Steve Jobs: traços de sua personalidade segundo o modelo Big Five

O filme biográfico “Jobs”, lançado em 2013, é dirigido por Joshua Michael Stern e tem foco nos primeiros anos de Steve Jobs como um jovem que revolucionou o mercado de tecnologia. Toda a trama foi baseada em fatos reais, e retrata a vida do cofundador da Apple, abordando alguns momentos cruciais da carreira dele, mostrando seus pontos fracos e a audácia visionária deste homem que revolucionou o mundo. 

No filme, podemos observar os primórdios da empresa Apple sendo criada, desde sua fundação, na garagem do pai de Steve. Ele queria desenvolver algo único, uma ferramenta para o coração. Falou em um dado momento do filme que quando algo toca o coração ou as emoções das pessoas, não há limites para o que pode acontecer.

     

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Aparece ele na faculdade em 1974, perdido. Se enxergava sem talento, e via um diploma como perda de tempo. Para ele estava claro que ele não precisava deste tipo de validação ou esta busca por segurança. Em um momento o filme traz a questão do abandono, pois seus pais não eram os pais biológicos, e dá a entender que ali havia alguma raiz de sofrimento.

“Eu não tinha ideia do que queria fazer com minha vida e não sabia como a faculdade poderia me ajudar a descobrir isso”, declarou em 2005, durante um discurso de formatura na Universidade Stanford. “Então preferi sair e acreditar que tudo ficaria bem com o tempo… Foi assustador no começo, mas hoje vejo que foi uma das melhores decisões que já tomei.”

Ele foi incrivelmente visionário. Juntamente com os seus amigos, criaram o primeiro computador doméstico do mundo, e chamaram de computação pessoal. Saíram de um fundo de quintal para uma mega estrutura, e transformaram esta e outras mercadorias criadas por eles por algo muito desejado, com alto valor de status social, tornando sua visão revolucionária em realidade.

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Mas tudo isso teve um custo muito alto. No filme mostra como seus relacionamentos mudaram radicalmente, ele chegou a negar a paternidade e expulsar sua namorada de casa, pois não tinha tempo para isso sendo que a empresa estava deslanchando.

Uma definição trazida para ele pela revista Exame/Galileu: Genial, disléxico, perfeccionista, obsessivo e inflexível.

Durante o longa metragem, Jobs é retratado como alguém que enfrenta dificuldades para lidar, conviver e dialogar com as pessoas ao seu redor, incluindo seus colegas de trabalho e familiares. Ao mesmo tempo, são ressaltadas suas muitas habilidades e iniciativas para criar, identificar talentos, liderar e negociar dentro da sua empresa.

Uma análise feita por Bert Mc Brayer, da Universidade da Pensilvânia, dentro da estrutura da Teoria de Personalidade Big Five, conclui que a história provavelmente pintará Jobs como um inovador, mas provavelmente não o incluirá no panteão dos líderes do povo. 

O Big Five, que também é conhecido como Modelo dos Cinco Grandes Fatores, surgiu por meio dos estudos da Teoria dos Traços de Personalidade, desenvolvida em 1949 por D. W. Fiske (1949) e posteriormente ampliada por outros pesquisadores, incluindo Norman (1967), Smith (1967), Goldberg (1981), e McCrae & Costa (1987) no qual descreve as dimensões humanas básicas. 

 

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Os traços de personalidade Big Five são as medidas de personalidade cientificamente mais aceitos e mais comumente utilizados e têm sido extensivamente pesquisados. De acordo com Northouse (2015) os 5 fatores são: neuroticismo, extroversão, abertura para a experiência, conscienciosidade e agradabilidade.

Usando este modelo, especialmente quando aplicado à liderança, dá para perceber onde o estilo de liderança de Steve Jobs se encaixa nas várias dimensões da personalidade.

Neuroticismo

Northouse descreve o neuroticismo como, “A tendência de ficar deprimido, ansioso, inseguro, vulnerável e hostil ”(2015, p.27). O neuroticismo é o único dos cinco fatores que não é positivamente correlacionado com o sucesso da liderança. Embora a paixão de Jobs por seu trabalho às vezes resultasse em exibições de hostilidade para com seus funcionários, as suas análises bibliográficas trazem que ele dificilmente era inseguro em seu trabalho.

