall, Anthony Mackie
Ano: 2009
País: EUA
Classificação: 14