Hegel: a realidade como um processo histórico

Este trabalho tem como objetivo principal compreender a corrente filosófica hegeliana, por meio de uma análise hermenêutica dos textos estudados. A teoria estudada refere-se à Teoria de Hegel. Filósofo mais famoso da Alemanha, Hegel, estabelece sua ideia central de que todas as coisas são aspectos de uma única coisa, ou seja, os aspectos da consciência, a instituição política, entre outros, são de um único espírito e ao longo do tempo esses aspectos se reintegram, dando origem ao que posteriormente foi intitulado de “dialética”.

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A dialética para Hegel seria a “supremacia do pensamento” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013). Por meio desta perspectiva, também foi possível compreender os fatores essenciais da constituição dos sujeitos, enquanto processo histórico. Assim, diante das leituras de Burnham e Buckingham (2013), Madjarof (2009),  Novelli (2008) e Silveira (2016) foi possível conhecer a articulação histórica desta teoria, elencando alguns pontos para “compreensão do saber” e realizando algumas interpretações do idealismo hegeliano – enquanto elementos que sustentam uma lógica historicista – e trazendo também reflexões de que nós seres humanos não nascemos “prontos”, mas sim – conforme os pressupostos de Hegel – existe todo um processo histórico que acarreta na construção do sujeito.

Para a corrente filosófica Hegeliana: “não há nada sobre os seres humanos que não seja de caráter histórico” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013). Logo, tal compreensão conduz a uma percepção distinta acerca do modo como o conhecimento ocorre. Silveira (2016) caracteriza este pensamento ao apontar que uma maneira de compreender a especificidade desta filosofia é por meio da afirmação de que a verdade é um sujeito e não uma substância. Assim: “a missão da filosofia hegeliana é, então, dotar a realidade de uma forma adequada ao saber absoluto, isto é, elevar o presente à consciência verdadeira de si mesmo” (SILVEIRA, 2016, p. 2).

A razão aqui – diz Madjarof (2009) não é só um modo de pensar as coisas, mas o próprio modo de ser as coisas. Em outras palavras, Silveira (2016) propõe: a Filosofia Hegiliana consistirá na apreensão adequada ou verdadeira da realidade. O que ela estará lutando para construir será sempre a forma adequada para o saber (absoluto), uma vez que a realidade já está dada. Por está razão, Madjarof (2009) considera que Hegel concebe a realidade como um vir-a-ser. E neste processo, a finalidade da consciência – denominada pelo mesmo como “espírito absoluto” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013) – é apreendida como um futuro estágio que não é propriedade dos indivíduos, mas sim da realidade como um todo.

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Dessa maneira, entre os princípios gerais desta filosofia, a noção de que “toda realidade é espírito, de tal maneira que todo espírito é sujeito ao desenvolvimento histórico” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013), alcança uma expressão dialética, pois para o mesmo à natureza da consciência é algo dinâmico, ou seja, que contem em determinado sentido peculiar; certa direção e finalidade, contrapondo-se então a ideia de circunstancialidade. Nesse sentido, a filosofia de Hegel é considerada como a filosofia da imanência absoluta. “Essa ideia extraordinária – de que a natureza da consciência tem mudado através do tempo e de acordo com um padrão visível na história – significa que não há nada sobre os seres humanos que não seja de caráter histórico” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013).

Partindo desta premissa, Madjarof (2009) ressalva que: é preciso compreender que o vir-a-ser não é senão a história do espírito universal que se desenvolve e se realiza por meio de contínuos estágios para alcançar, no final, a plena posse e a plena consciência de si mesmo. E como consequência: “esse progresso do espírito continua e se concluirá através da história dos homens” (MADJAROF, 2009).O Espírito humano é de início uma consciência confusa, um espírito puramente subjetivo, é a sensação imediata. Depois, ele consegue encarnar-se, objetivar-se sob a forma de civilizações, de instituições organizadas. Tal é o espírito objetivo que se realiza naquilo que Hegel chama de “o mundo da cultura” (MADJAROF, 2009).

Voltando a Madjarof (2009) é possível compreender, que, nessa filosofia puramente imanentista, Deus só se realiza na história, ou seja, a forma de civilização que triunfa a cada etapa da história é aquela que, naquele momento, melhor exprime o Espírito. Dessa maneira, oposto à visão de mundo transcendente – tal qual preconiza o Platonismo – Hegel parte da ideia de que a finalidade do espírito não consiste apenas em perceber a realidade, mas sim: “Ele existe para estar ciente de si mesmo” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013).

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Dessa maneira, Hegel parte fundamentalmente, da síntese a priori de Kant, em que o espírito é constituído substancialmente como sendo o construtor da realidade e toda a sua atividade é reduzida ao âmbito da experiência, porquanto é da íntima natureza da síntese a priori  não poder, de modo nenhum, transcender a experiência, de sorte que Hegel se achava fatalmente impelido a um monismo imanentista (MADJAROF, 2009). Assim, teria se que encontrar na realidade única da experiência as características divinas do antigo Deus transcendente, destruído por Kant, visto que: “a interioridade não se perde na exterioridade sem que possa aí também se encontrar” (NOVELLI, 2008). Podemos verificar este entendimento, em seus escritos: “A verdade é o todo. Mas o todo é somente a essência que se implementa por meio do seu desenvolvimento” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013).