Histórias sobre os traços de personalidade nada agradáveis ​​de Jobs, incluindo acessos de raiva épicos e mau comportamento circulam há anos. No entanto, essas histórias normalmente giram em torno de uma tendência perfeccionista para o trabalho de Jobs, em vez de depressão ou insegurança.

De acordo com Toma & Marinescu, “Como um perfeccionista, ele nunca desistiu e sempre buscou seus sonhos ” (2013, p. 267). Jobs estava tão focado no sucesso dos produtos de suas empresas que ele pressionava muito seus funcionários (SHARMA & GRANT, 2011).

Extroversão

Indivíduos extrovertidos são aqueles que exibem fortes habilidades sociais, mantêm uma postura otimista e tendem a ser autoconfiantes em sua abordagem para o trabalho (NORTHOUSE, 2015). 

Extroversão é o fator que está mais positivamente associado ao surgimento e eficácia da liderança. Steve Jobs mostrou sua natureza extrovertida desde o início de sua vida profissional. Isto é exemplificado na história de Isaacson (2012) em uma matéria para a revista Harvard Business Review sobre o foco de Steve Jobs.

Quando Jobs voltou para a Apple em 1997, ela estava produzindo uma série aleatória de computadores e periféricos, incluindo uma dúzia de versões diferentes do Macintosh. Depois de observar algumas semanas de sessões de avaliação do produto, ele finalmente teve o suficiente. “Pare!” ele gritou. “Isso é loucura.” Ele pegou um pincel atômico, e desenhou em quadro branco duas linhas horizontais e duas verticais. “Aqui está o que precisamos”, declarou ele. No topo das colunas, ele escreveu “Consumidor” e “Pro.” Ele rotulou as duas linhas verticais de “Desktop” e “Portátil”. O trabalho deles, ele disse à sua equipe, deveria se concentrar em quatro grandes produtos, um para cada quadrante. Todos os outros produtos deveriam ser cancelados. 

Obviamente, Jobs tinha uma visão definitiva para simplificar e concentrar todos os recursos da empresa em quatro produtos em vez de dezenas. A maneira como ele poderia articular essa visão e persuadir outros que era a coisa certa a fazer, é um grande exemplo de extroversão na prática. Alguém pode ver como Jobs usou suas fortes habilidades de comunicação, juntamente com um excelente senso de planejamento, para traçar um plano detalhado para o sucesso da Apple.

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Abertura para a experiência

Um indivíduo que mantém a mente aberta para novas experiências tende a ser mais criativo e curioso no seu dia-a-dia de trabalho (JUDGE, et al, 2002; NORTHOUSE, 2015). De acordo com Judge, et al. (2002), “A abertura correlaciona-se com o pensamento divergente” (p. 768). Ao olhar para a carreira de Jobs, é difícil argumentar que ele não teve altos níveis de abertura. Na verdade, abertura a novas experiências e criatividade são marcas registradas do estilo de liderança de Jobs, bem como sua personalidade em geral (ISAACSON, 2012). Em nenhum lugar isso é mais evidente do que no início de sua vida adulta. Imediatamente após seu abandono da faculdade, Steve Jobs conseguiu um cargo na Computadores Atari. Depois de trabalhar lá por um tempo e economizar dinheiro, Jobs decidiu que queria fazer uma mochila pela Índia e mergulhar no estudo do Zen Budismo (TOMA & MARINESCU, 2013). Essa abertura para uma nova experiência – e imersão na Índia – levou Jobs a um dos lemas mais reconhecidos dos produtos Apple, que é manter as coisas simples. Ele se voltou para simplicidade e fugiu da complexidade, e dessa forma conquistou os consumidores que aprendem facilmente a manusear os produtos sem grandes dificuldades.

