Redes sociais, haters e o aumento de suicídios

“A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro.” Herbert Spencer

A internet potencializou a propagação de informação. Vivemos em um mundo inundado por notícias, de diferentes opiniões.  A LEI No 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967 fala sobre Liberdade de Manifestação do Pensamento e da Informação, mas será que as pessoas sabem a diferença entre liberdade e libertinagem?

A liberdade é o direito de ir e vir, partindo do princípio de não prejudicar ninguém. Já a libertinagem é agir sem se preocupar com os demais, ou seja, é um agir irresponsável, com ausência de regras e é isto que vem acontecendo com muitos internautas, agem como se a internet fosse uma “terra sem lei”.

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O sujeito que vive atacando nas redes recebe o nome de haters, termo atribuído à pessoas que fazem uso da internet com intuito de fazer críticas, desde as mais leves, até as mais severas. Tal prática  tem acarretado consequências severas, como o suicídio. O caso mais recente foi o de Alinne Araújo, estudante e influenciadora digital, que cometeu suicídio na última segunda-feira (15). A estudante tinha um casamento marcado para o último domingo (14), no entanto seu noivo mandou uma mensagem um dia antes cancelando tudo. Como tudo já estava pago, assim como a chegada de familiares, a jovem decidiu casar consigo mesma, o que acarretou um bombardeio de críticas em sua rede social.

Alinne sofria de ansiedade e depressão, tinha um histórico de tentativas de autoextermínio, tinha acompanhamento psiquiátrico e psicológico, e administrava a conta @sejjesincera, em que relatava a luta diária de como é conviver com a depressão. Através da internet, a influencer conseguiu construir uma rede de apoio, mas depois do ocorrido, não foi apoio que recebeu, e sim críticas.

O que corria nas redes era que Alinne havia planejado tudo para ganhar mídia. Cansada de tudo, uma das últimas manifestações da estudante foi: “É a última vez que me pronuncio sobre acharem que eu quero me promover em um dos piores momentos da minha vida”. Pouco tempo depois, amigas de Alinne confirmaram seu falecimento. Depois do ocorrido, haters foram em busca de quem matou Alinne, e passaram a julgar a família e o noivo.

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Em reportagem, durante Encontro com Fátima Bernardes, a mãe da estudante declarou que ficou o tempo todo ao lado da filha, e em um único minuto que acabou cochilando, devido o cansaço, a filha cometeu o ato. O noivo de Alinne, depois de ser muito criticado fez uma declaração em sua conta do Instagram: “Eu estou tentando escrever, assim que eu tiver forças, eu explico melhor, só posso adiantar que eu não existo mais, estou acabado”. E pouco tempo depois desativou sua conta.

Nos últimos dias este tem sido o assunto mais comentado e “julgado” pelos internautas. Seria este um momento de reflexão sobre o nosso comportamentos nas redes ou seria o momento de vestirmos a capa de juiz e sair a qualquer custo procurando culpados? Muitos haters não fazem ideia do impacto de um ´´simples comentário“, mas podem ser propagadores de gatilhos destrutivos, ou, as redes sociais podem ser potencializadoras de perversão, e do outro lado da telinha pode ter alguém que sinta prazer em ferir e se justifica a partir da ´´liberdade de expressão“.

Quem é você na rede?

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De acordo com uma reportagem da revista Galileu, “a taxa de suicídio no país cresce cada vez mais. O suicídio de jovens com idade entre 10 e 14 anos aumentou 40%, já com idade entre 15 e 19 anos, o aumento foi de 33% (Mapa da Violência 2014)”. Foi apontado ainda que o suicídio é a principal causa de morte entre jovens em um terço dos países.

Qual será o causa do crescimento, supracitado, do suicídio? Isto eu não sei te responder, mas enquanto acadêmica de Psicologia, eu sei o poder das palavras, elas libertam, mas também aprisionam. Para matar alguém não precisamos de fato pegar uma faca e apunhalar alguém, pois nossas palavras são verdadeiros amoladores de faca. Logo, se faz importante pensarmos antes abrir a boca ou digitar algo para alguém. Neste momento triste, que possamos amar mais e julgar menos.

O Centro de Valorização da Vida (CVV), é uma instituição que oferece apoio emocional, objetivando prevenir o suicídio. Se precisar de ajuda, ligue para o número 188 ou acesse o site do CVV:  https://www.cvv.org.br/

Referências:

Rapidez das redes sociais pode levar a julgamentos imediatos e precipitados. Acessado em < https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2014/09/Rapidez-das-redes-sociais-pode-/levar-a-julgamentos-imediatos-e-precipitados-4592021.html >no dia 17/07/19.

Por Metro Jornal. Carioca sofre ataques por ´casamento consigo mesma` e comete suicídio; ex noivo se pronuncia. Acessado em < https://www.metrojornal.com.br/entretenimento/2019/07/16/carioca-sofre-ataques-por-casamento-consigo-mesma-e-comete-suicidio-ex-noivo-se-pronuncia.html > no dia 17/07/19.

LEI No 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967. Acessado em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5250.htm > no dia 17/07/19.

Programa de 17/07/2019. Fátima conversa com a mãe e a tia da blogueira Alline Araújo, que sofria de depressão e ansiedade e cometeu suicídio nesta segunda-feira. Acessado em <

https://globoplay.globo.com/encontro-com-fatima-bernardes/p/5885/ > no dia 17/07/19.

 

Psicóloga egressa do Ceulp/Ulbra. Pós-graduanda em Terapia de casal: abordagem psicanalítica (Unyleya). Colaboradora do Portal (En)cena.