Podemos, portanto, considerar Hegel como o filósofo idealista por excelência, uma vez que, para ele, o fundo do Ser (longe de ser uma coisa em si inacessível) é, em definitivo, Idéia, Espírito. […] Sua filosofia representa, ao mesmo tempo, com relação à crítica Kantiana do conhecimento, um retorno à ontologia. É o ser em sua totalidade que é significativo e cada acontecimento particular no mundo só tem sentido finalmente em função do Absoluto do qual não é mais do que um aspecto ou um momento (MADJAROF, 2009).

Destarte, este é um aspecto significativo, pois ao passo que concebe a realidade como espírito que sofre um processo de desenvolvimento histórico, Hegel se distingue da noção Kantiana de “mundo em si”, considerada pelo mesmo, como: “uma abstração vazia sem significado” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013). Ademais, a natureza para Hegel também é apreciada como espírito, uma vez que “a natureza tem de ser considerada um sistema de estágios, um surgindo necessariamente a partir do outro (…)” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013). Sendo um dos estágios, a passagem do que é vida para “existência como espírito”, e posteriormente, neste continuo e dinâmico “fluxo”, a dialética se modifica para a consciência de si próprio perante outros indivíduos e depois para consciência de grupos; “e assim continua a dialética, aperfeiçoando-se até alcançar o estágio de espírito absoluto” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013).

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Não obstante, verifica-se que Hegel faz duras críticas as visões de Kant, no que concerne o funcionamento dos processos básicos, pois o mesmo afirmava que o funcionamento e as estruturas básicas da consciência nascem antes da experiência. Para ele tais categorias não se derivam uma da outra, já que são na verdade as estruturas do pensamento, sendo por esta razão: imutáveis. Contrário ao pensamento de Hegel, Kant também acreditava que apesar de notarmos o mundo de determinada maneira, poderia existir outras formas que seriam diferentes.

Porém, o mundo como realmente é não se consegue ver, e sim apenas o que é decifrado através da experiência particular de cada indivíduo por meio do que ele titulava de estrutura das categorias. Seguindo estas suposições Kantianas, Hegel, apesar de reconhecer as notórias contribuições Kantianas no campo da filosofia – na busca de um sentido mais “realista” – achava estas proposições insuficientes, pois para ele tais ideologias ainda estavam pouco vazias de sentido, num plano mais abstrato. E para Hegel, essas categorias também poderiam sim estar sujeitas a mudanças tanto quanto o mundo em que estamos inseridos.

Apesar da aproximação com outros pensamentos e em especial com o de Kant, é nítida a contrariedade e originalidade das ideias de Hegel, ao tentar decifrar e analisar a subjetividade humana, enquanto algo em movimento, que vai da alma ao espírito nas suas diversas formas. Por meio desta Filosofia – que concebe a realidade como processo histórico – percebe-se que Hegel nutriu e ampliou um modelo de Filosofia, ao concebê-la como uma “passagem” dialética.

De um caráter um tanto “sistemático” nota-se a consistência de uma visão oposta às visões dicotômicas, embora seu desenvolvimento reúna eixos construtivos do homem em sua peculiaridade. E assim, ao superar estas dicotomias e ater-se a essência deste “Espírito”, que segue em constante movimento – transformando e sendo transformado – nos deparamos com uma importante e interessante visão acerca da constituição dos homens.

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Hegel acreditava que: “[…] o que existe é o que vem a ser manifestado na consciência” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013). E o cerne de sua lógica era: “toda noção ou “tese”, contém dentro de si uma contradição, ou “antítese”, que só é solucionada pelo surgimento de uma noção mais nova e mais rica, chamada “síntese”, a partir da própria noção original” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2013), gerando assim um efeito espiral, que a partir de um “resultado final” torna-se possível recomeçar um novo ciclo onde esse resultado se torna o problema a ser solucionado. Dessa maneira, Hegel apresentou novos contornos para a Filosofia. Um caminho sem “amarras”, mas que se encontra continuamente sujeito a mediação do ser prático.

REFERÊNCIAS:

BURNHAM, Douglas; BUCKINGHAM, Will. O livro da Filosofia. Rio de Janeiro: Globo Editora, 2013. 352 p.

MADJAROF, Rosana. O Idealismo Lógico: Hegel. 2009. Disponível em: <http://www.mundodosfilosofos.com.br/hegel.htm>. Acesso em: 02 set. 2016.

NOVELLI, Pedro Aparecido. A crítica de Hegel ao conceito de lei em Kant. 2008. Revista Eletrônica Estudos Hegelianos. Disponível em: <http://www.hegelbrasil.org/reh9/novelli.pdf>. Acesso em: 03 set. 2016.

SILVEIRA, Ronie. A Filosofia de Hegel. Disponível em: <https://ghiraldelli.files.wordpress.com/2008/07/silveira_hegel.pdf>. Acesso em: 02 set. 2016.