O Diabo Veste Prada: liderança e motivação

O filme O Diabo Veste Prada, de 2006, foi baseado no livro de Lauren Wesberg, e pode ser observado sob várias perspectivas, e aqui será sob o ponto de vista da Psicologia Organizacional, com ênfase na liderança e no aspecto motivacional.

Neste filme, a personagem Andrea (Anne Hathaway) é uma jovem jornalista recém formada, idealista e talentosa, e começa a distribuir seu currículo em diversas editoras e jornais, é chamada a uma entrevista na Runnaway Magazine, uma das principais revistas de Nova Iorque. Muito embora não seja seu foco inicial, vê o desafio como adequado ao seu currículo como jornalista.

Verifica que a vaga seria como uma das assistentes da editora chefe de Miranda Priestly (Meryl Streep), que na trama, submete e humilha suas funcionárias, se mostra autoritária e perfeccionista e está sempre exigindo mais de seus subordinados.

Fonte: encurtador.com.br/xAENW

O papel da liderança dentro de uma organização é explicitado por Gutierrez, et al. (2017), como “uma interação social e uma habilidade de influenciar as pessoas e envolvê-las nas decisões a serem tomadas na organização, à luz de suas crenças, valores e significados compartilhados, proferindo as ações em equipe para alcançar os efeitos esperados pela corporação (p. 11).”

Silva e Mourão (2015), nos faz pensar que o líder influencia o grupo social onde está inserido, implementando sua aura na organização, onde nem sempre será o administrador, mas pelas suas próprias características é visto como tal.

Silva, et al (2015) nos apresenta os tipos de liderança:

liderança diretiva, liderança de apoio, liderança orientada para realizações e liderança participativa. Liderança diretiva envolve dizer de forma clara quais são as tarefas a serem executadas pelos subordinados, e que resultados são esperados; a liderança de apoio direciona o líder a satisfazer às necessidades e preferências de seus subordinados visando promover um clima de trabalho agradável; já a liderança orientada pelas realizações incentiva a excelência do desempenho no trabalho dos subordinados através de metas e desafios para que o grupo consiga atingir um alto desempenho e, por último, a liderança participativa que permite funcionários colaborarem nas tomadas de decisões e definições que envolvem o processo operativo de trabalho (p. 2 ).

Miranda Prisley se caracteriza como uma pessoa irascível,  acostumada a ter suas ordens atendidas sem nenhuma contestação, e decide fazer ela mesma a entrevista com Andrea, e mesmo apresentando um desdém inicial, vê nela algum potencial transformador, pois ao ser dispensada ao final da entrevista, a candidata demonstra uma característica determinada, o que a editora chefe não está acostumada a ver em seu ambiente de trabalho. Andrea fica surpreendida ao ser chamada e saber que fora contratada.

  No primeiro dia de trabalho Andrea presencia uma cena que lhe parece estranha, pois ao sinal de que Miranda chega ao prédio, ocorre uma verdadeira transformação em todo o escritório da revista, com mudança substancial de atitude das pessoas que ali trabalham, demonstrando desde logo a personalidade autoritária da editora chefe.

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Andrea terá como cargo ser a assistente número dois, e observa inicialmente o comportamento de cada um dos colegas de trabalho, demonstra dentro da organização uma motivação para permanecer ali. Sobre isto Freitas e Rodrigues (2009), enfatiza:

Podemos dizer que a motivação é uma força e energia que nos impulsiona na direção de alguma coisa, de forma intrínseca, ou seja, que está dentro de nós, nasce de nossas necessidades interiores, que se refere ao processo de desenvolver uma atividade pelo prazer que ela mesma proporciona, isto é, desenvolver uma atividade pela recompensa inerente a essa mesma atividade. Essa forma de considerar o comportamento motivacional implica o reconhecimento de que ele representa a fonte mais importante da autonomia pessoal, à medida que as pessoas podem, de certa forma, escolher que tipo de ação empreender com base em suas próprias fontes internas de necessidades e não simplesmente responder aos controles impostos pelo meio exterior ( p. 4 ).

Neste contexto, os autores parecem delinear alguns dos principais assessores de Miranda, dentre eles Emily assistente 1, que para manter seu trabalho e foco na atividade trás sempre um mantra “ eu amo o meu trabalho”, isto pelo fato de que lhe era o seu desejo estar dentre os principais estilistas de moda, chegando inclusive a prejudicar a sua saúde para que estivesse com uma silhueta perfeita para vestir os trajes que eram disponibilizados a elas, assim como comparecer a festas e ser reconhecida, muito embora a chefe nem sempre a via como tal. É possível perceber no decorrer da trama como a personagem Emily idolatra Miranda, mas esta passa a ter sempre sob foco Andrea.

