“…O brejo cruza a poeira
De fato existe um tom mais leve
Na palidez desse pessoal
Pares de olhos tão profundos
Que amargam as pessoas que fitar
Mas que bebem sua vida
Sua alma na altura que mandar
São os olhos, são as asas
Cabelos de avôhai…´´
Fazer um texto sobre a vida de José Ramalho Neto e não falar de suas origens seria uma afronta a ele, uma vez que se orgulha tanto da mesma. Nascido em 1949 em Brejo da Cruz – Paraíba, ainda antes de completar dois anos perdeu o pai que morreu afogado ao tentar atravessar um açude, por conta desta tragédia foi como o próprio gosta de relatar “tomado´´ para criar pelo avô que tinha mais condições para cuidar do então bebê Zé Ramalho.
Quando tinha entre 13 e 14 anos morando em João Pessoa sofreu uma grande influência da velha guarda e assim formou o primeiro grupo de que fez parte e tocando apenas 3 acordes já se divertia tocando seu violão. Quando com este grupo subiu ao palco para tocar o seu primeiro baile se apaixonou perdidamente e não restava dúvidas de que aquilo era o que queria para a vida. Assim seguiu tocando pelo Nordeste e nas idas e vindas da vida ao ir visitar uma namorada em recife, conheceu o namorado de sua então cunhada que viria a ser no futuro um de seus grandes parceiros na música Alceu Valença.
Já com um tempo lutando com a música e sem conseguir alcançar algum sucesso, Zé Ramalho deixou seu sonho de lado por um tempo e tentou investir nos estudos, outra coisa que também sempre lhe agradou, assim ingressou em um curso de medicina, porém como o mesmo relata em algumas entrevistas, as aulas passaram a ser entediantes e nada mais era absorvido por ele. Essa é uma passagem de sua vida muito importante, pois esse período para ele entediante o impulsionou a seguir a música, fazendo-o tomar coragem e avisar a sua família que iria largar a medicina e se aventurar ou em São Paulo ou no Rio de Janeiro.
Assim em 1976 saí do Recife com Alceu e o empresário dos dois em um fusca e com a bagagem acima do carro rumo ao Rio, onde Alceu tinha um show marcado e Zé faria parte da banda do mesmo. Desta forma inicia-se a grande luta de Zé Ramalho para chegar ao sucesso, após o show ele já não tinha estadia e passou uma época dura tendo que dormir em bancos de praças e nas areias das praias, muitas vezes sem conseguir um lugar para manter a higiene e até mesmo se alimentar. Isso dificultou muito a tentativa de Zé de conseguir shows. A situação ficou tão difícil que para conseguir dinheiro para comer, por um período aproximado de 1 ano Zé chegou a se prostituir, experiência horrível que depois viraria espiração para o sucesso “garoto de aluguel´´.
“Baby !
Dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você
Minha profissão é suja e vulgar
Quero pagamento para me deitar
Junto com você estrangular meu riso
Dê-me seu amor que dele não preciso..´´
Garoto de aluguel
Para descrever essa difícil parte da vida, em diversas entrevistas é utilizado um trecho de Belchior “ apenas um rapaz, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior´´. Apesar de todas as adversidades encontradas, com os contatos que ainda lhe restavam na música, depois de dois anos de batalhas no Rio teve a oportunidade de mostrar uma música para uma gravadora. Como grande parte das coisas boas que chegam a sua vida vieram de seu avô a canção que foi apresentada e que garantiu seu primeiro contrato tinha que ser avohai, que é a junção de avô e pai, musica essa que segundo zé tem uma inspiração extraterrena, uma conexão que é sentida por ele e por quem escuta a letra.
Logo começaram a vir os sucessos, como a já citada garoto de aluguel, admirável gado novo e Frevo mulher, essa ultima que segundo Caetano Veloso delineou um segmento distinto dentro do carnaval baiano. Assim o nordestino de brejo da cruz conquistou o Brasil. Uma agenda lotada de shows por todo o pais gerou muito desgaste e após um bom tempo com a rotina de um ídolo foi levado para um período que ele descreve como sinistro, se envolvendo com drogas, se isolou, mudou o seu comportamento e mesmo ainda fazendo shows as gravadoras já não se interessavam pelo antes fenômeno Zé Ramalho.
“…O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar´´
“Admirável gado novo´´
Em 1989 demonstrando a resiliência dos nordestinos, Zé notou que se não mudasse iria perder tudo para o que tanto tinha trabalhado. Se recompôs somente com o que ele chama de sua força de vontade e assim parou de usar a cocaína. Em 1991 já limpo recebeu o convite para gravar a trilha sonora da novela pedra sobre pedra e assim veio a música entre a serpente e a estrela que o reergueu ao sucesso. A partir desse ponto, Zé Ramalho se consagrou como um dos maiores músicos da MPB sendo colocado pela revista Rolling Stone em 2008 como o 41° na lista de 100 maiores artistas da música Brasileira.
Algo que diferencia até hoje o já consagrado artista é a entrega que o mesmo tem em palco, muito crente em energias pessoais Zé diz que procura sugar e doar energia para suas plateias no que ele define como uma transa espiritual. E nesse quesito eu o autor do texto posso dar meu relato, pois em 2011 com apenas 14 anos pude presenciar esse monstro da música brasileira e de fato a melhor definição para a experiência seria o gozo energético.
´´…Ele é profeta brincalhão da Paraíba
Sobe abaixo desce “arriba”
Não tem lógica pra dar
E misturando frevo com mitologia
Canta sem economia
Tem fartura no prosar…
…Ele é discípulo de mestre Zé Limeira
E olha que não é brincadeira
Se aprender a improvisar
E Zé mistura o absurdo e a gemedeira
O avohai com a fumaceira
E o oriente e o Ceará…´´
Oswaldo Montenegro – Ramalheando
Referência:
www.youtube.com/watch?v=la_CrKylBrU
www.youtube.com/watch?v=WjKmgDTOpmg