O hábito como guia da vida

O texto “O hábito é o grande guia da vida humana” aborda alguns conceitos de David Hume (1711-1776) sobre o Empirismo. Hume afirma que nem tudo pode ser explicado pela razão e possui um olhar crítico sobre o racionalismo. Segundo ele existem dois tipos de raciocínios que são denominados como o “dilema de Hume”: o demonstrativo e o provável, onde o raciocínio demonstrativo é considerado evidente, por olharmos e termos a certeza do resultado, e o raciocínio provável exige uma evidência empírica, ou seja, uma busca por aquele resultado. Para Hume esses raciocínios são considerados hábitos construídos pelo homem ao longo da sua vida, como por exemplo, todos sabem que amanhã o sol irá nascer novamente, isso é consequência do condicionamento que nos faz acreditar que todos os dias serão iguais.

No livro “Sobre Comportamento e Cognição”, de Júlio C. de Rose fala sobre o comportamento humano com base no Behaviorismo de B.F. Skinner; o autor divide o comportamento em operante e respondente. O comportamento respondente pode ter respostas condicionadas, referentes a acontecimentos e experiências anteriores, por exemplo, ao sentir o cheiro do limão ou ouvir a palavra limão já causa uma salivação, resposta de estímulos antecedentes. Essa resposta se dá pelo fato do indivíduo já conhecer o limão e lembrar-se do seu gosto forte. Isso se assemelha a teoria de Hume sobre o raciocínio demonstrativo.

O comportamento operante se conceitua como ‘operador do ambiente’, onde não existem relações com estímulos anteriores. Segundo Skinner o comportamento altera o ambiente e a partir dessas alterações, causa a mudança no comportamento do indivíduo. Como dirigir, falar ou andar é preciso ter um aprendizado para que chegue até o resultado. Esse comportamento é semelhante ao raciocínio provável de David Hume.

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David Hume na sua teoria, ressaltada no texto “o hábito é o grande guia da vida humana”, na introdução vem tratar do dilema de Hume que argumentou energicamente contra a noção de “ideias inatas”, princípio central do racionalismo. Ele fez primeiramente ao dividir o conteúdo da mente em dois tipos de fenômenos e, depois, perguntando como eles se relacionam com o outro. O problema para Hume, é que muito frequentemente temos ideias que não podem ser sustentadas por nossas impressões. Há hábito mental que interpreta uniformidade na repetição regular, assim como uma conexão causal naquilo que ele chamou de “conjunção constante” de eventos.

William M. Baum em seu livro “Compreendendo o Behaviorismo” aponta no vocabulário técnico da análise do comportamento que a observação científica consiste na formação de discriminações. Uma das atividades mais básicas da ciência é a identificação. O astrônomo olha para a estrela e diz, – aquela é uma gigante vermelha. O biólogo olha para uma estrutura em um corpo celular e diz, – isso é uma mitocôndria.

Da mesma forma a mensuração consiste em dizer ou escrever algo (comportamento operante), e como resultado de olhar algum instrumento (estímulo discriminativo). Essas discriminações compartilham um aspecto peculiar: o cientista não apenas faz descriminações baseadas nas formas, na leitura do contador ou no padrão de números, mas também se comporta de forma a produzir o estímulo discriminativo. Os cientistas são particularmente gratificados pela formação de novas discriminações que são chamadas de descobertas.

Em sentido geral contingência pode significar qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos comportamentais (SOUZA D.G, 1995). Por exemplo, podemos ver o nascer do sol toda manhã e inferir que ele nascerá novamente amanhã. Mas a alegação de que a natureza segue esse padrão uniforme é justificável? Alegar que o sol nasce amanhã é um raciocínio demonstrativo (porque o oposto não envolve contradição lógica) nem um raciocínio provável, porque não podemos experimentar já o futuro nascer do sol. Uma relação de dependência não existe quando alguém abre a janela e um relâmpago corta o espaço. Os dois eventos podem ocorrer temporalmente próximos, mas de modos totalmente independentes: o relâmpago teria ocorrido quer abrisse ou não a janela (SOUZA D.G, 1995).