Andrea que é conhecida por Andy, por seus amigos, aos poucos consegue entender como Miranda age de forma autoritária. Descobre que ela é uma pessoa fragilizada pelos relacionamentos pessoais e pelo modo de que lida com as filhas, Miranda tem relação de descartabilidade com os funcionários. Para Freitas e Rodrigues (2009) a ligação com o que o indivíduo tem com o seu trabalho ou seu futuro tem uma certa fusão, e que pode fazer com que se esforce mais ou menos a conseguir o que deseja, mesmo que isso possa se modificar.

Fonte: encurtador.com.br/lKVY1

Outro trecho do filme que chama atenção é um diálogo entre Andrea e Nigel,  o colega verbaliza: “me avisa quando sua vida for para o espaço, significa q você vai ser promovida” – logo, é percebido aqui que eles entendem que o trabalho é tão importante que toma o lugar da vida pessoal, ou seja, condicionados a entender que sua vida profissional tem prioridade sob a vida pessoal. Essa é uma característica da empresa em questão e de como os funcionários são levados a se comportar.

Freitas e Rodrigues (2009) anota que os indivíduos trazem para dentro da organização, suas próprias aspirações e com o passar do tempo, essa energia motivacional pode mudar, podendo inclusive surpreender o líder. Foi isso que levou Andrea a entender que todo o processo que teve na Runaway Magazine, chegara ao fim e que seus objetivos iniciais, ser uma jornalista famosa, deveria iniciar, o que surpreendeu Miranda, e fez seu respeito por ela crescer, pois ela fez uma escolha, demonstrando uma força que não tivera no passado e que a fez se tornara uma profissional da moda.

É preciso pontuar todo o percurso vivenciado por Andrea, o seu desenvolvimento profissional, toda a adaptação que precisou realizar para garantir o seu emprego e ter o reconhecimento da chefia imediata, ela precisou sair da sua zona de conforto e se adequar as necessidades da empresa. Outros tantos temas podem ser discutidos em volta dos acontecimentos do filme O Diabo veste Prada, como clima e cultura organizacional, ambiente organizacional, competitividade, trabalho em equipe, saúde do trabalhador etc.

Entretanto, o foco aqui é destacar o estilo de liderança, que vem mudando ao longo dos anos. Cada vez mais se discute sobre a importância do desenvolvimento de líderes dentro das organizações, mas com características bem distintas de Miranda. Piza (2018) destaca o papel do líder como primordial, e que a função deste é de, com habilidade, criar um contexto para que os colaboradores consigam se motivar, tendo como ponto principal relações de confiança, alinhando o grupo para um mesmo objetivo.

FICHA TÉCNICA

Título Original: The Devil Wears Prada

Ano de produção: 2006

Direção: David Frankel

Gênero: comédia, drama, romance

País de origem: Estados Unidos da América

 

REFERÊNCIAS

FREITAS, N. G.; RODRIGUES, M. G. Uma Reflexão sobre liderança e motivação sobre o enfoque organizacional. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 6, 2009. Resende: SEGET, 2009. Disponível em https://www.researchgate.net/profile/Manoel_Rodrigues3/publication/289671715_UMA_REFLEXAO_SOBRE_LIDERANCA_E_MOTIVACAO_SOB_ENFOQUE_ORGANIZACIONAL/links/569119f108aecd716af17ecf/UMA-REFLEXAO-SOBRE-LIDERANCA-E-MOTIVACAO-SOB-ENFOQUE ORGANIZACIONAL.pdf Acesso em 14 julho 2020.

GUTIERREZ, Luciana Alves et al. A IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA NAS ORGANIZAÇÕES. REVISTA FAIPE, [S.l.], v.4, n.2, p.9-16, 2017. ISSN 2179-9660. Disponível: http://www.revistafaipe.com.br/index.php/RFAIPE/article/view/43> Acesso em: 15 julho 2020.

PIZA, Sergio. O NOVO PAPEL DO LIDER. GVEXECUTIVO, v. 17, n. 01, JAN/FEV. 2018.

SILVA, Paulo Henrique Franzão; FERIGATO, Guilherme Cassarotti; SANTOS, Andreia Mileski Zuliani e PEREIRA, José Aparecido A LIDERANÇA NA GESTÃO COM PESSOAS. Anais Eletrônico IX EPCC – Encontro Internacional de Produção Científica UniCesumar, Nov. 2015, n. 9, p. 4-8 ISBN 978-85-8084-996-7. Disponível em: http://rdu.unicesumar.edu.br//handle/123456789/2900. Acessado em 15 julho 2020.

SILVA, Neilda de Souza Oliveira da; MOURAO, Luciana. A influência dos estilos de liderança sobre os resultados de treinamento. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v.15, n. 01, p. 260-283, 2015. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180842812015000100015&lng=pt&nrm=iso. Acessos em 14 julho 2020.