No dia 18 de maio ocorreu no Parque Cesamar, em Palmas/TO a comemoração pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial. O evento contou com piquenique, rodas de conversa, sarau musical, testagem rápida e aconselhamento e estava na programação entre outros eventos que ocorreram durante o mês de maio em celebração a data. Essa programação foi elaborada por um coletivo de usuários, trabalhadores e gestores de Palmas.
Entre eles está Valdenir dos Santos Dias, que foi usuário do CAPS AD III por seis anos e hoje participa do serviço compartilhando sua experiência com os usuários, dando depoimentos e também orientação para eles acerca do serviço oferecido. O (En)Cena entrevistou Valdenir, que fala de sua experiência e sua mudança de vida.
(En)Cena: Por quanto tempo você usou o serviço e como ele te ajudou?
Valdenir: Usei o CAPS AD III durante seis anos e medicação, rodas, grupos de apoio. Hoje eu uso o CAPS para levar uma palavra e incentivar o pessoal de que existe sim a cura para cada um. Quando a gente fala em cura se torna para muitos dos profissionais da saúde, principalmente os médicos, algo muito pesado a gente falar cura da dependência química, mas eu falo cura porque hoje eu não estou em cima do muro, não tomo mais nenhum tipo de medicação. Eu tomava nove tipos de medicação pesada. Tinha muitas que eram piores que droga, porque eu tomava e não podia sair de tão dopado que eu ficava. Então hoje eu falo assim porque depois de vinte anos de dependência você passar um dia sem o uso da droga, um ano, você pode passar o resto da vida. Então isso para mim é cura. O CAPS me ajudou tendo as portas abertas. Os psicólogos, os médicos me deram uma injeção de esperança, de mudança de vida. E eu peguei aquilo. Se existe realmente um controle como eles falavam, fazer a redução de danos, algo que te ajude a voltar para a sociedade, porque uma pessoa que vivia nas drogas, passou por psiquiatria, era tratado como uma pessoa louca por muitos, para essa pessoa voltar ao seu convívio natural e família acreditar que houve uma mudança, é complicado. Então o CAPS realmente foi uma porta aberta, o incentivo que eles me deram é muito válido, muito rico e eu agradeço a todos. Estou aí para ajudar, mas você tem que fazer por você, não adianta você querer se esconder achando que aquilo vai fazer com que você venha a se sentir bem. Hoje eu vou no CAPS para orientar as pessoas, não que eu me sinta melhor que ninguém, mas hoje eu me sinto uma pessoa bem.
(En)Cena: Qual o significado que esse evento tem para você?
Valdenir: Quando fala em dependência química eu gosto de participar porque tem muita gente que perdeu esperança, muitas famílias que perderam esperança nos filhos, no marido. A minha mulher esperou durante vinte anos e tem muita gente que perguntou como ela aguentou. Eu digo para perguntar para ela. Mas o que eu dei para a minha mulher de loucura, de perca, hoje eu dou de vida. Hoje eu tento abraçar ela da melhor forma, não fisicamente, mas da melhor forma que eu posso e dar o carinho, a atenção que eu não dei esse tempo todo. Uma pessoa que me ajudou o tempo todo. Eu me emociono porque ela realmente me ajudou. Ela nunca falou não adianta mais para ti. Ela sempre me deu uma palavra de apoio. E graças a Deus me sinto uma pessoa bem hoje. Tenho sentimentos no meu coração. Isso aqui é vida, resumindo. Talvez você não veja assim, mas eu vejo, isso aqui é vida, uma palavra de esperança para quem está realmente buscando. Tem muitos que querem ficar nessa vida, da dependência. Mas tem muita gente que está cansada de sofrer. Desce numa ponte dessa aí que você vai ver. Tem pessoas lá que estão desesperadas, estão gritando pedindo socorro e a voz não sai mais. Só no olhar você vê que a pessoa está buscando ajuda e não sabe onde. Então isso aqui é uma família. Um depoimento, uma palavra, ela vem mudar realmente o conceito da dependência química.
(En)Cena: O que o serviço de saúde mental representa para você?
Valdenir: O serviço de saúde mental está aí para tentar ajudar quem realmente quer. E é o que eu falei, o trabalho vem para trazer uma esperança de mudança de caráter, de vida. E tem muita coisa, talvez no momento assim a gente não saiba expressar. Mas esse trabalho é uma esperança de mudança de vida. Acabou o hospital psiquiátrico onde o pessoal recebia choque, ninguém tinha uma conversa que nem tem agora. Então eu acho que a saúde mental vem trazer uma mudança de pensamento para cada um, para as pessoas entenderem que o dependente é uma pessoa como qualquer outra, que tem solução para ele. Para mim deu certo esse trabalho da saúde mental e creio que dá para muita gente. O serviço está aí de portas abertas.
(En)Cena: O que os profissionais envolvidos nesses dispositivos significam para você?
Valdenir: Quando fala de funcionários a gente sabe que cada um corre atrás do que quer. Então as pessoas que estão trabalhando com a saúde mental, tem muita gente que realmente vestiram a camisa, muita gente que pensa no financeiro, mas muitos buscam realmente ajudar as pessoas, trabalha realmente com essa intenção. Muita gente que eu conheci, como a doutora Camila, a Natasha, que eu conheci o trabalho e realmente me ajudaram muito. Sei que a doutora Camila é alguém que realmente veste a camisa. Quando ela saiu do CAPS AD III ela fez muita falta. Hoje acho que ela está fazendo um trabalho no CAPS II, mas ela é uma pessoa que realmente abraça, ela dá esperança para a pessoa e todas as vezes que eu chegava no CAPS, as vezes de madrugada, batia lá desesperado e o pessoal atendia, eu entrava, alguém me dava medicação. Ela me ajudou muito e ajuda muita gente. Então a doutora Camila é uma pessoa que merece parabéns. Talvez ela não saiba como estou, nunca mais me viu, mas sempre estou orando por ela e por muitos profissionais que realmente vestem a camisa e ajudam as pessoas. Eu falo do CAPS de coração aberto e também não posso deixar de falar de Deus. Foi ele que me deu forças para trilhar esse caminho. O CAPS me ajudou, me incentivou nessa caminhada, mas Deus foi o protagonista que me deu esperança de mudança.