O psicólogo Jonatha Nunes fala do Dia Nacional da Luta Antimanicomial

No dia 18 de maio ocorreu no Parque Cesamar, em Palmas/TO a comemoração pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial. O evento contou com piquenique, rodas de conversa, sarau musical, testagem rápida e aconselhamento e estava na programação entre outros eventos que ocorreram durante o mês de maio em celebração a data. Essa programação foi elaborada por um coletivo de usuários, trabalhadores e gestores de Palmas.

Dentre eles está Jonatha Rospide Nunes, graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2003), com práticas nas ênfases de Psicologia Clínica e Comunitária. Mestre pelo Programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (2010), tendo como tema de pesquisa a execução de políticas sociais direcionadas à garantia de direitos de crianças e adolescentes em situação de rua. Experiência profissional na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Educacional no Ensino Superior (ensino, pesquisa e extensão) e Clínico-Institucional (consultório particular, matriciamento em álcool e outras drogas e supervisão clínico-institucional). Tutor do Programa de Saúde Mental do Programa Integrado de Residência Multiprofissional de Palmas/TO, supervisor da equipe de Consultório na Rua do Município de Palmas. Membro do Colegiado Gestor do Conselho Regional de Psicologia do Tocantins, com participação na Comissão de Direitos Humanos e Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas.

O (En)Cena entrevistou Jonatha, que fala que a despeito da condição de saúde, todas as pessoas têm os mesmos direitos.

(En)Cena: Qual o objetivo do encontro de hoje?

Jonatha: O objetivo de hoje é comemorar a luta antimanicomial, a garantia de direito para as pessoas que tem transtorno mental, para elas terem direito como qualquer outra pessoa, a ser cidadãs. Então é comemorar, é a gente sair do modelo do manicômio e ir para o modelo dos serviços substitutivos de garantia de direito para essas pessoas.

(En)Cena: O evento está ocorrendo durante todo o mês, mas que atividades estão sendo realizadas no dia de hoje?

Jonatha: Hoje na verdade a gente está fazendo as atividades aqui no Parque Cesamar porque hoje é o dia da luta. Dia 18 de maio de 1987 foi o primeiro encontro de vários movimentos da saúde e onde se iniciou a proposta de um modelo psiquiátrico alternativo ao manicômio. Então esse encontro de hoje ele vem para a gente comemorar e celebrar essa data. Para isso a gente juntou vários serviços aqui: o Palmas que te Acolhe, o Consultório na Rua, a Fundação da Juventude, a Fundação Escola de Saúde Pública, o Centro de Saúde da Comunidade, tem também o pessoal da vigilância, da Secretaria Municipal de Saúde, os residentes da Residência Multiprofissional, com o intuito de confraternizar junto com os usuários e familiares esse momento que para nós é um momento importantíssimo, de garantir direitos para essas pessoas.

(En)Cena: O que ainda precisamos alcançar em relação à saúde mental e à luta antimanicomial?

Jonatha: Se formos pensar em termos mais amplos, seria essa dimensão cultural, pois ainda temos muitos preconceitos culturais em relação ao transtorno mental, ao sofrimento psíquico, enfim, em relação à saúde mental. As pessoas que fazem tratamento psicológico ou psiquiátrico não falam para ninguém, porque isso traz preconceito, as pessoas acham que o fazem porque são loucos, desequilibrados. E na verdade qualquer um de nós pode em algum momento da vida ter algum tipo de transtorno ou sofrimento psíquico. Então acho que a maior batalha que a gente tem atualmente é essa mudança na cultura, porque se a gente tiver essa mudança na cultura, não vamos ficar tão fragilizados à essas mudanças de governo, como aconteceu agora. Muda o governo, aí começa a interferir na política, começa a modificar. Tendo essa mudança na cultura a gente fica forte e não fica tão vulnerável a esses governos aventureiros que vem por aí, como esse atual.

(En)Cena: Há algumas exposições no evento realizadas pelos usuários. Como foi o processo de construção e qual o significado disso para eles?

Jonatha: Temos ali vários produtos dos grupos do CAPS, então temos ali os cordéis que o pessoal fez, temos ali as fotografias do cotidiano no CAPS, algumas fotografias foram eles que fizeram, outras foram os profissionais. Temos a atividade que eles fizeram das caixas de remédios em que eles mudaram as tarjetas e colocaram outras ideias. E os panos que eles pintaram, em que a ideia era o que a luta antimanicomial significa para eles. Então tem um coração, um símbolo do Yin Yang que é o que representa para eles. Tudo isso foi preparando para esse momento aqui. Teve um conjunto de atividades que foram anteriores a esse momento.

(En)Cena: Quais as principais dificuldades que vocês encontraram para conseguir fazer esse evento todo durante o mês?

Jonatha: As principais dificuldades é a participação dos profissionais, dos trabalhadores, dos usuários. O pessoal participar nesse tipo de atividade não é uma coisa comum e isso também está na cultura e modificarmos essa cultura não é fácil. Mas em Palmas a gente já tem um movimento há tempos, então é mais difícil conseguirmos operacionalizar coisas concretas como ônibus, comida do que conseguirmos mobilizar as pessoas, que são os trabalhadores, profissionais e usuários, porque elas já são mobilizadas, já entendem o sentido desse movimento e desse tipo de ação.

(En)Cena: Você tem alguma mensagem para aqueles que não compreendem o movimento?

Jonatha: O que eu diria para a sociedade é que é preciso se dar conta de que não é porque as pessoas são diferentes ou porque tem algum tipo de problema, algum tipo de sofrimento que elas não tenham valor, não tenham dignidade ou não tenham direitos como qualquer outra pessoa. Acho que estamos num momento muito dicotômico, ou tu é contra ou é a favor, ou tu é bom ou tu é ruim e precisamos entender que isso é muito simplista, na verdade existe uma complexidade, existe uma multiplicidade de possibilidades. Se a gente fica só nos extremos a gente fica muito limitado. Eu posso ser bom e ruim ao mesmo tempo. Então o que eu diria para as pessoas é isso, a despeito da condição de saúde, todas as pessoas têm os mesmos direitos. Isso é fundamental e é um marco civilizatório para a sociedade.