Zootopia e o contrato social

Com uma indicação ao OSCAR:

Melhor Animação

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Com lançamento em março de 2016, Zootopia – Essa cidade é o bicho, traz uma proposta interessante para os fãs de animação e, também, para os estudiosos sociais, mais especificamente para os da corrente contratualista de Thomas Hobbes. Dentre muitos outros aspectos a serem observados, o filme mostra certa comparação entre o antes e o depois do contrato social e os seus efeitos para as sociedades, de acordo com o pensamento de Hobbes e sua obra “O Leviatã”.

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Zootopia é uma cidade utópica, onde diversos animais (presas e predadores) convivem em perfeita harmonia, cada um com suas tarefas predeterminadas já no berço. Dentre eles, está Judy, uma coelha nascida no interior, de pais agricultores de cenouras, esses com o pensamento nada além de sua plantação. Entretanto, Judy não deseja seguir os passos dos pais. Mesmo sabendo que, por padrão, a tarefa dela é plantar cenouras a vida toda, seu maior sonho é se tornar policial e trazer o bem e afastar o mal de todos.

Movida por esse sonho, Judy sai do interior e vai para Zootopia, entrando para a academia de polícia, onde ela aparentava ser a mais pequena e frágil de todos. Logo, ela descobre que um mistério está rondando a cidade, pois vários desaparecimentos de animais predadores já haviam ocorrido. Intentando fazer parte da investigação desse mistério, Judy é frustrada ao descobrir que sua função será de guarda de trânsito, por ser vista por todos como fofinha. Mesmo insatisfeita, ela passa a executar sua tarefa, de forma a demonstrar sua real capacidade.

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Segundo Hobbes (1651 apud Sales, 2015), “(…) o objetivo da Filosofia não seria atingir uma verdade, mas criar condições para que se estabeleça a paz entre os homens, ou seja, para a superação do estado de natureza. Uma concepção utilitarista, visto que a ação humana seria um movimento que busca o que agrada e se afasta do que desagrada“. Desse modo, Zootopia se encaixa na ideia de Hobbes ao tentar superar o estado de natureza de cada animal ali presente, uma vez que esse estado coloca certa rivalidade entre eles, ditada pela lei da sobrevivência, em que vence o mais forte. Saindo desse estado, a paz é alcançada, porém, regras são impostas, nesse caso, os animais são categorizados por funções, caracterizando a sociedade utilitarista descrita pelo autor.

Assim, é feito o contrato social de Zootopia, que para Hobbes (1651 apud Sousa, 2011), “instituiria o Estado, mas sem destruições, e sim, com a força igual em instrumento para resolver os anseios da sociedade”. Todavia, a cidade harmônica dos animais agora se depara com algo que não está no contrato (desaparecimento dos predadores) e não possui um protocolo para solucionar problemas como esse de imediato.

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Esse contrato, como o termo pressupõe, é um acordo feito entre os indivíduos para a formação do Estado, e quando desrespeitado, surgem conflitos. Como se perceberá na parte final do filme, em que o mistério fora solucionado, houve esse desrespeito, trazendo conflitos e anseios para toda a sociedade. Dessa forma, houve retrocesso, mesmo que momentaneamente, para o estado de natureza, pois, “(…) a insegurança em relação à possibilidade de uma atitude hostil leva ao ataque, seja para vencer o outro ou como meio para se defender de uma possível agressão. Está declarada a guerra de todos contra todos” (HOBBES, 1651 apud SALES, 2015).

Para Hobbes (apud Sales, 2015):

Se liberdade é definida como ausência de impedimentos externos para a ação do indivíduo, o contrato e a passagem para o estado de sociedade implicam em uma privação da liberdade, justificada pela necessidade de garantir a sobrevivência de todos. Não há mais direito natural, mas direito positivo, ou seja, criado pelos homens em uma situação específica.

Com o caos instalado, algo precisa ser feito, e Judy enxerga isso. Para garantir a sobrevivência de todos, ela combate “fogo contra fogo”. Ou seja, se abstém do direito positivo e usa do direito natural, uma vez que deixa de lado as regras e padrões impostos, no caso, deixa sua função de guarda de trânsito e passa a investigar o mistério até solucioná-lo e trazer a paz de volta para Zootopia, sendo reconhecida e valorizada, não mais vista apenas como uma “coelhinha fofinha”, tornando-se a policial que sempre sonhou em ser.

"Deixe comigo! Policial Hopps em perseguição!"
“Deixe comigo! Policial Hopps em perseguição!”

REFERÊNCIAS:

SALES, C. H. R. Aula 19 – O contratualismo – Thomas Hobbes. SlideShare, 27 de out. de 2015. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/profhenrysales/aula-19-o-contratualismo-thomas-hobbes>. Acesso em: 15 fev. 2017.

SOUSA, F. C. N. A teoria de Thomas Hobbes sobre o estado “contratualista”. Artigos, 10 de abr. de 2011. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/a-teoria-de-thomas-hobbes-sobre-o-estado-contratualista/54075/>. Acesso em: 15 fev. 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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ZOOTOPIA – ESSA CIDADE É O BICHO

Diretores: Byron Howard e Rich Moore
Elenco (vozes): Ginnifer Goodwin, Jason Bateman, Idris Elba, Jenny Slate
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: Livre