Conscienciosidade

Aqueles que têm um alto nível do traço de conscienciosidade têm uma gestão de fortes capacidades. Eles traçam um plano detalhado, trabalham muito no que fazem e são confiáveis ​​em suas obrigações. Além disso, de acordo com Judge et al., características como organização, confiança e iniciativa estão fortemente relacionadas à liderança (2002). Alto conscienciosidade está correlacionada ao um desempenho total no local de trabalho, e também está relacionada ao eficácia – ou ineficácia – do líder (JUDGE, et al., 2002).

Amabilidade

Se alguém é compassivo com os sentimentos dos outros, amigável e otimista, eles estão exibindo níveis mais elevados de agradabilidade. Este fator é particularmente útil para líderes, pois beneficia aqueles que trabalham em grupos e em equipes (JUDGE et al., 2012). De acordo com Toma & Marinescu (2013), Jobs “realmente sabia o que queria e conseguiu transformar seus sonhos na realidade” (p. 266). Ele conseguiu isso desafiando seus funcionários e fornecendo estímulo, além de exercer sua capacidade de encorajar seu pessoal a realizar tarefas que outros achavam que era impossível (TOMA & MARINESCU, 2013). No entanto, apesar deste aparentemente alto nível de força motivadora, Jobs era conhecido por nem sempre possuir um traço agradável. Tinha baixa empatia e polidez. Um dos descritores disso está na explicação de Isaacson de que a visão de mundo de Jobs era muito “binária” (STEINWART & ZIEGLER, 2014). “As pessoas eram‘ iluminadas ’ou ‘idiotas’. Seu trabalho era ser ‘o melhor’ ou ‘totalmente uma merda’ ”(STEINWART & ZIEGLER, 2014, p. 62). Bywater (2011) sugere que essa forma de pensar preto ou branco era equivalente a um “relacionamento abusivo” (parágrafo 12) com seus funcionários. “Homens adultos foram reduzidos às lágrimas por ele … Mas quando ele disse ‘Isso é realmente ótimo’, você se sentiu como um semideus” (BYWATER, 2011, para 11). Embora Jobs frequentemente pudesse motivar os seguidores a trabalharem duro, não era necessariamente de um ponto de vista agradável.

O que parece ter tornado Jobs único foi seu notável foco, combinados com a criatividade proporcionada por um intelecto acima da média e uma abertura ao novo extremamente alta. Steve era focado no produto e não nas pessoas e pode ter se retirado da “cicatriz” de sua rejeição quando criança para os infinitos detalhes do design do produto e do esforço artístico.

Foi um homem visto com muitas facetas controversas: perfeccionista em excesso, explosivo, zen, egoísta, aficionado por situações adversas, cheio de dons artísticos, que deixou um legado de uma verdadeira revolução, trago aqui algumas palavras ditas pelo personagem no filme que trazem reflexão sobre o modo de viver:

Quando crescemos dizem que o mundo é do jeito que é, que você só deve viver sua vida dentro do mundo e tentar não se debater demais contra as paredes. 

Mas essa vida é muito limitada.

A vida pode ser muito mais ampla depois que você descobre um simples fato: 

Tudo a sua volta, que você chama de vida, foi feito por pessoas não mais inteligentes que você. 

E você pode mudar isso. Pode influenciar. Pode construir suas próprias coisas, que outros podem usar. 

É algo para afastar essa noção errônea de que você só vai viver a vida em vez de abraçá-la.

Mude-a. melhore-a. deixe sua marca nela. 

E quando aprender isso… você nunca mais será o mesmo.”

Fonte: encurtador.com.br/drtCY

Referências:

GALILEU. Você tem que…mergulhar na personalidade complexa de Steve Jobs. In: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI275533-17935,00-VOCE+TEM+QUEMERGULHAR+NA+PERSONALIDADE+COMPLEXA+DE+STEVE+JOBS.html

SHARMA, A., & GRANT, D. (2011). Narrative, drama and charismatic leadership: The case of Apple’s Steve Jobs. Leadership, 7(1), 3-26. doi:10.1177/1742715010386777

TOMA, S., & MARINESCU, P. (2013). Steve Jobs and modern leadership. Manager, 17(1), 260-269.