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Hume explicou isso simplesmente como “natureza humana”, um hábito mental que interpreta uniformidade na repetição regular, assim como uma conexão casual naquilo que ele chamou de “conjunção constante” de eventos. Na realidade esse tipo de raciocínio indutivo, que é à base da ciência, nos instiga a interpretar nossas inferências como “lei” da natureza. Mas apesar do que possamos pensar essa prática não pode ser justificado pelo argumento racional.

Uma formulação adequada da interação entre um organismo e seu ambiente deve-se especificar três coisas: (1) a ocasião em que a resposta ocorre; (2) a própria resposta e (3) a consequência os reforçadores. As inter-relações entre elas são as contingências de reforço. (SKINNER, 1953, p.5 apud SOUZA D.G, 1995).

Todorav (2007) no seu artigo “A psicologia como estudo das interações”, vem trazer a interação entre o organismo e o ambiente como possível caracterização do objeto de estudo da psicologia, tendo o ser humano como centro de investigações, a partir dos aspectos da análise do comportamento.

O homem é um ser em ação que interfere e é influenciado pelo contexto que faz parte. Essa dinâmica molda o comportamento do sujeito de acordo com as experiências vividas e adquiridas ao decorrer da sua história pessoal com o mundo. Neste sentido, na teoria de David Hume, em relação à interação do sujeito com o meio, é explicito quando ele questiona que nem tudo pode ser explicado pela racionalização, pois existem ações que não podem ser justificadas de forma lógica, mas se sabem que acontecem chamado essas inferências de hábitos/crenças que vão sendo construídos ao logo da história.

De acordo com Todorav (2007, p.57), “em todas as orientações da psicologia, a história passada de interações organismos-ambiente tem um papel essencial na explicação de interações presentes… presume-se que o organismo age agora não apenas em função de ambientes externos presentes”, ou seja, o ser humano é persuadido por evidências passadas que interferem no seu comportamento atual. Sendo que para compreender o seu comportamento, é importante considerar a constituição do organismo pela interação entre o ambiente externo (físico e social) e o ambiente interno (biológico e histórico).

Antes mesmo da existência da análise do comportamento e questões voltadas para as interações organismo-ambiente, Hume com a sua filosofia já ressaltava que o homem tem a capacidade de observar padrões constantes e inferir que estes acontecimentos ocorreram novamente no futuro. Este raciocínio indutivo estar relacionado com a competência do homem de coligir ações a partir de proeminências do passado.

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Nesse seguimento, Hume com seu dilema a respeito da racionalização, adverte que muitas coisas não podem ser explicadas pelo raciocínio demonstrativo – onde a verdade e a falsidade são auto-evidentes – e nem pelo raciocínio prováveis – evidências empíricas -, assim na ausência destas explicações racional, o hábito, a causa e efeito são respostas, que vão sendo condicionadas no decorrer da vida e que mostra que amanhã certas coisas serão simplesmente as mesmas, como o nascer do sol. Por isso Hume afirma que “o habito é o grande guia da vida”.

Após a leitura dos textos pode-se inferir que o comportamento humano pode ser explicado de diversas maneiras, tendo em vista que Hume traz de forma considerável os conceitos de dois tipos de raciocínios que são o raciocínio demonstrativo que é considerado evidente, por olharmos e termos a certeza do resultado, e o raciocínio provável que exige uma evidência empírica, ou seja, uma busca por aquele resultado.

Em seguida Skinner traz em sua Teoria a interação entre o organismo e o ambiente, ou seja, que através de estímulos externos o comportamento é representado.  O sujeito é moldado pelo contexto em que está inserida, sua história de vida e sua relação com o mundo. Todorav (2007) traz uma rica contribuição explicando que o ser humano é persuadido por evidências passadas que interferem no seu comportamento atual. Pois para compreender o comportamento do sujeito, é importante considerar a constituição do organismo pela interação entre o ambiente externo (físico e social) e o ambiente interno (biológico e histórico).

 

REFERÊNCIAS:

BANACO, R. A. (Org.). O que e comportamento?. Sobre comportamento e cognição. v.1. p. 79-81, 1995. São Paulo: Arbytes.

BAUM, W. M (1999). Compreender o Behaviorismo. Porto Alegre. Art Med, p. 125-153.

TODOROV, João Cláudio. A psicologia como estudo de interações. Psicologia: Teoria e pesquisa, Brasília, v. 23. p. 57. 61, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v23nspe/10.pdf>. Acesso em: 06 set 2016.