Ao final de 2016, ocorreu no Ceulp/Ulbra a Roda de Conversa: Promoção de Saúde na Perspectiva da Redução de Danos, promovida pelo (En)Cena em parceria com alunos da disciplina de Psicologia da Saúde. O convidado foi o Psicólogo Bruno Logan Azevedo, que possui Pós-graduação em Psicopatologia e Dependência Química, e atuou como redutor de danos no Centro de Convivência É de Lei e no projeto Respire Redução de Danos.
Por meio da conversa, os participantes puderam ter contato com informações diferentes das transmitidas pelas mídias, por vezes tendenciosas e carregadas de preconceito. Expondo sua visão antiproibicionista quanto ao uso de drogas, Bruno compartilhou suas experiências atuando com Redução de Danos de maneira honesta e realista, promovendo discussão e reflexão sobre questões como políticas públicas, leis e aspectos sociais que permeiam o tema.
A abordagem de Redução de Danos busca minimizar condições relacionadas ao uso de psicoativos que sejam degradantes aos âmbitos social e de saúde física e psicológica no indivíduo. Segundo Xavier (2014), “Redução de Danos é o conjunto de estratégias que se ensina aos usuários de droga, para minimizar os riscos relacionados ao consumo dessas substâncias”. Para Bruno é necessário, a priori, que o individuo deseje por opção própria traçar as medidas redutivas, para que posteriormente estratégias sejam criadas em conjunto, de modo que faça sentido ao usuário, buscando reduzir situações de risco.
Entre os fatores de exclusão e vulnerabilidade social que corroboram para o uso de drogas, estão: Políticas públicas ineficazes, rompimento de laços sociais, exclusão do mercado formal de trabalho, problemas com a lei, estigmatização dos usuários e manifestações midiáticas. Na opinião de Bruno, é fundamental que o significado do consumo, o contexto e o tipo de substância sejam relevados e analisados para que se pensem políticas públicas, uma vez que se percebe a associação dessas políticas não aos riscos provocados pelas drogas, mas ao público que as consome, transformando a “guerra às drogas” em uma guerra contra pessoas.
Deve-se pensar também que o consumo de psicoativos é indissociável ao estilo de vida do usuário, podendo a droga agir como um atenuante para problemas em outros âmbitos na vida do indivíduo, como nas relações sociais. Segundo Jacques (1998), é do contexto histórico e social em que o homem vive que decorrem as possibilidades e impossibilidades e, portanto, as alternativas de sua identidade, que por sua vez é composta de múltiplos personagens ocupando papéis sociais, representando assim a identidade coletiva associada a eles, construída e mediada socialmente. Dessa maneira compreende-se a identidade pessoal e social como fundidas e inseparáveis.
A proibição de determinados psicoativos em detrimento de outros que são legalizados, se apresenta de maneira contraditória uma vez que na intenção de diminuição do consumo, as leis proibitivas acabam direcionando usuários a outras situações de risco, como aproximação do tráfico, compartilhamento de insumos contaminantes, acesso drogas de baixa qualidade, entre outros muitos fatores. Desse modo, a proibição apresenta uma eficácia questionável quanto à inibição do uso, agindo como catalisador para outras maneiras de consumo, e juntamente com a mídia direcionado o consumo para outras drogas legalizadas.
As manifestações midiáticas não só conduzem o indivíduo a opções de drogas representadas como “positivas”, como também contribuem para o retrato dos usuários de maneira estigmatizada, propiciando a formação de estereótipos. De acordo com Myers (2014), o preconceito é uma atitude negativa preconcebida, envolvendo afetos, intenção comportamental e crenças, constantemente permeada pelo uso de estereótipos, que são pré-categorizações negativas, generalistas e simplistas resistentes a novas informações.
A discussão de temas como o da referida Roda de Conversa é fundamental não só para a Psicologia, mas também para o fomento de um senso crítico na população em geral, uma vez que o consumo de drogas é algo cada vez mais comum na atualidade. A política de Redução de Danos promove a ampliação do debate e das perspectivas sobre a temática do uso de drogas, buscando a mudança de políticas públicas, leis e condições sociais, aspectos que devem ser constantemente questionados para a promoção de saúde mental.
REFERÊNCIAS:
JACQUES, M. G. C. Psicologia Social Contemporânea. 2. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
MYERS, D. G. Psicologia Social. 10. ed. Porto Alegre: Amgh Editora, 2014.
O QUE É Redução de Danos?. Centro de Convivência É de Lei. Dartiu Xavier (0:10s). São Paulo: 2014. Disponível em: < http://edelei.org/pag/reducao-danos>. Acesso em: 29 de nov. de 2016.